ERP

Como fazer uma migração estratégica para o S/4HANA?

Muitas empresas estão incertas e adiando suas decisões, enquanto outros avançam.

15 de dezembro de 2025 - 15:34
Emílio Chiofetti Júnior, diretor comercial na Ábaco Consulting (Foto: Divulgação)

Emílio Chiofetti Júnior, diretor comercial na Ábaco Consulting (Foto: Divulgação)

O cenário empresarial brasileiro ainda reflete uma percepção de incerteza em torno da transição do Enterprise Resource Planning (ERP) tradicional para novas arquiteturas digitais, como o SAP S/4HANA. Pesquisas recentes, como a publicada pela Rimini Street, indicam que 84% dos executivos se sentem confusos sobre os planos da SAP e 31% têm dificuldade em projetar o retorno sobre o investimento. 

Muitos veem o movimento apenas como uma oneração ou uma atualização técnica necessária devido ao iminente fim do suporte ao SAP ECC em 2027. Porém, vale destacar que esse cenário cria um paradoxo perigoso: enquanto alguns adiam a decisão esperando mais clareza, outros avançam e ampliam rapidamente sua vantagem competitiva.

A indecisão contrasta drasticamente com a realidade de companhias que optaram por planejar suas migrações de forma estratégica. Para essas organizações, a mudança deixou de ser uma obrigação técnica e se tornou um vetor de transformação digital e uma plataforma concreta para o crescimento. A falta de um sistema estruturado pode gerar perdas de até 30% do tempo das equipes em retrabalho, ao passo que a integração estratégica entre áreas pode elevar a lucratividade em cerca de 25%, de acordo com a consultoria McKinsey. Ou seja: a migração deixou de ser uma discussão de TI e passou a ser uma decisão diretamente ligada a resultado e competitividade.

Ao avaliarmos a proposta do SAP S/4HANA, por ser construído sobre uma plataforma in-memory, a aplicação nativamente oferece ganhos mensuráveis que vão muito além do back-office, colhendo resultados em produtividade, compliance, automação fiscal e visibilidade de ponta a ponta. Vale lembrar que a inovação não se resume mais à automação de processos isolados. Pelo contrário, é imprescindível a presença de inteligência analítica em todo o fluxo operacional, no qual a eficiência depende da compreensão contextual dos dados. A tecnologia por si só não vai garantir sucesso. O diferencial está em como ela é aplicada dentro da estratégia do negócio.

Da indústria do agronegócio à produção calçadista e fashion, vemos o sucesso da implementação do novo ERP provando como a aplicação adotada suporta as novas ambições dessas companhias, que miram a expansão da produção para a exportação, por exemplo, sustentando planos agressivos de crescimento e faturamento, além de elevar a governança de dados e a agilidade na tomada de decisão.

Fica muito claro para quem está envolvido em projetos desta magnitude que, para capturar esse valor, é fundamental que o parceiro de implementação atue como um tradutor entre o universo técnico e o estratégico, trazendo clareza total sobre o roteiro de migração. O projeto precisa ancorar-se em uma proposta financeira sólida e que projete o retorno real e sustentável ao longo de cinco a sete anos. E aqui está um dos maiores gargalos do mercado: muitas decisões ainda são tomadas sem um Business Case estruturado de médio e longo prazo.

Neste contexto, o uso de metodologias avançadas, como aceleradores específicos para o setor em que ocorre o projeto, torna-se essencial. A utilização da Inteligência Artificial (IA) também é essencial para acelerar etapas críticas, pois com ela é possível garantir um escopo fechado, assim como a redução de custos e a condição de obter uma previsibilidade de entrega. Além disso, dada às tendências do mercado, faz-se necessário prever a integração inteligente entre áreas como Vendas, Supply Chain e Planejamento Avançado, que permitem alinhar demanda e capacidade em tempo real, resultando na otimização de estoques e na elevação da margem operacional.

Diante do fim da manutenção do SAP ECC em 2027, apostar na antecipação vai além de um diferencial competitivo. É uma questão de preservação financeira. Com mais de mil empresas brasileiras ainda operando no sistema antigo, a demanda por projetos de conversão deve crescer exponencialmente no próximo ano. A grande questão é: quem estará preparado quando essa fila se formar de maneira definitiva?

Adiar a decisão significa encarar projetos mais caros e complexos. A postergação pode restringir o acesso a talentos especializados e recursos em um mercado que ficará cada vez mais sobrecarregado. Aquelas organizações que se anteciparem, por outro lado, poderão usufruir de incentivos comerciais, acesso garantido a consultorias qualificadas e transformarão a migração num passo decisivo para pavimentar a transformação digital da próxima década, garantindo que a empresa permaneça competitiva e inovadora.

No fim das contas, o S/4HANA tende a se tornar um divisor de águas entre as empresas que administram o passado e aquelas que constroem o futuro.

*Por Emílio Chiofetti Júnior, diretor comercial na Ábaco Consulting, boutique consultiva de negócios focada em gestão e parceira da SAP.