
Cezar Taurion é CEO da Redcore.
O termo "Inteligência Artificial" (IA) é cientificamente impreciso e filosoficamente enganoso. Sua persistência gera expectativas irrealistas e obscurece a realidade técnica. E por que penso assim?
1) O termo erroneamente promete "Inteligência", mas oferece estatística. Os sistemas atuais de IA não compreendem, raciocinam ou criam conhecimento. São ferramentas de reconhecimento de padrões em dados, operando via modelos matemáticos, como redes neurais. Inteligência implica consciência, intencionalidade e adaptação contextual, que são ausentes nos atuais modelos de IA.
2) Confunde o público e os tomadores de decisão. O termo sugere capacidades humanas, como "máquinas sencientes e pensantes", levando a superestimação de habilidades reais, como atribuir intenção a erros de chatbots e subestimação dos riscos reais, como viéses em dados tratados como "decisões objetivas".
3) Ignora a falta de agência e autonomia. A IA não tem objetivos próprios, curiosidade ou motivação intrínseca. Toda ação é reação a inputs humanos, sendo, por exemplo, uma IA Gen apenas um sistema avançado de autocompletar, não um "agente".
4) Antropomorfiza a tecnologia. Palavras como "aprender", "entender" ou "prever" atribuem traços humanos a processos algorítmicos. Na prática, o treinamento de um modelo é diferente da aprendizagem biológica. E retropropagação não replica neuroplasticidade.
5) Ofusca os verdadeiros avanços. Focar na ficção da "inteligência" desvia atenção das conquistas reais e tangíveis que são automação de tarefas complexas, como tradução e diagnóstico médico assistido, e otimização de sistemas, como vemos em aplicações em logística e controle energético.
Bem, e em vez de IA, que poderíamos usar? Ideal seria substituir "IA" por uma linguagem que reflita a realidade operacional, como SPA (Sistemas de Predição Automatizada), que define o núcleo funcional, que é extrapolar resultados com base em dados históricos. Ou APS (Automação de Padrões Estatísticos), que destaca o reconhecimento de correlações, e não causalidade ou compreensão. E talvez SAM (Sistemas de Aprendizado de Máquina), que mantém "aprendizado" no sentido técnico (ajuste de parâmetros), mas elimina "inteligência".
Mas, "Inteligência Artificial" é um termo de marketing, não técnico. Sua adoção perpetua mal-entendidos com consequências científicas, pois prioriza hype sobre rigor metodológico, consequências éticas, mascarando responsabilidade humana em sistemas automatizados e consequências regulatórias, com legislações baseadas em falsas premissas sobre "autonomia".
Mas, como a indústria é movida pelo marketing, continuaremos a usar IA...
* Cezar Taurion é CEO da Redcore. Esse artigo foi originalmente publicado no seu Linkedin.