CIÊNCIA

De onde vem o impulso de sondar o espaço?

Adam Stelzner, o engenheiro chefe por trás do sistema de aterrisagem da sonda-jipe-robô Curiosity da NASA, tem uma resposta.

25 de junho de 2013 - 16:49
Adam Stelzner e a sua criatura. Foto: UC Davis.

Adam Stelzner e a sua criatura. Foto: UC Davis.

“De onde vem o impulso de sondar o espaço?”, já se questionava Jorge Ben Jor, no clássico disco Tábua de Esmeralda, de 1974.

Adam Stelzner, o engenheiro chefe por trás do sistema de aterrisagem da sonda-jipe-robô Curiosity, que está há quase um ano em Marte, tem algumas respostas para o músico brasileiro.

O projeto, que durou 10 anos e teve um orçamento de US$ 2,5 bilhões, foi tema do keynote de Stelzner no Solid Edge University, evento da Siemens PLM que começou em Cincinatti, nos Estados Unidos, nesta terça-feira, 25.

Com seu topete de roqueiro e empolgação contagiante, Stelzner é uma espécie de garoto propaganda de uma missão na qual a NASA arriscou e usou um approach totalmente diferente no tipo de sonda e na técnica de descida na superfície de Marte, em busca de indícios de que o planeta vermelho algum dia foi capaz de abrigar vida.

“Toda a ideia radicalmente inovadora vai parecer louca em um primeiro momento. O problema é que todas as ideias loucas parecem loucas em um primeiro momento”, exemplificou o engenheiro.

A Curiosity tem o tamanho de um carro popular e pesa uma tonelada, cinco vezes mais pesada do que a sonda Spirit, enviada em 2004, e 40 vezes mais do que a Pathfinder, lançada em 1997.

Os volumes inviabilizaram a tática tradicional da agência espacial americana, baseada no uso de air bags para proteger a sonda do impacto na aterrissagem na superfície marciana.

A solução encontrada por Stelzner, batizada de Sky Crane, envolve uma sequencia de pouso que exigiu seis configurações de veículo, 76 dispositivos e 500 mil linhas de código, além do maior paraquedas supersônico já criado.

Tão basicamente como é possível explicar uma coisa dessas, a tática consiste em colocar uma cápsula em um foguete, enviar ela em uma viagem de seis meses por 567 milhões de quilômetros, atirar a mesma em diretação a marte com ajuda do paraquedas e de desaceleração por foguetes, para então, a 20 metros do solo, pousar a sonda fazendo uso de um guinaste embutido.

Talvez seja mais prático olhar o vídeo abaixo:


A meta final, atingida com sucesso em agosto do ano passado, era colocar a Curiosity numa área de 100 quilômetros quadrados dentro do que é chamada cratera de Gale, um espaço ainda pouco explorada do planeta, que tem mais ou menos a metade do tamanho da Terra.

Tudo isso para que o robô possa passear pela superfície marciana coletando informações com seus 10 instrumentos diferentes capazes de examinar pedras, solo e atmosfera, mandar as mostras de volta [o que exigirá outra missão, que ainda nem começou] e, eventualmente, provar se a vida existiu e desapareceu milhões de anos atrás em outro planeta?

Sim, mas também por outras coisas, explica Stelzner, começando a responder a interrogação de Jorge Ben Jor em Errare Humanum Est.

“Os primeiros aviões não eram uma coisa útil. Eram projetos que muitas vezes matavam os criadores”, compara o cientista americano, para quem a motivação para criar uma máquina que voe ou tentar provar a existência de vida em Marte tem a ver com os desejos profundos que movem a humanidade a inventar, a desafiar seus limites.

“As milhares de pessoas que pararam em Times Square a 1h30 da madrugada numa segunda-feira não estavam lá porque queriam saber o nivel de acidez da água que um dia existiu em Marte”, reconhece o cientista. “Eles estavam lá porque a exploração é na verdade uma pergunta sobre nós mesmos, sobre o significado do que é ser humano”.

Confira a versão de Jorge Ben Jor para o problema nesse vídeo:


 

* Maurício Renner cobre o Solid Edge University em Cincinatti a convite da Siemens PLM Software.