
Marcio Pochmann. Foto: Pedro França/Agência Senado.
Marcio Pochmann, economista que acaba de ser nomeado para a presidência do IBGE, tem ideias peculiares sobre o Pix, sistema de transferência eletrônica de dinheiro que é um dos grandes sucessos do sistema financeiro brasileiro nos últimos anos.
Em outubro de 2020, Pochmann postou em seu perfil do Twitter uma crítica ao Pix, afirmando que o mesmo era “mais um passo na via neocolonial na qual o Brasil já se encontra ao continuar seguindo o receituário neoliberal”.
Pelo que Pochmann dá a entender no tweet, a transferência eletrônica de fundos seria um passo preliminar, a ser seguido pela “abertura financeira escancarada com o real digital e a sua conversibilidade ao dólar”, criando assim a “condição perfeita ao protetorado dos EUA”.
Talvez inconscientes de que estavam favorecendo a conversão do Brasil em um protetorado econômico dos Estados Unidos, os consumidores adotaram o Pix com entusiasmo.
Só no ano passado foram feitas 11,7 bilhões de transações pelo Pix, mais que o dobro do que em 2021. As transferências por TED e DOC registraram quedas de 29%.
O sucesso do Pix foi inclusive tema de debate eleitoral, com o então presidente Jair Bolsonaro posando como pai da iniciativa (na verdade, um desenvolvimento de anos dos bancos) e acusando o então candidato Lula de ser contra a novidade, o que gerou uma defesa veemente do Pix pelo PT (Pochmann soube ficar quieto na ocasião).
O real digital, outra das novidades criticadas por Pochmann, tem dado os primeiros passos neste ano. O projeto piloto começou em março, com circulação pública prevista para o final de 2024.
O comentário sobre a natureza neoliberal do Pix foi feito um mês antes do lançamento do mesmo e foi desenterrado pela imprensa nessa semana, em meio a polêmica da nomeação de Pochmann para o IBGE.
Pochmann, um economista de referência dentro do PT, fez carreira na Unicamp, conhecida como um pólo de pensamento econômico de esquerda.
Na política, Pochmann não foi tão bem sucedido. Tentou duas vezes ser prefeito de Campinas e uma vez deputado federal, sem emplacar em nenhuma das ocasiões.
A nomeação causou polêmica nesta semana. Primeiro porque a decisão de nomear Pochmann teria vindo diretamente de Lula, saltando a autoridade do Ministério do Planejamento, sob o qual fica o IBGE.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, chegou a protestar, mas no final aceitou a troca. Pochmann é hoje presidente do Instituto Lula.
O problema de fundo é a falta de confiança do mercado em Pochmann, que passará a ter influência em assuntos como os métodos de cálculo do índice de inflação, por exemplo.
O economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e ex-presidente do IBGE nos anos 80, se disse “ofendido” com a nomeação de Pochmann para o órgão em comentários para a CNN.
Bacha também afirmou que o nome de Pochmann na presidência do instituto é “um perigo para as estatísticas”.