
Jorge Viana, presidente da Apex. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
É uma observação frequente que as políticas públicas no Brasil carecem de continuidade ao longo de diferentes administrações.
Pois a Apex, agência semi estatal de promoção de exportações, está provando o contrário: tanto no governo Bolsonaro, como no governo Lula, ela é chefiada por presidentes que não falam inglês, apesar de isso ser um requisito mínimo estabelecido no estatuto interno.
No governo Bolsonaro, Alecxandro Carreiro, o primeiro presidente nomeado para o cargo, acabou sendo demitido oito dias depois de assumir em 2019, depois de surgir a informação de que ele não dominava o inglês (em meio a uma disputa interna de poder, também é verdade).
Carreiro teve assim a honra de ser o primeiro demitido da Apex, dando lugar para um sucessor que promoveu situações inusitadas no órgão, com destaque para a invenção de um hacker japonês.
No caso do atual presidente, o ex-senador Jorge Viana (PT-AC), a coisa parece tomar outro rumo.
Isso porque, segundo revela o jornal O Estado de São Paulo, a Apex mudou seu estatuto eliminando a exigência de inglês em março, três meses depois da nomeação de Viana para o cargo pelo presidente Lula, no que parece uma ação preventiva para evitar maiores problemas.
A assessoria de Jorge Viana admitiu ao Estadão que ele não domina o idioma.
“Ele fala inglês, mas não a ponto de fazer um discurso”, afirmou. Em nota, Apex apontou que Viana “engrandece a agência” por “sua capacidade de diálogo e interlocução”.
A mudança na regra do inglês foi feita no dia 22 de março pelo conselho deliberativo da Apex, formado por representantes de quatro ministérios e outras cinco entidades (normalmente, grandes confederações setoriais), atendendo ao pedido da diretoria-executiva da agência.
Além de Viana, a diretoria também inclui o ex-deputado federal pelo PSB e secretário de Estado de Desenvolvimento Social de São Paulo, Floriano Pesaro, e a Ana Paula Repezza, uma funcionária de carreira da Apex.
No novo estatuto, a exigência de inglês ficou apenas para a vaga de Repezza. Os postos ocupados pelos dois políticos foram poupados da exigência.
O estatuto exigia um certificado de proficiência ou um certificado de conclusão de curso de inglês, de Nível Avançado. Com a mudança, agora diz apenas que “preferencialmente” o presidente e os diretores “deverão ter fluência ou nível avançado do idioma inglês”.
Segundo o Estadão, a mudança no regulamento causou desconforto entre os servidores da Apex-Brasil, que apontam que a agência atua para divulgar produtos brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros e que o presidente da Apex tem uma agenda internacional intensa.