Agência do Agibank. Foto: Divulgação.
O INSS suspendeu, por tempo indeterminado, o recebimento de novos registros de crédito consignado pelo Agibank, citando uma série de "irregularidades e práticas lesivas" aos beneficiários.
"A auditoria constatou a existência de quantidade significativa de contratos averbados sem consentimento expresso dos beneficiários", afirma o comunicado do INSS divulgado nesta quarta-feira, 3.
O INSS afirma que 1.192 contratos foram assinados após a data do óbito dos beneficiários, entre 2023 e 2025. Desses, 163 foram firmados com benefícios já encerrados nos sistemas do INSS.
De acordo com a auditoria do INSS, também foi encontrada uma “quantidade significativa” de contratos averbados sem a autorização expressa dos beneficiários do INSS, o que é uma exigência legal para evitar fraudes em benefícios.
De acordo com o INSS, o caso foi encaminhado para a Polícia Federal e para a Corregedoria do órgão e a suspensão vale até o final de um processo administrativo sobre o tema no qual o Agibank poderá se defender.
Procurado pela Reuters, o Agibank disse que tomou conhecimento da suspensão anunciada pelo INSS sem ter sido previamente comunicado ou mesmo com a oportunidade de apresentar defesa e esclarecimentos.
"A instituição reafirma que todos os contratos seguem protocolos rigorosos de segurança, como biometria facial, validação documental e cruzamento de dados em bases oficiais", afirmou em nota.
O Agibank também diz que “desconhece contratações irregulares”, mas que, em caso de constatação das suas ocorrências, serão adotadas “providências para saneamento dos tramites internos, além de absorver integralmente o impacto, sem ônus para clientes ou para o INSS, com ressarcimento integral dos valores envolvidos”.
Independente do resultado final da investigação, a suspensão cria um problema e tanto para o Agibank, que tem no empréstimo consignado um dos seus pilares desde a fundação.
De acordo com o seu balanço do terceiro trimestre, o Agibank atingiu em setembro participação de mercado de 8,8% em operações de crédito consignado para beneficiários do INSS.
O negócio de consignado do Agibank passou por um crescimento exponencial nos últimos anos.
O site Metrópoles obteve dados do INSS por meio da Lei de Acesso à Informação e constatou que o Agibank multiplicou por quase 69 mil vezes seus repasses de empréstimos consignados desde 2020.
O banco fechou acordo com o INSS em 2020, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando os valores totais eram de R$ 77 mil. Neste ano, eles já somam R$ 5,3 bilhões.
No total, a instituição já recebeu R$ 14,8 bilhões com os descontos nos contracheques dos aposentados. Hoje, o banco tem uma carteira de 1,57 milhão de consignados.
Entre janeiro de 2020 e outubro de 2025, o faturamento das 87 instituições financeiras habilitadas pelo instituto para fazer empréstimos consignados dobrou e chegou a R$ 466 bilhões.
