
Greve em uma grande empresa privada seria fato inédito. Foto: Depositphotos.
Os funcionários da Qintess, uma das grandes integradoras de tecnologia do país, decidiram entrar em greve a partir da meia noite da próxima segunda-feira, 10.
A decisão foi tomada em uma assembleia virtual do Sindpd, sindicato dos profissionais de TI de São Paulo, na última sexta-feira, 31.
No comunicado de greve, divulgado no seu site e na Folha de São Paulo neste final de semana, o sindicato afirma que os motivos da greve são "reiterados atrasos" no pagamento de salários, vales, banco de horas, FGTS, INSS e não pagamentos de demitidos.
A reportagem do Baguete procurou a Qintess e vai atualizar a matéria caso receba uma resposta.
A decisão não veio de uma hora para outra. Segundo nota do Sindpd, o sindicato realizou "inúmeras tentativas de diálogo” infrutíferas com a Qintess, sem dizer ao longo de quanto tempo.
O sindicato decidiu escalar na sexta-feira, 23, ao realizar uma assembleia extraordinária na qual debateria uma greve, um passo preliminar para efetivamente declarar a paralisação.
De acordo com o Sindpd, o encontro teve a participação de 900 dos 2,6 mil funcionários da empresa em São Paulo, área de atuação do sindicato (no país, o número fica na casa dos 3,5 mil).
Já no dia anterior, com conhecimento da reunião convocada para o dia seguinte, advogados da Qintess teriam então reagido pedindo cinco dias úteis para prestar esclarecimentos e anunciar providências.
O Sindpd não chega a dizer se a resposta não veio, ou se veio e foi considerada insuficiente. A greve em todo caso foi convocada, mas com uma margem de uma semana, o que deve dar tempo para a Qintess reagir.
Uma greve em uma empresa privada de tecnologia do porte da Qintess seria algo sem precedentes no mercado de TI do Brasil, pelo menos até onde a reportagem do Baguete consegue lembrar.
As paralisações costumam acontecer apenas nas empresas públicas, onde os funcionários têm estabilidade e a influência dos sindicatos é muito maior.
Nesse sentido, a mera discussão pública da situação na Qintess já é um grande instrumento de pressão do sindicato nas negociações com a empresa, cujo impacto deve aumentar nos próximos dias.
Como parte dos procedimentos legais para iniciar uma greve, o Sindpd vai comunicar 70 grandes empresas e órgãos tomadores de serviço da Qintess nos próximos dias.
A lista de clientes inclui nomes de peso como Via Varejo, Natura, Raizen, IBM, Banco Santander, Banco Pan, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, além de órgãos públicos como Tribunal Regional do Trabalho, Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, Ministério da Justiça, entre outros.
O nome Qintess é relativamente novo, tendo sido adotado no final de 2019. Mas as empresas que deram origem à organização são todas conhecidas no mercado de TI.
O começo da história está em 2011, quando um grupo investidores liderados pelo americano Nana Baffour comprou a Cimcorp, então uma das grandes integradoras de tecnologia do país.
Em 2014, a Cimcorp comprou os negócios das empresas Damovo, Getronics e Sopho no Brasil.
A grande tacada veio em 2019, quando a Cimcorp comprou a Resource, outra grande integradora de TI.
Ao contrário da Cimcorp, cujos anos dourados ficavam mais para o começo do milênio, em 2000, a Resource fechou 2018 com um faturamento de R$ 470 milhões, um crescimento de 20% em relação a 2017.
Já sob o nome Qintess, a empresa fez mais algumas aquisições, como a CSC Brasil, uma companhia que está entre as maiores especialistas no assunto análise de dados e Business Intelligence do país.
Os problemas apontados pelo Sindpd nos seus comunicados indicam problemas de caixa, cuja profundidade não é possível apontar no momento. Os próximos dias devem trazer novidades no tema.