Neogrid está de saída da bolsa. Foto: Depositphotos.
Um fundo de investimento ligado a herdeiros do Itaú vai comprar o controle da Neogrid e tirar a empresa da bolsa de valores, em um negócio estimado em R$ 150 milhões.
O comprador é a Dalpe, do grupo de investimentos Hindiana, comandado por Alfredo Vilela Filho, de uma das famílias controladoras do Itaú e um dos diretores da Itaúsa.
A operação se chama um pedido de registro de oferta de fechamento de capital (OPA), pelo meio da qual a Dalpe oferece R$ 29 por ação da Neogrid, visando comprar pelo menos 54% do capital social.
Ainda não está claro como vai ficar a composição acionária no final do processo.
Hoje, os fundos de investimento Yafo e Izmir e os acionistas David Abuhab e Isaac Abuhab, filhos do fundador Miguel Abuhab, detêm 55,38% do capital. O restante está nas mãos de pequenos investidores, que poderiam aderir à oferta ou não.
O valor de R$ 29 é 10,1% maior do que o fechamento do mercado em 19 de dezembro de 2025 e em torno do valor que os papéis foram negociados ao longo de 2025 (ainda em 2024, os preços ficavam acima de R$ 100, ainda assim uma grande queda do pico de R$ 1159 em janeiro de 2021, logo depois da abertura de capital).
Como os atuais controladores se comprometeram a vender ações em volume suficiente para que a ofertante chegue à quantidade mínima, o negócio é certo.
Os novos donos já disseram que o Miguel Abuhab continuará acompanhando o negócio, com o cargo de executivo chairman, além de liderar o Comitê de Inovação, e que o CEO segue Nicolás Simone, que assumiu a liderança da Neogrid em junho.
Simone, aliás, parece ter liderado uma virada na Neogrid que colocou a empresa no ponto para ser adquirida.
Contratado para uma posição na área de tecnologia em 2024, o executivo uruguaio veio dos Estados Unidos, onde foi vice-presidente global de Engenharia Digital de Produto do McDonalds.
Simone também foi por um período como diretor executivo da Petrobras para a área de tecnologia e passou por cargos importantes na área de TI da Lojas Renner, Itaú e O Boticário.
O que ele não tinha era uma passagem significativa por uma empresa de tecnologia, e muito menos como CEO, um cargo no qual a Neogrid teve três nomes diferentes nos cinco anos anteriores, todos contratados depois da abertura de capital e da saída do fundador da operação diária.
Ainda em novembro, a Neogrid divulgou alguns números positivos para o trimestre, incluindo um EBITDA ajustado de R$ 9,4 milhões, o melhor da empresa desde o quarto trimestre de 2021 e o equivalente a uma margem ajustada de 13,8% sobre a receita.
O EBITDA ajustado é um indicador comum nesse tipo de divulgações e reflete o lucro operacional de uma empresa antes de juros, impostos, depreciação e amortização, corrigido para excluir efeitos pontuais ou não recorrentes.
A empresa também destacou que o caixa líquido de empréstimos, financiamentos e obrigações com as empresas adquiridas finalizou o trimestre com saldo de R$ 115,8 milhões, um crescimento de 15,1% em relação a setembro de 2024.
Tudo isso é importante porque em 2024, a Neogrid teve prejuízo de R$ 33,8 milhões.
O outro lado é que a empresa não está crescendo. A receita líquida fechou o trimestre em R$ 67,9 milhões no trimestre, uma queda de 1,1% frente ao mesmo resultado do ano anterior. No acumulado dos nove meses, a cifra é R$ 205,8 milhões, uma alta de 0,7%.
Agora é ver o rumo que os novos donos darão para o negócio. A Neogrid é conhecida como fornecedora de software para gestão de supply chain, atuando junto a 37 mil indústrias, cinco mil distribuidoras e 230 grandes redes varejistas no País e no exterior.
A empresa também tem uma grife importante vinda do fundador. Criada em 1999, a Neogrid é o segundo negócio criado por Abuhab, que já havia fundado no final dos anos 70 a Datasul, uma empresa chave no cenário nacional de tecnologia, vendida para a Totvs em 2008 por R$ 700 milhões.
