
A Siemens aposta em regras mais rígidas de governança, risco e compliance. Foto: Robert Fruehauf/Shutterstock.
A Siemens tem apostado em tecnologia e regras mais rígidas de governança, risco e compliance como uma maneira de dar a volta por cima de uma série de escândalos nos quais esteve envolvida nos últimos anos.
A companhia tem motivos para investir nisso: chegou a multa recorde de € 1,5 bilhão por falhas de compliance em 2007 na Alemanha e nos Estados Unidos.
“Hoje a empresa trabalha com três pilares: prevenção, detecção e resposta”, afirma Reynaldo Goto, diretor de Compliance da Siemens, que falou abertamente sobre o assunto em evento organizado pela Assespro-RS em Porto Alegre nesta quinta-feira, 14.
Com os novos processos, Goto relata que há preocupação com temas que, até os escândalos, eram pouco abordados na gigante alemã, presente em 200 países e dona de um faturamento de € 71,93 bilhões em 2014
“Antigamente a questão era focada em fraude bancária e contabilidade equivocada. Hoje é possível fazer corretamente todos os movimentos contábeis e ter o balanço fechado, mas mesmo assim ter problemas, então precisamos ver outros três tipos de risco: corrupção, cartel e lavagem de dinheiro”, explica.
Sem esse cuidado que procura ter atualmente, a empresa passou por diversas situações que causaram danos financeiros e na relação com colaboradores.
Uma das primeiras investigações contra a empresa, em 2007, aconteceu em Munique, principal sede da Siemens. Funcionários da empresa criaram um sistema de caixa dois para obter contratos no exterior.
No mesmo ano, a União Europeia condenou a empresa ao pagamento de € 400 milhões por formação de cartel para manipulação de preços e outras irregularidades em contratos para instalações elétricas.
Já em 2008, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e a Comissão de Valores Mobiliários do país fizeram a empresa pagar, por meio de um acordo extrajudicial, cerca de US$ 800 milhões.
Segundo o departamento, o grupo pagou comissões irregulares a funcionários públicos de diversos países, tais como Iraque e Venezuela.
Ao todo, entre 2001 e 2007 a Siemens teria pago US$ 1,4 bilhão em propinas a autoridades de diversos países, conforme a investigação.
Segundo Goto, além do planejamento focado em compliance, há outras normas que facilitam o controle das movimentações financeiras - e eventuais más práticas. Ele relata que antes de 2007, por exemplo, a companhia fazia transações com dinheiro e cheque.
“Hoje esse tipo de negociação é absolutamente proibida na empresa, pois as transações eletrônicas são mais seguras e permitem um controle muito maior, pois todas as ações deixam ‘pegadas’”, completa.
De acordo com Goto, a multinacional age preventivamente para evitar o envolvimento com novos episódios como esse.
A Siemens analisou de modo preventivo 6 mil CPFs e CNPJs citados na operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga cartéis e superfaturamento na Petrobras, totalizando desvios de R$ 6,2 bilhões.
A empresa estava buscava localizar indivíduos ou empresas com as quais já tivesse feito negócios no passado, por exemplo, para avaliar possíveis riscos.