Futuro do Ceitec é privado

O futuro do Ceitec é na iniciativa privada. A alteração no controle do centro de design de chips instalado na Lomba do Pinheiro – hoje uma S.A 100% em mãos do governo federal – deve começar com a abertura de capital em três anos.
11 de agosto de 2009 - 16:25
Futuro do Ceitec é privado
O futuro do Ceitec é na iniciativa privada. A alteração no controle do centro de design de chips instalado na Lomba do Pinheiro – hoje uma S.A 100% em mãos do governo federal – deve começar com a abertura de capital em três anos.

Eduard Weichselbaumer, nomeado em fevereiro para a presidência do Ceitec, preferiu não se aprofundar em como a mudança será feita durante a coletiva de imprensa realizada antes do Meeting de TI da Federasul, nesta terça-feira, 11, mas deixou claro que a alteração é necessária.

“Nossos custos administrativos são altos, na faixa dos 20%, quando uma empresa privada do ramo fica em 7%. Na diferença fica a margem de lucro”, resume o alemão, que tem 30 anos de experiência no ramo de microeletrônica, 10 deles no Vale do Silício.

Apesar de destacar o foco técnico (90% do time está em funções ligadas ao negócio) e a ausência dos tradicionais cargos indicados politicamente na estatal, Weichselbaumer acredita que o ritmo da administração pública não funciona no mercado que o Ceitec quer atuar.

“Não temos controle de nenhum recurso natural, como petróleo. Precisamos competir com agilidade em nível mundial”, avalia o presidente do Ceitec.

Anunciada como sociedade anônima em fevereiro, quando foi anunciado também um aporte de R$ 40 milhões no centro, o Ceitec passou a funcionar oficialmente há pouco mais de dois meses.

Foram necessárias negociações para abrir um processo de contratação emergencial de 64 profissionais que tenham experiência em semicondutores, evitando a demora de um concurso público.

Mão de obra disponível
Weichselbaumer se mostra otimista com o tema da mão de obra, apesar da incipiência do Brasil no ramo e a conseqüente falta de profissionais especializados que ela acarreta.

“O programa CI Brasil do Ministério da Ciência e Tecnologia está formando profissionais”, aponta o executivo. Os projetistas capacitados ficam nos cargos mais básicos.

Para cada 10 deles é necessário um profissional mais experiente, geralmente brasileiros repatriados, o que justifica os altos salários pagos pelo Ceitec, entre R$ 5,4 mil a R$ 17 mil.

“São valores competitivos. Se não, em vez de exportar chips vamos exportar cérebros”, comenta Weichselbaumer que projeta ter uma equipe de 220 funcionários no ano que vem, quando a fábrica de chips vai começar a funcionar para valer.

Apesar do elevado custo da operação, que consumiu investimentos de R$ 350 milhões até o momento e só em custos fixos de mão de obra custará outros tantos milhões por mês, Weichselbaumer projeta uma operação no azul em três anos.

Para isso, o centro está focado em mercados de nicho pouco explorados e ainda sem líderes em nível mundial como o de chips RFID, avaliado em US$ 2 bilhões por institutos de pesquisa. O mercado de eletrônica com um todo já movimenta US$ 250 bilhões.

No caso do RFID, um dos produtos já lançados é o chip do boi, usado para garantir rastreabilidade à carne bovina. Outro chip pode ser usado em carros, bagagens e remédios. A linha de produtos atual se completa linhas focadas na evolução do Wimax e em TV Digital.

Lomba do Silício
Weichselbaumer adiantou aos participantes do Meeting de TI sua visão sobre a mudança econômica que o Ceitec deve desatar em Porto Alegre.

De acordo com o executivo, os produtos desenvolvidos na fábrica devem atrair 200 prestadores de serviço – o Ceitec não instala nem dá consultoria no chip do boi, por exemplo – que serão atendidos por outras 500 empresas, gerando uma movimentação econômica da ordem de R$ 10 bilhões por ano.

“Parece muito, mas em países desenvolvidos a eletroeletrônica responde por 12% do PIB”, comenta Weichselbaumer. “Nossa ideia é transformar a Lomba do Pinheiro na Lomba do Silício”, acredita.

Comentário no Quentinhas
As declarações de Weichselbaumer foram comentadas  pelo editor do Baguete, Maurício Renner, em post no blog Quentinhas.

A opinião do jornalista pode ser conferida pelo link relacionado abaixo.