Diego Nogare (Foto: Divulgação)
A maioria das pessoas confunde Engenharia de Prompt com simplesmente fazer perguntas a um chatbot. Essa disciplina é muito mais complexa: ela representa a ciência de estruturar instruções precisas e contextuais para guiar modelos de linguagem a gerar respostas desejadas.
A GenAI não pensa como seres humanos. Ela opera com base em complexos padrões estatísticos e probabilidades. Os modelos preveem a próxima palavra mais provável em uma sequência. Por causa disso, a forma como a instrução é formulada altera diretamente essa probabilidade. A Engenharia de Prompt é a ferramenta humana para controlar esse processo.
Um bom engenheiro de prompt entende as nuances do modelo específico que está utilizando. Com o tempo, ele sabe diferenciar como gerar a melhor instrução para ChatGPT, Perplexity ou Gemini. Compreende que o contexto é o rei. Fornecer informações de base relevantes, conhecidas como grounding, é peça-chave para a criação com precisão.
O abismo entre amadores e profissionais
Uma pesquisa da EY em parceria com a Microsoft revelou recentemente que, embora exista o entendimento de quais tarefas aplicar a IA Generativa, há dificuldade de criar o prompt correto ou mais adequado para atender às necessidades, o que permitiria obter as melhores respostas. O estudo entrevistou 5.218 pessoas da Geração Z globalmente, incluindo 10% de brasileiros.
Uma grande lacuna de eficácia marca o uso corporativo atual da GenAI, visto que a maioria dos usuários ainda utiliza prompts genéricos e superficiais.
Um usuário pode pedir: "Escreva um e-mail de marketing". O resultado será raso, clichê e pouco útil. O modelo não tem contexto sobre o produto, o público-alvo ou o tom de voz da marca. Agora, considere um prompt estruturado: "Aja como um especialista em marketing B2B. Escreva um e-mail para o lançamento do software 'VIA - Growth AI Factory’. O público-alvo são gerentes de TI em empresas de médio porte. O tom deve ser profissional, mas entusiasmado. Destaque três benefícios: eficiência operacional, integração simplificada e resultados rápidos em três semanas. Inclua um CTA (Call to Action) claro para uma 'avaliação de maturidade gratuita’ do produto".
A diferença no resultado é absurda. O segundo prompt guia o modelo com contexto, com detalhes do produto, persona, formato e restrições.
O fracasso dos pedidos genéricos é, hoje, a principal barreira para a adoção eficaz da IA. As empresas investem milhões em ferramentas, mas os funcionários não sabem como extrair valor delas.
De nicho técnico a competência universal
Inicialmente, muitos viam a Engenharia de Prompt como um nicho para desenvolvedores. Essa percepção mudou rapidamente. Hoje, ela é considerada uma habilidade transversal essencial.
Profissionais de marketing a utilizam para criar campanhas e segmentar públicos. Analistas de dados usam prompts para gerar scripts SQL ou Python complexos. Advogados usam para resumir processos e descobrir jurisprudências. Qualquer profissão que lida com informação e comunicação é impactada.
A pesquisa da EY mencionada anteriormente aponta que as habilidades mais importantes para utilizar a IA da melhor forma são criatividade e curiosidade, pensamento crítico, programação e escrita. A GenAI está se tornando a nova interface computacional padrão. Antes, aprendíamos a usar menus e botões em softwares. Agora, aprendemos a conversar com o software de forma eficaz.
O protagonismo profissional depende diretamente disso. O profissional que sabe perguntar é o que obtém os melhores resultados e ele não será substituído pela IA. Pelo contrário, usará a IA para ampliar sua própria capacidade produtiva e estratégica.
Em uma rápida busca no LinkedIn, é possível encontrar empresas que já buscam ativamente por Prompt Engineers. Mas, além do nome do cargo em si, elas buscam essa competência em seus funcionários.
O custo real da ignorância tecnológica
A importância da Engenharia de Prompt transcende a produtividade individual. Ela redefine o ROI nos negócios acelerados pela tecnologia. Empresas estão investindo seus orçamentos em plataformas de GenAI e no custo computacional de APIs.
Mas sem a devida capacitação, esse investimento tende a ser subutilizado e o resultado pode não chegar no tempo planejado. O hardware e o software caros permanecem ociosos, esperando instruções que nunca chegam com a clareza necessária.
Para desenvolvedores, o foco também muda. O trabalho árduo de treinar modelos de base está sendo centralizado em grandes laboratórios de IA. Para a maioria dos engenheiros de software, o trabalho agora é construir aplicações sobre esses modelos. A habilidade de interagir com a API através de prompts bem desenhados torna-se competência crucial.
A Engenharia de Prompt não é uma moda passageira. Ela é a gramática fundamental da nova era computacional. Dominar essa disciplina é o caminho direto para o protagonismo profissional. Ignorá-la é arriscar-se a uma rápida obsolescência em um mercado que valoriza a eficiência.
Empresas que não conseguem traduzir seus complexos problemas de negócio em prompts eficazes descobrirão rapidamente que seus investimentos multimilionários em IA não passam de centros de custo ineficientes, falhando em gerar a vantagem competitiva prometida.
*Por Diego Nogare, profissional com 25 anos de experiência na área de Dados, com foco em Inteligência Artificial e Machine Learning. Desde 2013, já passou por grandes empresas como Microsoft, Deloitte, Bayer e Itaú.