GESTAO

A relevância atual do DesignOps

Ela vive nas empresas e se alimenta da complexidade dos times de design.

15 de julho de 2024 - 10:05
Victor Zanini Foto: Divulgação

Victor Zanini Foto: Divulgação

DesignOps (Design Operations) tornou-se relevante no cenário atual por diversas razões. A crescente complexidade na gestão de times de Design, bem como a escala dos processos influenciaram e contribuíram para a sua relevância. 

Neste texto, originalmente publicado no meu livro "Além do Design", vou explorar sobre como é necessário desenvolver estratégias e processos que garantem eficiência e qualidade de trabalho por meio de times de DesignOps, além é claro, de falar sobre a relevância atual da disciplina. 

O crescente número de posições dedicadas, cursos especializados e publicações sobre DesignOps, não só demonstram a relevância atual da disciplina em ambientes de times de Design, mas também ressalta a sua posição central na condução da excelência operacional. 

Destaco três fatores que o tornam ainda mais relevante nos dias atuais:

  • Visão estratégica: O Design deixou de ser apenas uma função estética e agora é reconhecido como uma disciplina estratégica, crucial para direcionar e influenciar decisões de negócios;

  • Escala do Design: À medida que as empresas crescem e expandem, o Design inevitavelmente cresce junto. Isso significa que não apenas os times desta área estão se expandindo, mas o próprio escopo do Design está se tornando mais abrangente;

  • Complexidade processual: Com o crescimento e expansão, vem a complexidade. O escopo de atuação das pessoas está mais amplo e os processos de Design, que antes podiam ser simplificados, agora exigem mais estrutura e organização.

Design como disciplina estratégica

Ao refletirmos sobre a evolução da disciplina de Design nos últimos anos, fica evidente que houve um crescimento expressivo na demanda por líderes neste setor e, por extensão, em posições de direção. Este crescimento não só reflete a crescente maturidade do Design nas organizações, mas também evidencia o seu reconhecimento na tomada de decisões estratégicas das empresas. Esta transformação mostra que o Design deixou de ser visto somente como uma disciplina de "estética" e se tornou valorizado como um facilitador para impulsionar negócios.

Tomando como referência os níveis de maturidade em User Experience (UX) propostos pelo Nielsen Norman Group, empresa estadunidense de consultoria em interface e experiência do usuário, percebemos que o estágio mais avançado é denominado “orientado ao usuário". Neste estágio, as organizações não apenas reconhecem a importância do UX para seus negócios, mas também são comprometidas com pesquisas frequentes junto a estas pessoas, refletindo uma profunda compreensão de suas necessidades e aspirações. Em outras palavras, há um reconhecimento cada vez maior da relevância da experiência do usuário no atual cenário organizacional e, com isto, a maturidade de Design foi crescendo e a disciplina passou a atuar no campo da estratégia.

Com o Design se tornando um pilar estratégico, existe uma intersecção maior com outras áreas da empresa. Isso exige uma abordagem mais integrada e um time altamente focado no “como” fazer. Os processos burocráticos devem ser deixados de lado a fim de se obter velocidade nas entregas. Nesse cenário, emerge um terreno propício para a atuação de times de DesignOps, contribuindo para a sustentabilidade e eficiência das equipes de Design. 

Em resumo, a disciplina ultrapassou sua concepção original, solidificando-se como um elemento-chave na estratégia e implementação de negócios contemporâneos. Por consequência, a presença de um time de DesOps tornou-se crucial para garantir organização, expansão e escalabilidade.

Times de Design estão crescendo

À medida que a disciplina ganha relevância dentro da empresa, é natural novas posições surgirem para atender à demanda, resultando no crescimento do time. Este é um cenário comum, esperado e muitas vezes — quando feito de forma pensada — controlado.

Entretanto, o que pode acontecer é outros times crescerem e forçarem o crescimento de Design. Pressionados a expandir rapidamente para as novas necessidades, sem uma estrutura organizacional clara e sem um plano de ação bem definido para a formação da equipe, pode ocorrer uma série de complicações. 

No meu segundo livro (Designer & Líder), abordei esta temática, e em todas as palestras, seminários e aulas que dou, faço questão de reiterar: os problemas crescem e escalam conforme o time cresce. Um time grande não é, por si só, um indicativo de sucesso, mas frequentemente um prenúncio de problemas subjacentes que precisam ser enfrentados e resolvidos.

O escopo está se tornando mais abrangente

Não só os times de Design estão ficando maiores e complexos de serem gerenciados, como o escopo de Design está se tornando mais abrangente, exigindo também uma definição mais clara do próprio significado do que é Design. Podemos perceber esta evolução nas constantes mudanças e discussões sobre nomenclaturas da profissão. 

Nos tempos antigos (se é que podemos chamar assim) éramos chamados de "Arquitetos da Informação". A profissão se expandiu e diversificou para abranger especializações como UX Designer (Designer de Experiência do Usuário), UI Designer (Designer de Interface do Usuário), até a mais recente nomenclatura de Product Designer (Designer de Produto). Esta expansão e redefinição contínua busca explicar a abrangência de escopo e demarcar a atuação da pessoa profissional de Design em meio às rápidas transformações da tecnologia.

Este aumento de escopo trouxe junto das novas nomenclaturas novos processos e formas de fazer Design. Com isso, os profissionais da área estão diante de responsabilidades ampliadas e uma crescente diversidade de processos que enriquecem a prática:

  • Pesquisas: Embora a pesquisa sempre tenha sido uma parte do design, o foco intensificado no usuário levou a abordagens mais aprofundadas e empáticas, como entrevistas, testes de usabilidade e jornadas do usuário. Com o aumento de times e a busca pela eficiência, vemos mais designers fazendo pesquisa, enquanto profissionais especialistas em UX Research estão atuando principalmente nos processos e métodos e realizando pesquisas que demandam maior atenção e/ou estão mais próximas da estratégia da empresa;

  • Prototipação: Não podemos dizer que foi um aumento de escopo, afinal, prototipação e wireframes estão na atuação de designers desde sempre. Entretanto, o surgimento de novas ferramentas gera novos processos de aprendizagem e adaptação. Além disso, muitas ferramentas estão evoluindo em rápida velocidade, fazendo com que as pessoas não acompanhem e necessitem de treinamentos e ajuda para otimizar o fluxo de trabalho;

  • Sistemas de Design: A busca por consistência nas interfaces e experiências levou à formulação de sistemas de Design (Design System). Esta necessidade criou novos processos e novas maneiras de desenhar uma interface resultando em novas adaptações no modo de fazer Design (consequentemente um aumento no escopo);

  • Textos e Conteúdos: A qualidade do conteúdo textual em uma interface tornou-se um pilar da usabilidade. Afinal de contas, a escrita representa grande parte do entendimento e, por consequência, da experiência dos usuários. Como resultado, espera-se que os designers também sejam proficientes em redação de interface. Adeus Lorem Ipsum!

  • Design Inclusivo: Mesmo acreditando que todo design deveria ser, por natureza, acessível e inclusivo, é importante dizer que as conversas sobre a responsabilidade ética dos designers ganharam destaque. Isso levou a uma maior ênfase em acessibilidade, que busca garantir produtos que sejam acessíveis a todas as pessoas;

  • Análise de Dados: Com a crescente importância dos dados, designers agora incorporam análises e métricas para informar suas decisões, tornando o Design mais orientado a resultados e alinhado aos objetivos de negócios.

Design mais estratégico

Sabemos que a expansão do escopo do Design trouxe uma série de novas responsabilidades e oportunidades para profissionais da área. Com isso, fez-se necessário otimizar os processos, melhorar o fluxo de trabalho e ampliar a eficiência do time para ganhar velocidade e qualidade de entrega. Quando analisamos essas mudanças, vemos que se assemelha a um efeito dominó: o Design passa a ser mais estratégico, os times aumentam e os processos ficam mais complexos. Este cenário é, por um lado, animador, pois marca a transição do Design de uma função operacional para uma estratégia central nas empresas. No entanto, com o aumento da equipe e a introdução de processos mais robustos, surgem também desafios relacionados à eficiência e à manutenção da qualidade.

Portanto, enquanto celebramos o reconhecimento e a ascensão do Design no mundo corporativo, é preciso abordar a complexidade emergente de maneira proativa. Precisamos garantir que, à medida que as equipes de Design crescem, os processos permaneçam ágeis e as entregas mantenham a qualidade esperada, e é por isso que DesignOps é extremamente relevante nos dias atuais!  

*Por Victor Zanini, professor das disciplinas de Design Ops, Design System e Liderança, com atuação na PUC Minas.