Cuidado com os comentários. Foto: Depositphotos.
O Nubank demitiu 12 funcionários por terem feito críticas ao fim do trabalho remoto na empresa durante uma live interna com o CEO David Vélez.
É o que afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, em um post no Linkedin.
De acordo com Ribeiro, os funcionários foram convidados a se manifestar pelo chat depois da live de Vélez e “houve reações”, uma vez que a mudança, mesmo com oito meses de prazo, “interfere diretamente na vida das pessoas e exige adaptação, mudança de casa, de rotina e reorganização familiar”.
As demissões teriam sido por justa causa, e, segundo o sindicato, o Nubank alega que os profissionais “passaram do limite”. Os funcionários têm outra opinião, dizendo que apenas “manifestaram seu descontentamento”.
O artigo 482 da CLT, regula os motivos para justa causa e cita “ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa”.
Na Justiça Trabalhista, costumam ser exigido que o empregador prove com testemunhas, mensagens ou gravações a existência de ofensa grave, como palavrões, xingamentos, injúrias, ameaças ou difamações diretas e intenção de ofender.
Como os comentários foram feitos num chat, a questão das provas está clara. A pergunta que fica é que afinal 12 funcionários disseram para serem demitidos imediatamente.
Um comentário de um ex-funcionário do Nubank no post de Ribeiro ilumina um pouco esse aspecto, sob o prisma da cultura interna do banco digital.
!O Nubank cultivou por anos a idéia de que confrontar a gestão da empresa é perfeitamente válido. Eu trabalhei 5 anos lá e vi esse tipo de confronto várias vezes. Porque agora essa regra que se manteve por mais de uma década se tornou inválida sem justificativa? É absurdo cultivar essa expectativa e depois puxar o tapete debaixo do pé das pessoas”, resume o comentário.
Segundo o ex-funcionários, os colaboradores foram demitidos por “meros comentários irônicos pontuais que não são justificativa para justa causa”.
VIRADA
O fim do remoto no Nubank é o assunto da vez nas redes sociais. O banco digital era um dos últimos grandes bastiões do home office.
Nos últimos cinco anos, a regra no Nubank era que os colaboradores precisam trabalhar de forma presencial uma semana a cada três meses.
A partir de julho de 2026, os profissionais do banco terão que trabalhar nos dois dias da semana pelo menos. A partir de janeiro de 2027, a quantidade passa para três, o que é o arranjo híbrido padrão na maioria das empresas.
A mudança foi comunicada em uma mensagem interna do CEO do Nubank, David Vélez, nesta quinta-feira, 6.
“Ao longo dos últimos anos, mencionei recorrentemente que me preocupo com o nosso ambiente prioritariamente remoto escolhido, pois os seus benefícios eram muito óbvios, mas os seus custos eram invisíveis”, afirma Vélez no e-mail.
Na sequência, o CEO do Nubank elenca algumas razões já típicas para justificar a medida, como “preservar e fortalecer a cultura do banco, estimular encontros criativos entre as equipes” e também o que é descrito como “excelência operacional”.
“Foi uma decisão difícil. Sabemos que esta decisão será bem recebida por muitos de vocês. Para outros, irá gerar conturbação — especialmente para aqueles que moram longe de nossos escritórios, ou para aqueles que ingressaram no Nubank por causa da flexibilidade do trabalho remoto", disse Vélez no comunicado.
O Nubank costumava apontar o seu sistema remoto de trabalho como um atrativo dentro do seus planos de “employer branding”. No seu email, Vélez apontou as limitações do sistema.
“Videochamadas reduzem as pessoas a quadrados. As conversas se tornam transacionais. Os momentos espontâneos — a troca no corredor, o entusiasmo compartilhado ao resolver um problema, a celebração após um lançamento difícil — desaparecem", disse o cofundador do Nubank.
Com a volta aos escritórios, Vélez acredita que será mais fácil “encontrar colegas de outras áreas para agilizar alinhamentos ou brainstormings, fazer networking e resolver problemas de forma fortuita”, e “ aprender e nos desenvolver sem esforço, observando líderes e mentores em ação".
Como parte do plano, o banco informou que vai investir em melhorias nos prédios já existentes e ocupados em São Paulo, Bogotá e Cidade do México. E vai abrir escritórios, para equipes específicas, em Campinas, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Buenos Aires, área metropolitana de Washington D.C., Miami e Palo Alto – além dos hubs de talentos já existentes em Berlim, Montevidéu e Durham.
