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Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil.
O Facebook e o Instagram estariam permitindo que candidatos paguem para impulsionar publicações com fake news e ataques ao processo eleitoral brasileiro.
De acordo com um levantamento solicitado pelo O Globo ao NetLab, laboratório vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao menos 21 anúncios com desinformação sobre o tema foram autorizados pela Meta entre 26 de junho e 31 de julho.
Os dados foram levantados por meio da API da biblioteca de anúncios da companhia, que permite a captura das informações de forma automatizada.
Foram impulsionados, por exemplo, conteúdos que põem em dúvida a apuração do pleito de 2020, afirmam que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já conhecem os resultados da próxima votação e expõem teorias da conspiração sobre as urnas eletrônicas.
Até mesmo a Oracle foi citada em um anúncio conspiracionista da pré-candidata a deputada federal Tatiana Mandelli (Republicanos-BA).
Na publicação, ela cita um contrato da multinacional com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar a contagem de votos. “Como proteger nossa cidadania se uma empresa estrangeira, globalista, que pertence aos donos do mundo vai contabilizar nossos votos?”, questiona.
Vale ressaltar que a empresa forneceu ao TSE dois supercomputadores que armazenam os dados, mas quem faz a contagem dos votos é o tribunal.
A maior parte dos anúncios teria sido paga por candidatos a deputado federal ou estadual filiados a partidos como PL, Republicanos, PP, PSC e Patriota, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que tem feito ataques de teor semelhante.
O valor por anúncio variou entre R$ 100 e R$ 600 e o alcance total ficou em torno de 500 mil visualizações.
Apesar do TSE vedar que candidatos disseminem fatos “sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados” a respeito do sistema eleitoral, ainda não existe proibição específica sobre a confiabilidade das urnas, por exemplo.
A Meta também proíbe anúncios que violem as regras de desinformação, mas ataques às urnas e alegações de fraude não estão entre os itens barrados. A única forma de uma mensagem com esse teor não ser impulsionada seria reproduzir um conteúdo desmentido por checadores de fatos parceiros da empresa.
“As plataformas não querem investir em transparência nem assumir publicamente nenhum tipo de moderação de conteúdo. Elas são capazes de moderar conteúdo e o fazem rotineiramente, porém os critérios são mantidos em segredo”, afirma Rose Marie Santini, coordenadora do NetLab.
Em fevereiro, o TSE firmou um acordo com a Meta que prevê acesso à API da biblioteca de anúncios. O tribunal informou que a equipe técnica está trabalhando para implementar a medida e que não há servidores dedicados especificamente ao monitoramento de anúncios.
O Globo procurou os candidatos para comentar as alegações de fraude e ataques às urnas, mas não obteve resposta. A Meta também não quis comentar.