INFRAESTRUTURA

Brasil terá fábrica de IA distribuída

Projeto reúne Governo do Piauí, MCTI, Telebras, Modular e Scala Data Centers.

10 de dezembro de 2025 - 12:32
Rafael Fonteles, governador do Piauí. Foto: Gabriel Paulino/Governo do Piauí.

Rafael Fonteles, governador do Piauí. Foto: Gabriel Paulino/Governo do Piauí.

O SoberanIA, projeto brasileiro dedicado ao desenvolvimento de inteligência artificial nacional, vai implantar a primeira fábrica de IA distribuída da América Latina em um acordo que inclui Governo do Piauí, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Telebras, Modular e Scala Data Centers.

Segundo o governo, a ideia é formar um conjunto de software, hardware, dados, infraestrutura, propriedade intelectual e rede nacional de expansão para o Brasil ser capaz de armazenar, desenvolver e operar sua própria IA em escala industrial.

No projeto, está prevista a implantação de uma plataforma composta por núcleos distribuídos de processamento, começando pela Fábrica de IA do Piauí, que concentra a equipe inicial de pesquisadores e constitui o núcleo da geração da inteligência. 

Nesse ambiente, ocorrem o desenvolvimento dos modelos fundacionais, o fine-tuning setorial, a preparação de dados e o treinamento dos modelos.

Já a Telebras entra com o Cofre de Dados, situado em Brasília, que funciona como repositório soberano das bases estratégicas do Estado. 

Instalado em um data center Tier IV dentro de área militar, a infraestrutura abrigará as funções de guarda, governança e proteção das informações sob protocolos de segurança física e cibernética.

Seu papel é assegurar a integridade, a privacidade e a disponibilidade dos dados que sustentam o SoberanIA.

O terceiro núcleo é o Distrito Soberano, que será localizado em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, onde Scala Data Centers lidera a concepção técnica e a implantação da infraestrutura hyperscale, além de disponibilizar uma reserva de capacidade de 500MW.

Nesse local, além de operar parte do treinamento contínuo e dos ciclos de atualização, serão executadas cargas de inferência dos modelos já treinados para atender serviços públicos e setores estratégicos, garantindo contingência e continuidade operacional entre os nós.

À medida que o projeto avance, novos nós estaduais serão integrados para ampliar a capacidade de inferência e o refinamento local dos modelos. A ideia é aproveitar e modernizar as estruturas das empresas estaduais de processamento de dados, transformando-as em polos regionais de computação avançada.

Já a Modular Data Centers será responsável pela fabricação de componentes customizados para a infraestrutura.

Com parque fabril de 60 mil m² e cerca de mil profissionais, a empresa prevê lançar em 2026, com apoio do BNDES, um centro de apoio dedicado à nacionalização de componentes críticos e ao desenvolvimento local de sistemas elétricos e de resfriamento líquido.

De acordo com o governo, a fábrica de IA distribuída permitirá que poder público, instituições de pesquisa e empresas acessem modelos e datasets nacionais por meio de uma nuvem soberana, sustentada por infraestrutura digital totalmente brasileira.

O objetivo é garantir que o Brasil tenha domínio completo da cadeia de valor da IA – desde a energia renovável que alimenta os processadores, passando pela produção local dos componentes modulares para os data centers, até o software que atende o cidadão.

"Não estamos apenas contratando um serviço. Estamos nacionalizando a capacidade de processamento. Esta infraestrutura é um ativo de segurança nacional que servirá a todos os estados, garantindo que nossos dados e nossa inteligência permaneçam sob comando brasileiro", destaca Rafael Fonteles, governador do Piauí. 

FASES DO PROJETO

Esta será a segunda fase do SoberanIA. Na primeira, modelos soberanos começaram a operar via API para atender serviços públicos, compreendendo as fases de organizar dados e criar o software. 

O projeto construiu a maior base de dados em língua portuguesa do mundo com governança assegurada para uso comercial, ampliada de 130 bilhões para 350 bilhões de tokens. 

A tecnologia já impulsiona aplicações como o "Piauí Oportunidades", com trilhas de ensino personalizadas, e o "BO Fácil", que permite registros de ocorrências por voz via WhatsApp. 

Agora, o objetivo é construir a infraestrutura para garantir a independência física, com guarda soberana, desenvolvimento e processamento de modelos em território nacional.

Nas próximas semanas, o SoberanIA concluirá a terceira fase do projeto, com a seleção do parceiro tecnológico responsável pela implantação da infraestrutura computacional e a divulgação do cronograma de implementação.