MENSAGENS

WhatsApp: disparo em massa na mira das eleições

De acordo com a Folha, empresas estão comprando pacotes de disparos de mensagens políticas no app.

18 de outubro de 2018 - 10:42
De acordo com a Folha, empresas estão comprando pacotes de disparos de mensagens políticas pelo WhatsApp. Foto: Pexels.

De acordo com a Folha, empresas estão comprando pacotes de disparos de mensagens políticas pelo WhatsApp. Foto: Pexels.

O uso do WhatsApp para campanha política, já famoso pelo envio de mensagens virais e compartilhamento de notícias falsas, agora ganha um novo capítulo. De acordo com a Folha de São Paulo, empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no app.

A Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12 milhões e que entre as empresas compradoras está a Havan. Os acordos são para disparos de centenas de milhões de mensagens.

O jornal reforça que a prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.

As empresas compram o serviço de disparo em massa usando a base de usuários do próprio candidato apoiado (Jair Bolsonaro - PSL) ou bases vendidas por agências de marketing digital. A ação também é ilegal, pois a legislação eleitoral proíbe compra de base de terceiros, só permitindo o uso das listas de apoiadores do próprio candidato (números cedidos de forma voluntária). 

Os preços variam de R$ 0,08 a R$ 0,12 por disparo de mensagem para a base própria do candidato e de R$ 0,30 a R$ 0,40 quando a base é fornecida pela agência. A Folha procurou empresas que oferecem o serviço, entre elas Quickmobile, Yacows, Croc Services e SMS Market.

A publicação também procurou Luciano Hang, dono da Havan, que disse não saber "o que é isso" ao ser questionado sobre disparo de mensagens em massa.

O sócio da QuickMobile, Peterson Rosa, afirmou à Folha que a empresa não está atuando na política neste ano e que seu foco é apenas a mídia corporativa. Ele nega ter fechado contrato com empresas para disparo de conteúdo político. 

Richard Papadimitriou, da Yacows, afirmou que não iria se manifestar. A SMS Market não respondeu aos pedidos de entrevista. 

Na prestação de contas do candidato Jair Bolsonaro (PSL), a empresa AM4 Brasil Inteligência Digital é citada para serviços de mídias digitais, em contrato de R$ 115 mil.

Marcos Aurélio Carvalho, um dos donos da empresa, afirma que AM4 tem apenas 20 pessoas trabalhando na campanha e que a empresa mantém apenas grupos de WhatsApp para denúncias de fake news, listas de transmissão e grupos estaduais chamados comitês de conteúdo.

Em contato com ex-funcionários e clientes, a Folha apurou que o serviço da AM4 não se restringe a isso. Uma das ferramentas usadas pela campanha de Bolsonaro é a geração de números estrangeiros automaticamente por sites como o TextNow. Funcionários e voluntários dispõem de números assim para administrar grupos ou participar deles. 

Com códigos de área de outros países, os administradores escapam dos filtros de spam e das limitações impostas pelo WhatsApp, como repasse automático de uma mesma mensagem para até 20 pessoas ou grupos. 

Outra prática utilizada, que não é considerada ilegal, é o uso por administradores de algoritmos que segmentam os membros dos grupos entre apoiadores, detratores e neutros. Assim, é possível customizar o tipo de conteúdo enviado de acordo com o público.