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Fred Amaral (Foto: Divulgação)
Se você já tentou extrair algo útil de um modelo de linguagem com um prompt vago, sabe: a diferença entre uma resposta genérica e um resultado preciso não está na inteligência da IA, mas na qualidade da sua pergunta. Prompting não é um hack, não é um segredo técnico reservado a especialistas. É, acima de tudo, comunicação clara e intencional — uma habilidade que, ironicamente, muitos negligenciam até em interações humanas.
Nos últimos meses, na empresa a qual lidero, refinamos um framework de prompts que hoje orienta desde o guideline para desenvolvimento de novos produtos até revisões de código. O que começou como um experimento virou lição repetida: não existe IA poderosa o suficiente para compensar um prompt mal feito. Técnicas como Chain-of-Thought (CoT) ou Few-Shot Learning ajudam, mas são apenas ferramentas. O cerne do prompting eficaz está em algo mais fundamental: saber articular o que você realmente quer e, para isso, você precisa entender profundamente seu negócio.
O mito do "truque secreto"
Há quem acredite que prompting se resume a encontrar a combinação mágica de palavras que "desbloqueia" a IA. Esse pensamento é enganoso. Um bom prompt não manipula o modelo, ele otimiza a comunicação. Se você já precisou reexplicar uma demanda a um colega de trabalho porque a primeira versão era confusa, já entende o princípio. Com IAs, a lógica é a mesma, só que sem a paciência humana para perguntar “como assim” três vezes seguidas.
No meu dia a dia, uso quatro pilares para um prompt eficaz, que também servem para conversa entre humanos. Seja para um LLM (Modelo de Linguagem Grande), um cliente ou um parceiro de equipe, comunicar-se bem exige:
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Clareza cirúrgica
Elimine as ambiguidades. Em vez de “analise os dados”, diga “liste as 5 principais métricas de churn do último trimestre em ordem decrescente e acrescente uma breve explicação da causa raiz de cada item”. Inclusive, por experiência própria, prompts com exemplos concretos aumentam a precisão de respostas.
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Contexto que justifica a pergunta
IAs não leem mentes. Explique o porquê: “Preciso disso para priorizar ajustes no modelo de retenção” direciona melhor que um comando seco. Inclusive, acredito que reuniões seriam 30% mais curtas se todos começassem explicando o objetivo do que vão dizer.
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Didática na estrutura
Quebre requests complexas em passos, ou melhor dizendo como um jargão do mercado “fatie o boi em bifes”. Solicite primeiro que exista uma análise dos dados, depois que seja feita uma identificação de padrões, uma comparação com outros dados históricos e assim por diante.
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Direcionamento do formato
Especifique se quer uma tabela, um resumo executivo, uma arte específica ou código comentado. Na vida real, é como dizer “dê um parecer de dois parágrafos para o board” em vez de “me explique isso”. Seja claro ao identificar a persona que deve receber aquele conteúdo. Por exemplo, se preciso criar um conteúdo para um time não técnico, deixo isso de forma explícita no prompting.
O paradoxo da era da informação: comunicamos mais, porém, pior
O prompting expõe uma deficiência que o excesso de canais de comunicação mascarou: desaprendemos a fazer perguntas robustas. Em um mundo de mensagens curtas e reuniões ágeis, perdemos o hábito de estruturar pensamentos com clareza e rigor.
Então, treinar prompts é, na verdade, um exercício de autoconsciência comunicativa, algo que beneficia qualquer interação, digital ou não.
Dominar essa arte vai além de melhorar resultados com IA. É:
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Treino de pensamento crítico (o que realmente preciso?);
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Anti-vício corporativo (menos "vamos alinhar", mais "preciso da decisão X para avançar no prazo Y");
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Vantagem competitiva (em um mercado onde tempo = dinheiro, quem comunica melhor erra menos e entrega mais rápido).
Assim, a IA só reflete nossa capacidade de dialogar e de sermos objetivos no que queremos ter de resultados. Modelos de linguagem são espelhos distorcidos da nossa própria comunicação. Eles revelam, sem pudor, quando falamos sem foco, sem contexto ou sem propósito. O desafio não é aprender a "falar com robôs", mas reaprender a expressar ideias com precisão, habilidade que, não por acaso, define os melhores líderes, desenvolvedores e estrategistas.
No fim, prompting não é sobre tecnologia. É sobre ter profundidade sobre o que se fala e o que se quer de resultado. E isso, definitivamente, não é truque. É o diferencial mais subestimado do século 21.
*Por Fred Amaral, fundador da Lerian.