Diego Brites Ramos, presidente da ACATE (Foto: Divulgação)
O Observatório ACATE 2025 traz um retrato contundente do setor de tecnologia catarinense: em 2024, foram R$ 42,5 bilhões em faturamento, representando 7,75% do PIB estadual, índice que coloca Santa Catarina na 3ª posição nacional em participação da tecnologia na economia. Mais que números, o estudo reafirma a tese de que o desenvolvimento do país passa necessariamente pela inovação, e que a experiência catarinense pode servir como laboratório do futuro econômico brasileiro.
Nos últimos cinco anos, o setor de tecnologia em Santa Catarina cresceu 41,7% em faturamento, 106,3% em número de empresas e 47,1% em geração de empregos, saltando para mais de 100 mil colaboradores. Esses dados não apenas dimensionam a força do ecossistema local, mas também evidenciam a capacidade de inovação quando há ambiente favorável, integração entre atores e visão estratégica de longo prazo.
Santa Catarina consolidou um modelo de desenvolvimento baseado em diversidade regional e complementaridade de competências. A Grande Florianópolis, responsável por 42,5% do faturamento do setor, concentra densidade de empresas e capital humano. Já o Vale do Itajaí e o Norte Catarinense apresentam especializações relevantes em manufatura, equipamentos e serviços digitais, formando uma rede que equilibra tecnologia de ponta com vocações industriais tradicionais.
Essa configuração mostra que inovação não é exclusividade de grandes centros como São Paulo ou Rio de Janeiro. Pelo contrário, a descentralização da tecnologia fortalece economias regionais e ajuda a reduzir desigualdades. O Brasil precisa aprender com esse modelo e investir em ecossistemas locais que combinem pesquisa, empreendedorismo e políticas públicas consistentes.
Empregos qualificados e impacto social
Outro dado relevante do Observatório é que o setor de tecnologia em Santa Catarina paga, em média, R$ 5.768 mensais, valor significativamente superior ao de setores como comércio e construção. Mais do que atratividade econômica, isso representa mobilidade social, pois jovens de diferentes regiões encontram na tecnologia uma via de ascensão profissional.
Entretanto, o estudo também aponta desafios, como a baixa digitalização dos setores tradicionais do estado, fator que que ainda restringe a absorção de talentos. A indústria, a construção e o comércio precisam acelerar sua transformação digital para que o potencial da força de trabalho formada seja plenamente aproveitado.
Além disso, é importante lembrar que nenhuma estratégia de longo prazo se sustenta sem educação. Em 2023, 7,32 a cada mil catarinenses concluíram o ensino superior, colocando o estado na 5ª posição nacional. Nos cursos ligados a STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), foram 9 mil concluintes, mas esse número ainda está abaixo do necessário para suprir a demanda futura. Até 2027, o setor catarinense abrirá 98 mil vagas, das quais quase metade será para desenvolvedores.
Esse descompasso entre oferta e demanda é um dos principais gargalos que o Brasil enfrenta. Investir em educação tecnológica, especialmente em áreas ligadas à programação, dados e inteligência artificial, não é apenas política pública, é estratégia de sobrevivência econômica.
Competitividade e inovação
Santa Catarina hoje é o 2º estado mais inovador e o 2º mais competitivo do Brasil, segundo os rankings do Instituto Brasil de Inovação e do CLP. Esses indicadores mostram que competitividade não se faz apenas com incentivos fiscais ou infraestrutura, mas também com instituições sólidas, capital humano e sustentabilidade social.
O que se vê no estado é resultado de décadas de construção coletiva. A ACATE, universidades, empreendedores e governos locais atuaram como engrenagens de um mesmo motor. Essa experiência comprova que o Brasil precisa abandonar a lógica de projetos fragmentados e adotar políticas estruturais de inovação, que sejam capazes de resistir a ciclos políticos e garantir continuidade de investimentos.
O Brasil que queremos construir
As projeções do Observatório indicam que, até 2030, a tecnologia representará 10% do PIB catarinense, com faturamento de quase R$ 68 bilhões. Logo, não é exagero dizer que Santa Catarina pode se tornar referência latino-americana em inovação, mas isso dependerá de nossa capacidade de transformar oportunidades em políticas.
O país enfrenta um dilema: ou aposta na inovação como eixo central do desenvolvimento, ou continuará preso à armadilha de uma economia de baixo valor agregado. O exemplo catarinense mostra que é possível combinar tradição industrial com transformação digital, crescimento econômico com geração de empregos qualificados, e competitividade com inclusão social.
Se o Brasil quer ser protagonista, precisa olhar para seus ecossistemas de tecnologia, de Santa Catarina a Pernambuco, do Ceará ao Paraná, e entender que ali está o embrião de um novo modelo econômico. A inovação não pode mais ser tratada como promessa de futuro; ela já é presente.
O Observatório ACATE 2025 pode ser visto como um alerta e uma oportunidade. Santa Catarina nos mostra que o desenvolvimento pela inovação é viável, escalável e inclusivo. Ou seja, o Brasil não pode desperdiçar essa chance.