Grandes empresas adotam conteúdo para chegar ao consumidor

Produzir o próprio programa de televisão, de rádio ou fazer uma revista e inserir a mensagem publicitária de um produto ou serviço de forma quase subliminar, é uma tendência que começa a ganhar força no Brasil.
03 de março de 2006 - 10:24
Produzir o próprio programa de televisão, de rádio ou fazer uma revista e inserir a mensagem publicitária de um produto ou serviço de forma quase subliminar, é uma tendência que começa a ganhar força no Brasil. Algumas agências de publicidade já estão inclusive abrindo departamentos para criar conteúdo com a mensagem publicitária de seus clientes embutida - a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos há cerca de três anos.

Um bom exemplo de como funciona essa nova forma de propaganda é o trabalho desenvolvido pela agência NBS, do Rio de Janeiro, para a operadora de telefonia celular Oi, do Grupo Telemar. Além de uma revista com o nome da operadora, há programas de rádio e de televisão - como o "Oi pelo mundo", exibido pelo canal de TV por assinatura GNT e o "Caminhos da Aventura", de esportes radicais, exibido pela TV Globo.

"Está cada vez mais difícil captar a atenção do consumidor com a publicidade tradicional e essa nova fórmula é indispensável para passar a sua mensagem num momento em que ele está realmente prestando atenção no que está vendo", diz o diretor de marketing do Grupo Telemar, Alberto Blanco, em entrevista para o Valor Econômico.

E o conteúdo criado para a operadora passa várias mensagens. Em programas como o de turismo ou o de esporte radicais, dirigidos a jovens das classes A e B, não é difícil ver os apresentadores explicando como tirar fotos ou fazer uma ligação internacional a partir de um celular da Oi. A mensagem tem caráter didático e não publicitário. "Caso contrário, o programa fica com cara de propaganda e não é essa a intenção", diz Blanco.

Ao criar sua nova agência de publicidade no início deste ano, a Matos Grey, Silvio Matos dividiu a empresa em três áreas, a de publicidade tradicional, a de consultoria e uma divisão para criar o que os publicitários chamam de conteúdo. "Não gosto desse nome porque pressupõe que vamos fazer algo que compete a jornalistas", afirma o publicitário Nizan Guanaes.

Ele é um dos entusiastas da idéia e vem estudando criar um departamento em sua agência, a Africa, onde a área deve ganhar o nome de 'entretenimento'. "Quero ver o que as outras agências estão fazendo nessa área para evitar os erros e copiar os acertos".

Recém-criada, a Matos Grey, agência de publicidade de Silvio Matos em parceria com o grupo WPP, já nasceu com um departamento de conteúdo e deve apresentar em breve seu primeiro trabalho nessa área.

Segundo Marcos Lacerda, vice-presidente geral da agência, a próxima novela a ser lançada pela Rede Record terá concursos para escolher entre os telespectadores um figurante por semana para participar da trama. "Já pensou a repercussão junto à família e amigos dos escolhidos?".

Além do concurso, diz Lacerda, será criado um blog para o personagem principal da novela e os telespectadores serão convidados a palpitar sobre o destino de um personagem secundário. "Interatividade é o nome do jogo", diz Aloísio Falcão Filho, contratado pela Matos Grey para dirigir a divisão de conteúdos da agência.

Alexandre Gama, presidente da agência Neogama/BBH é menos efusivo com a 'novidade'. "Até porque não há novidade nenhuma nessa técnica. Nós fazemos isso há pelos menos três anos, como a revista da Audi".

Gama diz que mais dois programas estão saindo do forno e serão apresentados ainda na primeira quinzena deste mês a clientes da agência e emissoras de TV. "É uma forma mais elevada de relacionamento com o consumidor do que a relação de compra e venda", diz.