
Nizan Guanaes durante painel da Bloomberg.
Nizan Guanaes, um dos publicitários mais conhecidos do Brasil, resolveu dar um xixi público no Google, na figura do seu presidente no Brasil, Fábio Coelho, ao vivo e na frente da nata empresarial de São Paulo nesta quarta-feira, 22.
O incidente se deu durante um painel no Bloomberg New Economy, realizado pela badalada Bloomberg no glamoroso hotel Rosewood, segundo relatado em primeira mão pelo site Startups.
A Bloomberg, naturalmente, preferiu não dar manchetes sobre o bafão, mas ele está disponível na íntegra vídeo no site da Bloomberg (está tudo em inglês, o evento era voltado para uma audiência mundial).
Logo após uma manifestação de Coelho, uma exaltação algo típica para essas ocasiões do papel da tecnologia na democratização do acesso a informações e também no estímulo ao empreendedorismo, Guanaes resolveu dar um outro rumo para as coisas.
“Ele é meu melhor amigo, meu vizinho, mas eu vou dar uma outra perspectiva sobre o que ele falou”, disse Guanaes, antes de relembrar um episódio de 2019 envolvendo sua esposa, Donata Meirelles, então diretora da Vogue, outra publicação de prestígio, só que na área de moda.
Na época, Meirelles decidiu comemorar seus 50 anos com uma festa de aniversário com o tema “Brasil Colônia”, realizada no Palácio da Aclamação, em Salvador, na Bahia. “Uma bela festa, com Caetano e Gil”, no resumo de Guanaes. “Então alguém na imprensa resolveu dizer que era uma ‘festa de escravos’ e isso se espalhou pelas plataformas”, disse o publicitário.
Guanaes não chegou a entrar em detalhes, mas a ambientação da festa de aniversário incluía modelos negras em trajes de mucamas, com as quais Meirelles fez fotos publicadas em redes sociais.
As fotos desataram uma polêmica sobre a festa, com direito a acusações de racismo nas redes sociais, repercutidas em matérias na imprensa. No final das contas, Meirelles teve que pedir demissão da Vogue, como relembrou Guanaes.
Segundo Guanaes, o casal teria procurado o Ministério Público, que por sua vez teria dito que a acusação de racismo era “uma mentira”. Não fica claro na fala do publicitário o que isso significava exatamente em termos jurídicos.
Guanaes disse que pediu a Coelho que “tirasse o conteúdo do ar” e que o presidente do Google teria dito que não podia, “por causa das regras do Google”.
“Mas ninguém sabe o efeito que isso teve na nossa família. E o que eu estou dizendo é que se o Google está no Brasil, ele não pode ser controlado desde fora”, defendeu Guanaes.
(Nesse ponto, vale destacar que a festa de aniversário foi tema dos principais veículos de imprensa do país e centenas postagens críticas nas redes sociais, e não fica muito claro o que Guanaes queria afinal que Coelho “tirasse do ar”).
No meio disso tudo, Guanaes ampliou suas críticas para o setor de tecnologia como um todo “a retórica delas é muito bonita”, citando como contraponto a decisão recente do fundador da Amazon, Jeff Bezos, de comprar um iate de US$ 500 milhões.
“Um cara que compra um barco de US$ 500 milhões odeia o mundo e odeia o mar”, cravou Guanaes, talvez com razão nesse ponto. “Eu sou totalmente capitalista. Mas devem haver frameworks”, agregou, voltando a dizer que sua manifestação não tinha nada a ver com Fábio Coelho, mas com a “governança”.
Por um momento, a mediadora conseguiu colocar Guanaes em um terreno mais seguro, falando sobre o uso de inteligência artificial em sua nova empresa, a N.ideias, um negócio pequeno comparado às grandes agências já lideradas pelo publicitário.
Outro dos painelistas, Dario Werthein, CEO do Werthein Group, respondeu a uma outra pergunta, até que a palavra voltou para Coelho, que deveria responder a uma pergunta da mediadora, mas preferiu no entanto comentar as declarações de Guanaes, o que é compreensível.
“Eu não posso remover conteúdo. Não é sobre mim”, disse Coelho, agregando que pediu a Guanaes que obtivesse uma liminar, o que “com certeza seria levado em consideração”, e que o Google segue a lei, que prevê a retirada de conteúdos de crime de ódio ou racismo.
Guanaes se exaltou nesse ponto, dizendo que Coelho estava “mentindo”, e que sua mulheres passou “quatro anos na Justiça tentando provar algo”. De novo, não fica muito claro qual é o contexto judicial do que Guanaes se refere (o fato da conversa ser em inglês certamente não ajuda).
“Não estou sendo muito gentil com você. Mas você não está sendo gentil comigo, com a minha esposa, e com a democracia”, desabafou Guanaes.
Fábio então mudou de assunto passando a falar de inteligência artificial e o Marco Civil da Internet. Nizan também defendeu o papel da regulação, como algo necessário para conter o “velho oeste” no qual se transformaram as plataformas. “Qualquer um pode fazer o que quiser”, cravou Guanaes.