
Site para acompanhar a vacinação parece ser uma ação de marketing. Foto: Tony Winston/MS.
O Ministério da Saúde lançou nesta quarta-feira, 12, o Brasil #PátriaVacinada, um portal pelo qual a população pode acompanhar o avanço da campanha de vacinação no país.
Infelizmente, o site desenvolvido em parceria com o Serpro e a Secretaria de Governo Digital (SGD) do Ministério da Economia, exibe apenas a quantidade total de vacinas entregues aos estados e aplicadas na população em primeira e segunda dose.
Ficou faltando a informação chave: qual é a porcentagem de vacinas aplicadas a cada 100 habitantes, a correlação pela qual se sabe se o número bruto de injeções aplicadas representa um progresso real, ou é só uma cifra grande em um site colorido.
Como o governo dispõe de dados do censo demográfico de 2010, além de estimativas do crescimento populacional desde então e o cálculo do número de vacinados é uma questão de regras de três, provavelmente a decisão de não divulgar essa informação é política.
Talvez o governo não queira propagar a informação que o Brasil não está indo muito bem em vacinação, quando a comparação é feita em doses aplicadas por 100 habitantes, um fato no qual certamente tem influência o fato de não ter comprado vacinas em tempo hábil.
Com 52,6 milhões de doses aplicadas até o sábado, 8, o Brasil tem 24,87 doses aplicadas a cada 100 habitantes.
O resultado deixa o país em 58º lugar no ranking global da aplicação de doses.
O Reino Unido fica na liderança do ranking, com 76,36 doses aplicadas a cada 100 pessoas. Os Estados Unidos estão em segundo lugar, com 76,18 doses a cada 100 habitantes.
Levando a especulação ainda mais longe, talvez o lançamento do Brasil #PátriaVacinada tenha menos que ver com informação e mais que ver com uma tentativa de gerar uma agenda positiva em um noticiário tomado por notícias da CPI do Covid, no qual a compra de vacinas é um dos tópicos principais.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deu a tônica na divulgação oficial do site, ao reunir sua confiança para dizer que o ministério sempre foi “a melhor referência para dados em relação, não só à pandemia da Covid-19, mas em relação às outras moléstias que espreitam a nosso sociedade”.
É uma afirmação notável de Queiroga, tendo em conta que a principal fonte sobre os números do Covid-19 no país é um consórcio de veículos de imprensa formado por Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra.
A iniciativa, inédita na imprensa brasileira, foi criada em junho de 2020 para acompanhar e divulgar os números da pandemia no país, depois que o próprio Ministério da Saúde tirou dados do ar.
Desde então, o consórcio divulga balanços diários de casos e mortes pela Covid-19, coletados junto às secretarias estaduais de Saúde.
O consórcio, aliás, já divulga dados sobre o avanço (ou a falta de avanço) da aplicação de vacinas desde 21 de janeiro.
O levantamento dos jornais apresenta diversos dados, incluindo o total de vacinados, a porcentagem em relação à população total, a porcentagem em relação à população com mais de 18 anos, a porcentagem em relação às doses disponíveis e também a porcentagem de pessoas vacinadas em relação ao grupo prioritário da primeira fase.
Nada como saber usar a regra de três.