O PROCESSO

Eugênio Staub: “A Gradiente é brasileira, então, isso é golpe, né?”

Dono da Gradiente falou pela primeira vez sobre o processo contra a Apple pela marca iPhone.

02 de dezembro de 2024 - 06:05
Vocês tiveram um desses? Foto: Gradiente.

Vocês tiveram um desses? Foto: Gradiente.

Eugênio Staub, presidente do conselho da Gradiente, falou pela primeira vez sobre o processo que move a uma década contra a Apple pelo uso da marca iphone, que parece estar chegando nos seus finalmentes. 

Em entrevista exclusiva para a Folha de São Paulo, Staub se disse aborrecido com o fato da maior parte das pessoas que ouviu falar do litígio, incluindo alguns de seus amigos, achar que a empresa está tentando tirar vantagem da Apple. 

"Tem um complexo de vira-lata, né? Você já ouviu falar? Nelson Rodrigues, há 70 anos, escreveu sobre isso. A pessoa olha para a história e diz: 'A Gradiente é brasileira, então, isso é golpe, né?'", resumiu Staub. 

Na entrevista, o empresário mostrou os aparelhos lançados pela Gradiente com o nome iphone no ano 2000, sete anos antes de a Apple lançar o iPhone, com o P maiusculo no meio.

"Em 2000, quando introduzimos este telefone no mercado, vendemos 30 mil em poucos meses às operadoras e ao comércio", disse Staub para a Folha, apontando para o aparelho usado.

(Uma curiosidade. Quando o processo começou, Staub não tinha mais um aparelho do tipo e teve que comprar um usado no Mercado Livre).

A Gradiente defende que submeteu a marca ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) no próprio ano 2000 e obteve o registro em 2008. A Apple lançou o iPhone primeiro nos EUA, em 2007. No Brasil, o aparelho só passou a ser vendido em 2008.

O conflito começou a partir de 2012, quando a Gradiente resolveu relançar uma família de celulares inteligentes com o nome iphone. 

Vendido por R$ 699, o celular era um equipamento Android, sem o glamour do primo rico. 

Mesmo assim, a Apple reagiu apresentando ação para pedir a nulidade do registro da marca Gradiente iphone no INPI.

(Brigas desse tipo são frequentes e Folha cita casos parecidos envolvendo a Apple com a Cisco, além de empresas chinesas e mexicanas).

Em setembro de 2013, quando a Gradiente perdeu o direito de exclusividade da palavra “iPhone”, mas ainda assim podendo utilizar a marca “G Gradiente iphone”.

Em 2018, o Supremo Tribunal de Justiça concedeu decisão favorável à Apple lhe permitindo seguir usando a marca iPhone no Brasil. Decisão também permitia à Gradiente permanecer com a marca G Gradiente iphone, mas não a palavra iphone isoladamente.

No ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli suspendeu o fim do julgamento sobre disputa pela marca e levou o caso para o plenário físico, onde a questão deve ser finalmente encerrada.

A decisão de Staub de vir a público justamente agora falar do caso provavelmente visa influenciar a opinião pública sobre o caso, gerando uma imagem mais simpática para a Gradiente. 

Caso a Gradiente ganhe a causa, estará numa posição e tanto para negociar um acordo com a Apple, uma empresa cujo lucro em 2023 foi de quase US$ 100 bilhões e certamente tem alguns milhões de reais sobrando em algum lugar. 

Uma marca onipresente no mercado de eletrônicos brasileiro no final dos anos 90, a Gradiente passou por altos e baixos, acumulando uma dívida milionária que resultou em um processo de recuperação judicial encerrado no ano passado. 

Hoje em dia, a empresa não tem mais nada que ver com celulares. A aposta do momento é energia solar, na qual a Gradiente quer atuar na prestação de serviços, com integração de sistemas de geração de energia.

META X META

A decisão do STF sobre o caso Gradiente x Apple estará certamente sendo observada nos escritórios de duas empresas chamadas Meta. Isso porque a Meta, uma grande integradora brasileira de tecnologia, iniciou um processo contra a Meta Platforms, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, envolvendo justamente os direitos de uso no país do nome “Meta”. O caso está ainda no começo