EDUCAÇÃO

Cogna desenvolve tutor com IA generativa

Companhia usou principalmente o GPT, mas combinou modelos como o Claude e o Gemini.

02 de dezembro de 2025 - 08:10
Tyagi Lima, sócio e diretor de plataformas de aprendizagem digital da Cogna.

Tyagi Lima, sócio e diretor de plataformas de aprendizagem digital da Cogna.

A Cogna Educação, dona das marcas Cogna, Kroton, Saber e Somos, desenvolveu um tutor virtual utilizando o GPT da OpenAI e Microsoft como o principal modelo de linguagem em grande escala (LLM, na sigla em inglês).

No projeto batizado de Edu, a companhia também utilizou modelos como o Claude, da Anthropic, e o Gemini, da Google, por meio do Amazon Bedrock, um serviço gerenciado da Amazon Web Services (AWS) que oferece acesso a LLMs por meio de uma única API.

Tyagi Lima, sócio e diretor de plataformas de aprendizagem digital da Cogna, conta que o GPT foi o primeiro modelo a ser disponibilizado dentro da nuvem da Microsoft, quando a Cogna já tinha uma relação forte com a empresa. 

“Pelo menos nos produtos principais, sempre embarcamos com o GPT. Aparentemente foi uma decisão correta lá atrás, porque eles têm os melhores benchmarks e, no final das contas, virou commodity. Só que, como temos um modelo federado, deixamos para as pontas decidirem quais modelos eles usam”, acrescenta Lima.

O diretor ressalta, no entanto, que nenhuma das áreas de desenvolvimento chama o modelo direto para a API do cloud provider.

“Nós usamos outras plataformas, mas sempre passando por uma camada de gateway. Eles podem usar o Claude, mas tem que ser dentro do nosso gateway para sabermos tudo que está passando pelas mensagens. Não mandamos diretamente para o OpenAI, elas passam para a nossa nuvem na Microsoft. Não mandamos direto para a Antrophic, passam pela nossa infraestrutura de AWS”, explica Lima.

De acordo com o executivo, a preocupação foi disponibilizar uma inteligência artificial que não alucinasse e usasse o próprio conhecimento da Cogna. 

Para isso, a empresa utilizou uma arquitetura de Geração Aumentada por Recuperação (RAG, na sigla em inglês), um padrão que conecta um LLM (que tem conhecimento vasto, mas genérico) a uma base de dados (neste caso, a da Cogna), garantindo que a resposta gerada seja precisa, atualizada e baseada em fontes verificáveis.

“A gente usa os modelos muito como uma forma de linguagem natural, não usamos o conhecimento deles. Então, se o aluno faz uma pergunta sobre limite ou derivada, eu não vou depender do conhecimento do modelo para responder o aluno, eu restrinjo o conhecimento da conversação dentro dos nossos conteúdos acadêmicos”, explica Lima. 

Se um aluno de Engenharia Civil, por exemplo, utilizar a ferramenta, ele terá acesso somente aos conteúdos das disciplinas a que ele está exposto como aluno. Para isso, os modelos são usados no entendimento do contexto e para saber qual conteúdo será usado. 

“Isso garante que eu tenha bastante correlação com o que eu estou ensinando. Não faz muito sentido o aluno perguntar sobre algo que está no meu conteúdo e eu ensinar de uma outra forma. Temos essa camada inicial para garantir que seja o nosso conteúdo e, depois, vários guardrails para não deixar chegar nos alunos aquilo que passar”, detalha Lima.

Inicialmente, o Edu foi implantado na parte dos exercícios que o aluno faz no final da semana. Neste caso, aqueles que iriam tirar notas ruins conseguiram subir para notas médias ou altas. A melhora observada foi, em média, de sete pontos percentuais.

À medida que o time da Cogna foi entendendo como a tecnologia funcionava, como ganhava escala e, principalmente, a questão de custo, a solução foi sendo colocada em outras jornadas. No semestre passado, a ferramenta foi colocada dentro dos vídeos.

“Hoje, o aluno está assistindo a um vídeo e pode pausar a qualquer momento para fazer uma pergunta sobre o conteúdo em questão. É possível resumir o vídeo ou entender sobre o gráfico que tá na lousa, por exemplo. O Edu não dá resposta, ele ajuda o aluno a chegar na resposta”, detalha Lima.

Agora, o assistente já está disponível na jornada inteira de 300 mil alunos da Cogna no ensino superior a distância, desde o momento de estudo por vídeos e textos até os exercícios de fim de unidade, onde eles se preparam para a prova.

“A ideia do nosso tutor é trabalhar como um agente pedagógico, de uma forma socrática e elevando o nível cognitivo da conversa, fazendo provocações. A gente utilizou todo o nosso conhecimento, temos todo um batalhão de time acadêmico e colocamos muito do nosso jeito de ensinar dentro desse agente”, afirma Lima. 

Além dos resultados acadêmicos, a Cogna tem observado a queda das taxas de evasão e o aumento do engajamento dos alunos, que já está batendo 15%, número acima do maior benchmark no mercado, que registra um engajamento entre 10% e 13%. 

No total, a companhia soma mais de 120 projetos de IA em andamento, com 820 horas de dedicação e mais de 85 eventos acompanhados desde 2023.

Com mais de 50 anos de atuação, a Cogna é dividida em unidades de negócio: Kroton (focada no ensino superior e medicina, com marcas como a Anhanguera e Unopar), Vasta Educação (atendendo escolas parceiras com sistemas de ensino) e Saber (soluções e serviços de educação, incluindo idiomas como a Red Balloon).

A companhia, que atende mais de 24 milhões de alunos de todo o Brasil, encerrou 2024 registrando uma expansão de 10,5% na sua base de alunos e uma receita líquida consolidada de R$ 6,4 bilhões no ano.