
Matheus Dias e Andres Carranza, da Luzid. Foto: Divulgação/Luzid
A Luzid, uma startup com um sócio brasileiro que desenvolveu um copiloto de IA para acelerar a implementação de softwares corporativos, acaba de receber seu primeiro aporte.
Em nota, a empresa não revela o montante, mas o jornal Valor Econômico fala em R$ 2,8 milhões.
É um valor significativo, tendo em vista que se trata da primeira rodada de investimento na Luzid (um “aporte pré-seed”, no jargão da área), ou seja, o tipo de investimento que ocorre antes de a empresa ter um produto totalmente desenvolvido ou receitas significativas.
A rodada da startup, baseada em Stanford, nos Estados Unidos, foi liderada por NXTP, Ocean Ventures e Quiet Capital, além de investidores-anjo estratégicos, como executivos da OpenAI, o ex-CTO do Nubank, o CTO da Auth0 e o ex-CEO da Isaac.
O motivo do interesse é claro: a Luzid promete reduzir o prazo de implementação de softwares empresariais como SAP, Oracle, Salesforce ou Workday de meses para semanas.
O principal produto da Luzid é o David, um agente de IA que permite à empresa automatizar o mapeamento e a documentação dos processos internos, com aplicações em todo o ciclo de vida de um projeto, da pré-venda até o go-live, passando por workshops, documentação e geração de scripts de teste.
A startup fala em uma redução média de 20% a 30% nas horas totais gastas por consultores, podendo chegar a até 90% em processos específicos, como a geração de blueprints (planos detalhados que descrevem arquitetura, componentes, funcionalidades e interligação de um software).
Além das horas, a Luzid afirma conseguir uma “redução significativa” nas solicitações de mudança (os famosos change requests).
A empresa cita como clientes três grandes consultorias SAP: Numen IT e Meta, no Brasil, e Answerthink, nos Estados Unidos.
O capital já está sendo direcionado ao desenvolvimento do produto e à contratação de engenheiros. Até o fim deste ano, a meta é chegar a 20 clientes e US$ 2 milhões em receita.
Fundada no ano passado, a Luzid pretende “consolidar sua presença global” e atingir US$ 10 milhões em receita já no ano que vem.
“Nosso maior objetivo é encurtar drasticamente o tempo e o custo de implementações de software enterprise, permitindo que consultores e empresas se concentrem em decisões estratégicas de longo prazo. Queremos ser a plataforma que acelera a adoção tecnológica global”, diz Matheus Dias, cofundador da Luzid.
QUEM É QUEM
Os fundos envolvidos têm um histórico de peso. A NXTP possui no portfólio empresas como Nuvemshop, CargoX, Betterfly e Ripio, e a Quiet Capital já investiu em Airbnb, Epic Games, Instacart e OpenAI.
Certamente contribuiu para o interesse de fundos internacionais o perfil dos dois fundadores: o brasileiro Matheus Dias e o colombiano Andres Carranza.
Dias trabalhou desenvolvendo modelos preditivos de séries temporais para a consultoria Bain & Company, ainda em 2019, quando o hype em torno de IA estava longe de explodir. Depois, fez parte do time de precificação e modelagem da Wildlife Studios, empresa brasileira que é uma das maiores desenvolvedoras de jogos para dispositivos móveis do mundo.
Em seguida, Dias fez mestrado em Estatística em Stanford, com foco em interpretabilidade e transparência de modelos de machine learning. Durante esse período, foi um dos primeiros funcionários da OpenLayer, startup de teste e validação de sistemas de IA investida pela Y Combinator, e trabalhou na gigante de tecnologia Meta, desenvolvendo modelos avançados para séries temporais.
Foi em Stanford que Matheus presenciou a explosão dos Large Language Models (LLMs) em 2022, capitaneada pelo ChatGPT. Vendo o movimento, tornou-se membro fundador da Orby AI, pioneira em agentes inteligentes para automação empresarial, trabalhando com grandes players como Google, Uber e Airbnb.
Procurando por um estagiário e aproveitando suas conexões em Stanford, Matheus encontrou seu futuro cofundador, Andres Carranza.
Durante o ensino médio, Carranza passou dois anos trabalhando em um time da NASA, usando deep learning para descobrir exoplanetas. Aos 19 anos, já era o trader quantitativo mais jovem do Two Sigma, um dos fundos quantitativos mais renomados de Nova York.
Com apenas 21 anos, concluiu todos os cursos de graduação em Ciência da Computação em Stanford em tempo recorde, passando a frequentar disciplinas avançadas de doutorado. Carranza trabalhava na startup colombiana Simetrik, de simplificação de processos financeiros e reconciliação empresarial, usando IA para automatizar processos internos.
Em apenas dois meses, Carranza já havia conseguido que mais da metade dos consultores da Simetrik utilizassem o sistema que havia construído praticamente sozinho.