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Trimestre parado na CI&T

Empresa cresce só 0,2%, mas a projeção é mais otimista para o médio prazo.

23 de maio de 2024 - 05:18
Cesar Gon, fundador e CEO da CI&T. Foto: Divulgação/CI&T.

Cesar Gon, fundador e CEO da CI&T. Foto: Divulgação/CI&T.

A CI&T, uma das maiores empresas de desenvolvimento de software do Brasil, fechou o primeiro trimestre com uma receita líquida de R$ 523,5 milhões, uma alta de 0,2% frente ao mesmo período do ano anterior.

O lucro líquido caiu quase pela metade, indo de R$ 22,4 milhões, comparado a R$43,6 milhões no primeiro trimestre de 2023.

A perspectiva para o segundo trimestre é de resultados um pouco melhores, com um faturamento estimado de  R$ 542 milhões, equivalente a uma expansão de 3,5% frente ao primeiro trimestre (a CI&T não chega a fazer uma comparação com o trimestre do ano passado).

Para o ano fiscal de 2024, a expectativa é de que a receita líquida em câmbio neutro esteja na faixa de -2.5% a +2,5%.

Câmbio neutro significa recalcular as receitas e lucros do ano anterior usando a taxa de câmbio do ano atual, o que serve para reduzir a influência do câmbio nos resultados da empresa.

Isso é importante para a CI&T porque a empresa tem uma forte presença internacional, com 41,6% da receita vinda na América do Norte, 11,7% na Europa e 4,2% na Ásia-Pacífico. 

De todas formas, a projeção de crescimento (ou guidance) entre -2.5% a +2,5% foi inicialmente divulgada em março e na época decepcionou o mercado. 

O BTG tinha projetado um crescimento de 8,5% para a CI&T e a média dos grandes bancos de investimento era 6,5%.

Na época, o Brazil Journal revelou a origem dos problemas da CI&T. A gigante Anheuser-Busch InBev, que respondeu sozinha por 15% da receita da CI&T em 2022, estava cortando custos junto a fornecedores.

(Os problemas da Anheuser-Busch InBev começaram com uma campanha publicitária extraordinariamente mal sucedida para a Bud Light, mas isso é outra história).

Como se sabe, os problemas não costumam vir sozinhos. A CI&T reagiu à queda nas receitas da Anheuser-Busch InBev com um forte corte no programa de participação de resultados da empresa no primeiro trimestre.

Essa decisão, por sua vez, gerou uma reação do sindicato paulista Sindpd, com direito a ameaça de greve e o vazamento de um polêmico vídeo com uma conversa interna com funcionários do fundador e CEO da CI&T, César Gon. Desde então, a situação parece ter se tranquilizado. 

Tudo isso é muito distante dos anos dourados da CI&T, que nem estão tão longe assim: em 2021, a empresa fechou o ano com uma receita de R$ 1,44 bilhão, uma alta de 51% na comparação com 2020.

De todas formas, a decisão da CI&T de enviar uma nota para imprensa contendo números que podem ser considerados fracos não deixa de ser uma demonstração de transparência e confiança no futuro. 

(A prática mais comum nesse caso, adotada inclusive pela CI&T nos momentos mais críticos, é não enviar notas para a imprensa e fazer apenas a divulgação obrigatória no site).

O fundador da CI&T, César Gon, inclusive dá uma nota otimista na nota para a imprensa, ainda que na linguagem meio empolada que se usa nessas coisas. 

"Os resultados do primeiro trimestre de 2024 demonstram a resiliência e a adaptabilidade da CI&T em um ambiente macroeconômico desafiador. Com um foco renovado na inteligência artificial e na inovação, a empresa está bem posicionada para continuar a sua trajetória de crescimento e entregar significativo valor a seus clientes e acionistas", afirma Cesar Gon, fundador e CEO da CI&T.

Gon inclusive entra num comentário mais específico sobre os números, ainda que usando uma linguagem algo críptica para quem não está familiarizado com balanços. 

"Estamos bastante otimistas. Temos o prazer de anunciar uma receita com 70 pontos base acima do que guiamos para o 1T24 e projetamos ao menos 350 pontos base de aumento sequencial no 2T24. Estimamos que isso vai se acelerar nos próximos meses, levando a uma retomada do crescimento em 2024", complementa Gon.