RUMOS

Neogrid começou a dar a volta por cima?

Empresa de supply chain divulga lucro, mas a receita ainda patina.

06 de novembro de 2025 - 07:22
Nicolas Simone.

Nicolas Simone.

A Neogrid, um dos grandes nomes do mercado de tecnologia brasileiro, pode ter começado a dar a volta por cima e sair de um período de turbulência que já dura anos.

Pelo menos, é a história que a empresa conta em uma nota sobre seus resultados trimestrais, no qual o destaque é o EBITDA ajustado de R$ 9,4 milhões, o melhor da empresa desde o quarto trimestre de 2021 e o equivalente a uma margem ajustada de 13,8% sobre a receita. 

O EBITDA ajustado é um indicador comum nesse tipo de divulgações e reflete o lucro operacional de uma empresa antes de juros, impostos, depreciação e amortização, corrigido para excluir efeitos pontuais ou não recorrentes.

A empresa também destacou que o caixa líquido de empréstimos, financiamentos e obrigações com as empresas adquiridas finalizou o trimestre com saldo de R$ 115,8 milhões, um crescimento de 15,1% em relação a setembro de 2024.

Tudo isso é importante porque em 2024, a Neogrid teve prejuízo de R$ 33,8 milhões.

O outro lado é que a empresa não está crescendo. A receita líquida fechou o trimestre em R$ 67,9 milhões no trimestre, uma queda de 1,1% frente ao mesmo resultado do ano anterior. No acumulado dos nove meses, a cifra é R$ 205,8 milhões, uma alta de 0,7%.

Em sua carta aos acionistas, o CEO Nicolás Simone, que assumiu a liderança da Neogrid em junho (sendo o terceiro CEO em cinco anos) vendeu os resultados como o resultado de uma reorganização interna e (adivinhe) do uso estratégico da inteligência artificial.

“Estamos construindo a Neogrid do futuro, mais simples e ágil, preparada para antecipar necessidades e entregar valor de forma contínua. A IA é um meio essencial nessa jornada, seja para automatizar processos ou aprimorar decisões e fortalecer a cadeia de consumo e abastecimento, tornando-a  cada vez mais integrada, dinâmica e orientada por dados”, disse Simone.

Uma decisão prática foi consolidar cinco unidades diferentes em duas, cada uma responsável por todo o ciclo de relacionamento, da venda ao pós‑venda. Uma das unidades foca no negócio tradicional de soluções para gestão de supply chain e outra no que a Neogrid chama de “inteligência colaborativa”, onde estão as novas ofertas baseadas em IA. 

“Essa simplificação reduziu interfaces, eliminou redundâncias e ampliou nossa capacidade de capturar sinergias e de alavancar relações com múltiplas personas dentro de um mesmo cliente, refletindo o potencial do nosso portfólio integrado”, aponta Simone.

Simone assumiu o comando da Neogrid no final de maio.

Até entao, ele era CPTO (Chief Product and Technology Officer), cargo no qual comandou todas as estruturas de Produto, Tecnologia, Dados e IA da Neogrid.

Simone, contratado pela Neogrid em 2024, é um profissional de destaque, mas nunca tinha liderado uma empresa de tecnologia. 

Ele veio da vindo da operação americana do McDonalds, na qual era vice-presidente global de Engenharia Digital de Produto. Simone também foi por um período como diretor executivo da Petrobras para a área de tecnologia e passou por cargos importantes na área de TI da Lojas Renner, Itaú e O Boticário. 

Uma aposta ousada para resolver uma turbulência que se desenrola desde que o o fundador Miguel Abuhab deixou o comando da Neogrid, em 2020, o mesmo ano no qual a empresa abriu capital na bolsa de valores. 

Era o auge do otimismo com papeis do setor de tecnologia e no começo a coisa parecia ir bem para a Neogrid.

Logo depois da abertura, em dezembro de 2020, as ações mais que dobraram de valor, chegando a R$ 1159 no topo em janeiro de 2021.

Em outubro do mesmo ano, porém, elas já valiam a metade. Foi quando Eduardo Ragasol, o executivo mexicano que sucedeu Abuhab, entregou a renúncia do cargo, um ano depois de assumir. 

Ragasol, que foi COO da Neogrid por oito meses antes de assumir, parece outra decisão heterodoxa para liderar uma empresa de tecnologia.

O executivo fez carreira na Nielsen, uma gigante na área de pesquisas de audiência, na qual trabalhou 26 anos, a maioria deles no México, mas incluindo também um período de cinco anos como country manager no Brasil.

Jean Carlo Klaumann, sucessor de Ragasol, tinha um background mais próximo da Neogrid, tendo sido vice-presidente de Digital e Ommi Commerce da Linx, a maior empresa do Brasil de software de gestão para o varejo.

Klaumann fez carreira em empresas de ERP, incluindo até uma passagem pela Datasul, fundada por Abuhab nos anos 90.

Durante a gestão de Klaumann, a Neogrid contratou a consultoria Bain&Company para fazer um novo planejamento estratégico, adotando a meta de ser um one-stop-shop de soluções comerciais para o varejo, com esforços concentrados principalmente no mercado de consumer packaged goods (CPG), aqueles de alto giro vendidos em supermercados ou farmácias. 

As ações da Neogrid valem hoje R$ 25, estando estáveis desde começo do ano.