Fundador da SAP, Plattner não mediu palavras. Foto: SAP.
Hasso Plattner, atual presidente do conselho de administração da SAP, abriu o jogo em uma longa entrevista com o Handelsblatt, o maior jornal de economia da Alemanha, criticando abertamente parte da estratégia adotada pelo ex-CEO, Bill McDermott, ao longo de uma década no cargo, principalmente no tocante a aquisições.
“Nós compramos algumas empresas porque eles tinham uma quantidade bacana de usuários. Isso não é o suficiente”, afirmou Plattner, que não costuma ter papas na língua nem poupar a SAP de críticas, mas dessa vez foi duro, mesmo para os seus padrões.
Segundo Plattner, o último dos cinco fundadores envolvidos diretamente na SAP, a estratégia de McDermott de manter as companhias adquiridas nos Estados Unidos com uma atuação independente gerou um conflito com a matriz alemã, além de problemas de integração tecnológica.
Plattner chegou a citar como exemplo de uma política de integração de empresas adquiridas da concorrente Oracle, o que é um requinte de crueldade.
“Tão logo a Oracle compra uma empresa, os chefes antigos vão para casa. Isso foi assim inclusive com o CEO da Sun. E isso nós devemos fazer no futuro, porque só existe um caminho: o da integração”, disse Plattner. “A integração na SAP não funciona, isso é um fato”, concluiu Plattner.
Plattner só deu um exemplo mais direto dos problemas de coordenação entre a SAP e as empresas adquiridas, citando o caso da Ariba, companhia de e-procurement comprada pela SAP em 2012, por US$ 4,3 bilhões.
“A Ariba prometeu coisas para os nossos clientes que já estavam disponíveis há tempo no nosso sistema central”, citou Plattner. “Como estava tudo tão separado, havia pouco controle e nossos colegas americanos se sentiram seguros demais”, agregou.
Exemplos parecidos com o citado pelo fundador da SAP, no entanto, podem ter acontecido em qualquer uma das grandes empresas adquiridas pela SAP na última década.
A última grande compra da SAP foi Qualtrics, uma startup especializada em tecnologia de pesquisa de satisfação de consumidores e empregados, por € 8 bilhões.
O valor foi mais ou menos o dobro do que a Qualitrics, uma companhia com 9 mil clientes e uma expectativa de faturar US$ 400 milhões em 2018, pensava obter abrindo capital na bolsa.
A SAP também deixou US$ 8,5 bilhões para levar a Concur, uma empresa de gerenciamento de despesas de viagem baseada na nuvem, em 2014, e outros US$ 3,4 bilhões pela SucessFactors, dona de uma solução cloud na área de RH, ainda em 2011, para citar outras duas compras de peso em uma longa lista.