MOVIMENTOS

Logística define capacidade de inovar

Compra de tecnologia na área já nao é apenas uma questão de custo. 

24 de outubro de 2025 - 11:26
Vinicius Pessin, cofundador da EuEntrego.com (Foto: Divulgação)

Vinicius Pessin, cofundador da EuEntrego.com (Foto: Divulgação)

Por muito tempo, a escolha entre comprar ou assinar uma tecnologia logística foi vista apenas como custo. Hoje, essa decisão define o quanto uma empresa será capaz de inovar, integrar cadeias complexas e responder rapidamente às demandas do mercado. A licença perpétua, comparável à compra de um imóvel, oferece controle total, mas exige manutenção contínua e pode se tornar um ativo obsoleto. O modelo Software as a Service (SaaS), similar ao aluguel, reduz o investimento inicial e garante evolução constante. Já o pay-per-use adiciona flexibilidade para operações que oscilam conforme a sazonalidade. Ou seja, o modelo ideal depende menos do orçamento disponível e mais da estratégia de crescimento do negócio.

Quando uma empresa opta por comprar um software de forma definitiva, ela assume o risco de ficar presa a uma tecnologia que não acompanhará novas regulamentações, APIs ou integrações críticas. O problema não é apenas a obsolescência, mas a perda de competitividade. Na logística, onde os ciclos de inovação são curtos, investir em algo estático pode significar perder a capacidade de reagir ao mercado. Por outro lado, o modelo de assinatura não está isento de desafios. A dependência do fornecedor para atualizações e suporte exige contratos transparentes, previsibilidade de reajustes e garantias de evolução tecnológica. A velocidade de atualização compensa a dependência, desde que o SLA seja estruturado com critérios de disponibilidade mínima, tempo de resposta para incidentes e penalidades objetivas.

A previsibilidade de gastos é fator relevante, mas o que realmente pesa na decisão é a governança dos dados. De nada adianta pagar menos se a empresa não tem clareza sobre onde os dados estão armazenados ou se consegue extrair inteligência operacional com rapidez. Esse ponto se conecta ao maior motivo de frustração entre gestores logísticos: muitos contratam plataformas caras, mas continuam usando planilhas para consolidar informações. Esse sintoma revela falhas de implantação, governança e escolha inadequada de fornecedor. O modelo de contratação, por si só, não garante eficiência. O que garante é a aderência do sistema à estratégia do negócio e sua capacidade de se integrar a áreas críticas como transporte, armazenagem, compras e financeiro.

Por isso, interoperabilidade deve ser uma cláusula central em qualquer contratação. A plataforma logística não pode ser uma ilha tecnológica. É preciso garantir abertura para integrações via API, compatibilidade futura e portabilidade de dados, evitando qualquer tipo de aprisionamento digital. Do ponto de vista contratual, mecanismos de segurança cibernética, revisões periódicas, liberdade para migração e proteção contra mudanças unilaterais são essenciais para blindar a operação. Mais do que evitar riscos, essas cláusulas preservam a autonomia estratégica da empresa.

Quando falamos de retorno financeiro, a diferença entre os modelos também é clara. Na compra tradicional, o investimento inicial elevado alonga o payback, que só começa a ser percebido após anos. No modelo SaaS, o ROI costuma ser mais rápido justamente pela entrada imediata em operação e pela eliminação de grandes desembolsos iniciais. Porém, o cálculo não deve considerar apenas o valor do contrato, mas os ganhos de eficiência, rastreabilidade, redução de falhas e visibilidade de ponta a ponta. Assinatura não é custo operacional, é investimento estratégico.

A pressão para reduzir custos logísticos é permanente, mas cortar orçamento em tecnologia pode aumentar as perdas em toda a cadeia. Na prática, economizar na assinatura e aceitar uma plataforma limitada pode custar caro em retrabalho, falta de visibilidade ou perda de controle operacional. O equilíbrio está em conectar a tecnologia diretamente aos indicadores de performance logística, demonstrando impacto em produtividade e margem.

Contratar tecnologia não é uma decisão de TI, é uma decisão de futuro. Na logística, onde a previsibilidade da demanda é cada vez menor e a integração de dados se tornou vital, escolher o modelo certo define se a empresa será protagonista da inovação ou espectadora da própria obsolescência.

*Por Vinicius Pessin, cofundador da EuEntrego.com, logtech que conecta varejistas à maior rede de entregadores autônomos do Brasil.