CONTROLE

LaLiga quer combater Gatonet

A liga de futebol espanhola é poderosa, mas é páreo para a TV pirata brasileira?

26 de fevereiro de 2025 - 10:32
Anda vendo GatoNet? A LaLiga quer te pegar. Foto: Depositphotos.

Anda vendo GatoNet? A LaLiga quer te pegar. Foto: Depositphotos.

A LaLiga, dona dos direitos da primeira e segunda divisão do futebol espanhol, acaba de unir ao Núcleo Antifraude da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura), o que indica a intenção da entidade de combater a TV pirata no Brasil, a famosa Gatonet. 

Em nota, a LaLiga fala do seu “compromisso com a proteção dos direitos de transmissão em um mercado-chave como o Brasil”, onde a pirataria representa “uma das maiores ameaças para a indústria do entretenimento”.

O texto fala ainda de “trabalho em conjunto” com a Anatel, o Ministério da Justiça e a área de segurança pública em coisas como bloqueio de conteúdo ilegal, com desativação de domínios piratas e bloqueio dinâmico de endereços IP em tempo real.

A LaLiga também deve ajudar a Operação 404, que vem fechando sites de pirataria, aprendendo equipamentos e prendendo piratas pelo país.

Mas afinal, o que os espanhois vão fazer na prática? O texto fala em “colaboração tecnológica”, com promoção de “ferramentas avançadas” para identificar e eliminar transmissões ilegais. 

Dito assim, parece só blablabla, mas a verdade é que a LaLiga é capaz de fazer coisas muito sofisticadas para combater a pirataria. 

Em 2019, foi revelado que o aplicativo oficial da organização era usado para espionar bares na Espanha que estavam passando jogos sem pagar os direitos de uso.

O app foi baixado por mais de quatro milhões de pessoas e tinha uma funcionalidade que permitia a La Liga ligar o microfone. 

Cruzando o áudio obtido com a localização do dispositivo, era possível saber se o usuário estava em um bar que estava transmitindo uma partida sem pagar a taxa da La Liga para transmissões públicas. 

A entidade recebeu uma multa de € 250 mil dos órgãos de proteção à privacidade do governo espanhol.

No Brasil, o potencial de atuação é grande. Segundo um estudo divulgado pela LaLiga, 67% dos consumidores brasileiros admitem ter utilizado plataformas ilegais pelo menos uma vez por mês para assistir a esportes ao vivo. 

É fácil ver o prejuízo que isso causa para a LaLiga, que vendeu os direitos exclusivos de transmissão no país em 2020 para os canais ESPN, disponíveis na TV por assinatura, e também pelo serviço de streaming Star+. 

Se a LaLiga decidiu se envolver agora com a ABTA, é sinal que os espanhois acham que a cooperação podem ter um efeito no mercado brasileiro. 

“O apoio de uma organização de alcance mundial como a LaLiga é um reconhecimento aos avanços que tornaram o Brasil uma referência internacional no combate à pirataria audiovisual, graças à cooperação público-privada”, afirma Oscar Simões, presidente da ABTA.

A  LaLiga defende com unhas e dentes a receita da venda de direitos de transmissão do futebol espanhol, o que é hoje um negócio global. 

Na temporada 2023-2024, a LaLiga superou a barreira de € 2 bilhões em receitas, quase tudo em direitos de transmissão, que bateram em € 1,85 bilhão.

O problema é que esse tipo de receita só cresceu em 1,7%, principalmente por meio da entrada em novos mercados nas Américas e na Ásia.

Esses novos contratos agregaram parcos € 87 milhões, de repente tem gente demais vendo jogo no Gatonet ou naquele site de streaming.