SHOULD I STAY

SAP vai bancar fim do suporte em 2030?

Or should I go? Pelas contas da Gartner, a gigante alemã pode ter que dar para trás.

14 de fevereiro de 2025 - 07:22
"So SAP has to let you know: should I stay or should I go?". Foto: Helge Øverås.

"So SAP has to let you know: should I stay or should I go?". Foto: Helge Øverås.

A SAP pode se ver obrigada a dar para trás (de novo) no fim do suporte da sua atual geração de produtos Business Suite 7, incluindo o componente de ERP ECC 6.0. 

O motivo: se os clientes decidirem permanecer na versão antiga e on-premise do seus produtos, a SAP pode acabar ficando junto para não perder a receita de suporte para provedores de suporte terceirizado. 

Vamos aos dados. Segundo o relatório do Gartner divulgado pelo site The Register, hoje 60% dos clientes da SAP seguem rodando o bom e velho ECC 6.0, lançado lá em 2005. 

A projeção do Gartner é que uma parte importante desses clientes siga postergando a migração para o S/4 Hana, apresentado pela primeira vez em 2015. 

A expectativa é que 24% da base de clientes da SAP chegue a 2030, data final do suporte, usando ainda o ECC. 

Até pouco tempo atrás, o roadmap da SAP previa que o suporte normal com updates encerraria em 2027. Os três anos seguintes seriam do chamado “extended support”, com custo adicional de 3% e sem as atualizações do produto. 

Vale lembrar que essas datas já são uma prorrogação. A data original para o final do suporte normal era 2025. Em 2020, foi anunciado o  prolongamento para 2027. 

A SAP vinha se atendo a isso até pouco tempo atrás, mas no começo do ano vazou na imprensa os planos para o “SAP ERP, private edition, transition option”, uma forma de alguns clientes ficarem mais tempo no ECC.

Numa situação até agora bastante confusa, a SAP confirmou os planos e disse que o lançamento oficial deve acontecer ainda no primeiro semestre.

Em uma notinha aqui, um comentário do CEO acolá, ficou claro que a novidade deve ser para poucos

O que se sabe é que a iniciativa deve focar em “pouquíssimos clientes” com com “cenários de TI grandes e muito complexos”, e que já tenham embarcado no Rise With SAP, uma iniciativa da SAP focada justamente em promover a migração para o S/4. 

O cliente precisa estar com um pé dentro do upgrade para ganhar um pouco mais de tempo da SAP, por tanto. 

O que o Gartner está dizendo é outra coisa: a possibilidade é que a SAP opte por mais uma prorrogação simplesmente para não perder um monte de receita para provedores de suporte terceirizados, dos quais o mais ativo no Brasil é a Rimini Street. 

Na visão dos analistas do Gartner, uma parte importante dos clientes não está convencida a embarcar nos custos e dificuldades da migração para o S/4 com base nos benefícios tecnológicos e nos incentivos que a SAP tem colocado para isso.

Em 2027, os clientes vão ter que decidir se querem pagar mais para receber os mesmos SLAs, recebem correções de bugs e patches de antes. Aí é quando entram em cena os fornecedores de suporte terceirizado, que focam em oferecer justamente isso, por um preço menor do que o suporte normal. 

“Isso se deve puramente à limitação da SAP em relação à data de término do suporte, o que obriga os clientes a avaliar todas as opções”, disse ao The Register Calum McDonald, analista do Gartner para assuntos de gerenciamento de fornecedores.

De acordo com Calum, apesar das “limitações técnicas” do que pode ser feito por terceiros em relação ao suporte da SAP, podem pesar mais para os clientes os custos envolvidos de uma migração para S/4.

A bola está no campinho SAP, que pode se converter em um concorrente para si mesma ao empurrar um número de clientes significativos para o braço de fornecedores de suporte terceirizados, perdendo no processo um produto com margem de lucro muito alta como o suporte. 

“Será que eles vão abandonar uma receita de margem muito alta ou colocá-la em risco para milhares de clientes do ECC em 2030? Será que eles podem?”, questiona Bill Ryan, o VP para a área de gerenciamento de fornecedores do Gartner. 

As primeiras pistas sobre os rumos futuros da SAP devem ser dadas quando a empresa finalmente dizer quem vai entrar no tal “SAP ERP, private edition, transition option”, que certamente ainda deve receber um nome novo. 

Os grandes clientes da SAP, principalmente nos países de língua alemã na Europa, são muito bem organizados e certamente estão fazendo um grande trabalho de bastidores para que o programa inclua todo mundo que quiser. 

Quando começarem a surgir os nomes das empresas que embarcaram no prolongamento do ECC por meio do Rise With SAP, começa uma nova rodada de pressão de companhias que ficaram de fora. 

E quando tudo isso ficar definido, será possível ter uma ideia de quanta gente entrou no barco rumo ao S/4 e quanta gente decidiu ficar em terra, pagando para ver se a SAP não vai recuar de novo em 2027. 

RIMINI ESTÁ SE MEXENDO

Dos provedores de suporte terceirizado, a mais conhecida é a Rimini. Apesar de ser muito menor que a SAP, a companhia está fazendo movimentos efetivos para aproveitar a oportunidade gerada pelo fim do suporte. 

Em uma entrevista recente para o Baguete, o CEO da Rimini Street, afirmou que a empresa está preparada para oferecer suporte ao ECC por 15 anos, ou seja, até 2039. 

Clientes SAP são mais um menos um terço da receita total da companhia, que fica na casa do bilhão de dólares.

A Rimini também está fazendo acordos para melhorar a atratividade do suporte terceirizado do ponto de vista tecnológico. 

Recentemente, a empresa fechou um acordo para se tornar uma implantadora das soluções da ServiceNow, empresa destaque no nicho de gerenciamento de fluxos de trabalho.

A ideia é usar parte da economia gerada no suporte para financiar a implementação das soluções de otimização de processos de negócios da ServiceNow, em áreas como TI, atendimento ao cliente, recursos humanos e operações empresariais.

“Os sistemas do século XX geraram uma complexidade que atrapalha a inovação no século XXI”, disse na ocasião Bill McDermott, presidente e CEO da ServiceNow. “Essa parceria oferece aos clientes uma plataforma mais unificada e inteligente, permitindo maximizar investimentos em software e acelerar a transformação”, completou McDermott.

Sim, esse é aquele Bill McDermott, que até 2019 era CEO da SAP.