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Patrícia Carvalho, CEO e cofundadora da Fórum Hub (Foto: Divulgação)
Foi em uma viagem frustrada para o México durante a pandemia quando sua mala foi extraviada pela companhia aérea, que Patrícia Carvalho decidiu começar a desenvolver o projeto da Fórum Hub, plataforma que promete oferecer serviços jurídicos de maneira descomplicada e mais em conta para seus clientes.
A CEO e cofundadora conta que, no momento, se viu rodeada de famílias brasileiras passando pelo mesmo impasse em seu resort, sem nenhum auxílio.
“Eu fiz 35 ligações para as companhias aéreas que ficavam me jogando de call center em call center. Precisei falar em inglês, português e espanhol, e fiquei cinco dias sem minha mala. Vi brasileiros passando pelo mesmo problema, mas sem ter um advogado para ajudar”, relembra.
Carvalho, que foi gerente de estratégia de marca da Uber no Brasil, liderando o lançamento da companhia no país em 2014, viu uma chance de negócio em conectar potenciais candidatos para uma indenização com advogados que pudessem cuidar dos trâmites legais necessários.
“A pessoa chega na Fórum Hub se o SAC falhou, se o Reclame Aqui falhou, e se o Gov.br falhou”, brinca.
A Fórum Hub entrou em operação em fevereiro de 2022 e o site, alguns meses depois, em abril, em parceria com Alisson Santos, Chief Legal Officer (CLO) da Fórum Hub e irmão de Carvalho, responsável por auxiliá-la na recuperação de sua mala no México.
Desde então, a startup já atendeu 5 mil pessoas e soma mais de R$ 200 mil em indenizações, registrando crescimento de 25% ao mês na base de clientes, dos quais 30% são recorrentes.
Enquanto a executiva cuida das áreas de atendimento, marketing, vendas, jornada, tecnologia e produto da legaltech, seu irmão traz para a mesa sua bagagem de dez anos como advogado e estratégias para unir tecnologia ao serviço oferecido.
De acordo com Carvalho, no âmbito do direito, o desafio incluiu perfilar um marketplace composto por advogados, que precisavam ser educados para uma jornada on-line e digital de tecnologia automatizada, mantendo o core business da profissão, e clientes que procuram respostas jurídicas e agora passam a contar com uma plataforma central.
Não coincidentemente, sua nova empreitada tem um sistema similar ao da Uber. O cliente acessa a plataforma, desenvolvida internamente, relata seu caso para um expert encarregado de identificar como solucionar o problema e quais evidências precisam ser reunidas para o caso. A partir disso, é feito um match com um advogado especializado.
Nesse modelo, entretanto, ao invés de realizar um match por proximidade geográfica, a Fórum Hub escolhe o advogado que melhor se encaixa na queixa do consumidor.
Depois de conectar o usuário ao profissional, é agendada uma reunião gratuita de 30 minutos para sanar dúvidas e para avaliar se o caso terá continuidade.
Nessa etapa, os clientes fazem uma escolha amparada por números: na plataforma é possível acessar uma previsão da taxa de sucesso do caso e estimativa de indenização, para decidir se seguirá em frente ou não com o processo.
Com o início do atendimento, o cliente deposita seus documentos via aplicativo em uma plataforma automatizada para que receba seu número de processo e acompanhe semanalmente o andamento do caso até sua resolução.
Ainda, ao final do processo, o usuário pode avaliar o serviço do advogado para que a startup filtre os melhores assessores jurídicos que disponibiliza.
Atualmente, 80% do público da empresa são pessoas físicas, e o restante, pessoas jurídicas. Dentre o principal grupo, predominam as classes B, C e D, pessoas com mais de 35 anos, e mulheres, liderando com 55% dos atendimentos.
“Um honorário advocatício é 40% de um salário-mínimo, conforme a tabela da OAB. Oferecendo escala, nós conseguimos que os advogados aceitem honorários menores. No fim, a gente também conserva a autonomia financeira dos advogados da plataforma dando volume”, esclarece Carvalho.
Com cerca de 600 advogados ativos, outro diferencial da empresa é o acolhimento de profissionais iniciantes, pensando na dificuldade de ingresso no mercado de trabalho e de captar clientes próprios para criar um escritório independentemente.
“Ao se unir com a plataforma, o advogado recebe o match com o cliente e consegue se concentrar onde ele quer exercer dentro de sua atividade. Então, somos uma ótima alternativa para novos advogados, apesar de também já termos recebido pedidos de escritórios de advocacia que querem ampliar o networking e aumentar a quantidade de clientes na carteira”, relata Carvalho.
Os advogados cadastrados na plataforma recebem uma remuneração que varia entre 12% a 30% do valor dos processos, dependendo da complexidade do caso atendido. E, assim como os motoristas de Uber, conseguem escolher se aceitam ou não a “corrida” e o valor previsto.
Por áreas, o direito do consumidor está em primeiro lugar na plataforma, com 68% dos casos, seguido pelo direito familiar (16%), direito civil (7%), direito previdenciário (5%) e direito trabalhista (4%).
Os problemas são sazonais. Durante o final de 2022, a empresa trabalhou com a expectativa do crescimento da busca por auxílio jurídico decorrente de compras malsucedidas na Black Friday, em novembro; cancelamento de voos, malas extraviadas e overbookings diante do verão.
Os preços dependem do tipo de caso e, consequentemente, sua complexidade. Em casos de direito do consumidor, os valores começam em R$ 290 e incluem 30% do sucesso final da causa.
Já para o direito familiar, os casos mais simples começam em R$ 580, evoluem para R$ 1 mil em situações de complexidade média, e podem chegar até R$ 5,2 mil, em situações de separação judicial consensual.
Na área de direito previdenciário, que atende casos envolvendo aposentadoria por invalidez, auxílio-acidente, salário-maternidade e aposentadoria especial, entre outros, os valores se iniciam em R$ 290.
A modalidade ainda tem uma variável indexada em cima do montante que será resgatado, indo de quatro a oito salários.
Os atendimentos referentes ao direito civil, por sua vez, também começam em R$ 290, variando conforme sua complexidade.
Se o caso envolver direito de propriedade, por exemplo, os preços aumentam de acordo com o valor dos bens analisados e a demanda de honorários dos advogados.
Com isso, os valores oferecidos pela Fórum Hub ficam bem mais em conta do que os preços indicados pela OAB, que muitas vezes afastam pessoas de menor poder aquisitivo dos serviços de um profissional de direito.
De acordo com os parâmetros para honorários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no estado de São Paulo, uma consulta com um advogado começa em R$ 448,45, a qual tem seu valor elevado a R$ 960,96 em casos excepcionais com exame de documentos.
Já os divórcios, variam de R$ 6.503,84 a R$ 10.117,07, e assuntos relacionados ao direito trabalhista começam a R$ 1.011,70 e podem chegar até R$ 17.343,56.
Quanto às empresas atendidas, a CEO explica que são, em sua maioria, influenciadores, autores e novas agências, com foco em pessoas que estão iniciando negócios. Apesar de atender principalmente o setor B2C, Carvalho conta que a meta é avançar para o segmento B2B em breve.
“Nós não somos, por exemplo, um escritório que cobre um fee para fazer um trabalho de compliance, é muito personalizado. Nós só pegamos questões automatizáveis para cumprir uma jornada com tecnologia dentro do que é preciso”, reforça Carvalho.
Além disso, os honorários também podem variar de acordo com o horário de atendimento do cliente, seja ele pessoa física ou jurídica, especialmente se exigir auxílio 24/7.
Futuramente, o objetivo da Fórum Hub é avançar para outras áreas jurídicas, meta na qual já trabalha por meio da catalogação de seu banco de dados, para absorver novas demandas do público e estudar os próximos passos para adicioná-las ao portfólio.
No momento, também há um aplicativo em desenvolvimento, com área logada e toda a jornada dos processos, bem como estrutura para sanar dúvidas. A previsão é de que uma versão beta seja lançada em março de 2023.