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Elea: o último data center de Porto Alegre?

Em meio ao caos, empresa se salva por ter centro de dados em área elevada da cidade.

08 de maio de 2024 - 06:52
Área do Quarto Distrito em Porto Alegre. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Área do Quarto Distrito em Porto Alegre. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

A Elea, uma das maiores empresas de data centers do país, pode ser a dona do último data center plenamente operativo em Porto Alegre neste momento.

Em uma nota divulgada nesta terça-feira, 7, a empresa explica medidas tomadas na capital gaúcha em função da enchente que atinge a cidade, e afirma que o POA1, um dos seus dois data centers na cidade, é o “único com acesso seco” em Porto Alegre.

Segundo a Elea, o centro abriga 80% da capacidade 4MV dos data centers da empresa no Rio Grande do Sul, e está no momento “abrigando emergencialmente” importantes empresas e instituições. 

A reportagem do Baguete vai checar o status de outros grandes players de data center em Porto Alegre, mas a afirmação da Elea é provavelmente verdadeira, ou pelo menos, verdadeira na maior parte. 

(É preciso ter em conta que muitas empresas tem seus próprios centros de dados, estruturas de porte que seguem funcionando, como no caso do Sicredi ou do Banrisul, ambos situados em áreas seguras da cidade).

Isso porque o POA1 fica no bairro Bela Vista, uma área nobre de Porto Alegre, que fica elevada em relação ao Guaíba e Jacuí, os grandes rios que envolvem a cidade. 

Pelo custo do metro quadrado, um dos mais caros da cidade, não se trata de um destino tradicional de empreendimentos que demandam espaço, como um data center de grande porte.

O destino tradicional para se ter um data center em Porto Alegre é o chamado 4º Distrito, uma área que engloba vários bairros entre o centro e o aeroporto da cidade, todos situados à margem do rio Jacuí e muito afetados por inundações no momento.

O 4º Distrito era a área industrial de Porto Alegre até os anos 70, entrou em degradação nos anos seguintes.

Hoje, a região dos bairros Floresta, São João e Navegantes  é um destino popular para quem está interessado em grandes armazéns industriais vazios, como microcervejarias, o badalado hub de inovação Instituto Caldeira, e, também, data centers.

A própria Elea tem um data center na área, batizado de POA2, que foi evacuado no sábado, 4, para garantir a segurança das equipes.

Segundo a Elea, o centro fechado abrigava principalmente “pontos de troca de tráfego”, e os clientes foram “prontamente notificados” e puderam realizar a migração de seus sistemas críticos em tempo.

A empresa não chega dizer quanto fez o alerta. Até o meio-dia da sexta-feira, 3, a região do 4º Distrito estava relativamente segura, o que mudou rápido com a ruptura de uma das comportas responsáveis por conter o avanço do Jacuí.

Nesta quarta-feira, 8, a região registra dois metros de água em alguns pontos, sendo um dos principais focos dos esforços de resgate na capital gaúcha. 

No seu texto, a Elea diz ainda que está organizando uma rota logística emergencial para manter o provisionamento de recursos essenciais como fibra, conectores de rede e tomadas elétricas à Porto Alegre, visando manter a operação do POA1.

Em Curitiba, no Paraná, a companhia montou um centro logístico de operações emergenciais de onde está enviando meios de transporte, peças, equipes e mantimentos ao município gaúcho.

Empresas de data center adoram fazer mistério sobre a localização exata dos seus centros de dados, mas Porto Alegre não chega a ser uma grande metrópole e quem está envolvido na área sabe que Vtal, Scala e Oi tem todos data centers instalados nos arredores do Quarto Distrito.

Perto do data center da Oi, inclusive, ocorreu uma explosão de um posto de gasolina neste final de semana, porque desgraça pouca é bobagem em Porto Alegre nos últimos dias.

Vale lembrar que o consenso dos especialistas é que a água pode demorar até 10 dias para voltar ao nível normal em Porto Alegre - se não voltar a chover forte no Rio Grande do Sul, o que está previsto para acontecer no final de semana.

PROCERGS APAGOU DATA CENTER

Os centros de dados localizados no 4º Distrito não são os únicos em apuros até o momento em Porto Alegre.

No final da tarde desta segunda-feira, 6, a Procergs, estatal de tecnologia do Rio Grande do Sul, desligou o seu data center, localizado em outra parte da cidade, a 6 quilômetros de distância.

A decisão foi tomada para tentar preservar os equipamentos e evitar um colapso total da rede, uma vez que o local estava sendo tomado pela água. Em nota, o governo do Rio Grande do Sul informou que foram atingidos o quadro elétrico, no-breaks e geradores.

Com a medida, sites do governo gaúcho e serviços prestados pela Procergs ficaram inoperantes e ainda não se sabe totalmente a extensão do problema que isso vai causar.

No caso da Procergs a localização também é chave para entender o problema.

O prédio fica na frente da sede administrativa do estado, construída mais ou menos na mesma época, e ambas estão situadas em cima de um grande aterro feito nos anos 60 sobre o rio Guaíba (ou lago, para quem quiser).

Ao norte da Procergs fica uma das encostas de uma grande elevação que domina o centro de Porto Alegre (no topo ficam o Palácio Piratini, sede do governo, a Assembleia Legislativa e a sede do judiciário).

Para oeste fica o bairro boêmio da Cidade Baixa, sede por muitos anos do Baguete e inundado depois do desligamento da casa de bombas instalada na rótula das Cuias. 

Ao oeste, pouco mais de 1 quilômetro da sede da Procergs, em um terreno totalmente plano fica a massa de água do Guaíba, que está no momento mais alto que em qualquer ponto já registrado, cinco metros acima do nível normal, cobrindo de água toda área do aterro, que vai até o estádio do Internacional, na zona Sul da cidade.