Pedro Teberga (Foto: Divulgação)
Startups em alto crescimento geram empregos e elevam a produtividade, mas têm enfrentado dificuldades para atrair capital de risco no Brasil. O venture capital (VC) é crucial para a expansão, como mostram gigantes globais que se beneficiaram de seus aportes. No cenário atual, de juros altos e inflação, a captação se tornou mais desafiadora, exigindo ajustes de estratégia. Muitas empresas tiveram de rever valuations e reduzir quadros, priorizando modelos sustentáveis que provem resiliência em diferentes ciclos.
No primeiro trimestre deste ano, as startups brasileiras captaram 34,2% menos do que no mesmo período do ano anterior, segundo o Inside Venture Capital da Distrito. O contraste com 2021, quando os aportes triplicaram no país, é marcante. A retração afetou sobretudo startups maduras, enquanto rodadas seed cresceram 87%. O recado é claro: investidores continuam atentos a bons times capazes de resolver dores relevantes do mercado.
Nesse contexto, ganha relevância o conceito de Business Capital Fit (BCF), que sistematiza fatores de alinhamento entre negócios e fundos de VC. Diferente do product market fit (PMF), que foca no encaixe entre produto e mercado, o BCF organiza dimensões críticas que ampliam as chances de sucesso na captação.
O primeiro fator é a equipe. Estudos indicam que 60% das falhas de startups decorrem desse ponto. Experiência técnica amplia recursos do time, mas competências comportamentais e de execução são igualmente decisivas. Para 95% dos VCs americanos, o perfil dos fundadores é central. No Brasil, investidores como Livia Brando (Vox Capital) destacam a importância de formar times fortes e com abertura para pivotar.
Outro fator é o modelo de negócio, relevante para 74% dos VCs, seguido de mercado (68%) e setor (31%). SaaS, marketplaces e direct-to-consumer lideram preferências. Reid Hoffman observa que margens altas, efeitos de rede e escalabilidade são diferenciais cruciais. Globalmente, SaaS, e-commerce, saúde e serviços financeiros concentram os maiores aportes.
Também pesa a tese de investimento de cada fundo, que define estágio, setor e modelo buscados. O ciclo clássico vai do anjo à série B, mas nem sempre todas as fases são percorridas. Fusões e aquisições ou crescimento com caixa próprio podem ser caminhos. A recente correção nos valuations ampliou o espaço para M&As. A diluição dos sócios segue padrões relativamente previsíveis, segundo Capshar e Astella, e deve preservar os incentivos da equipe. No pré-seed, o ideal é manter acima de 75% da participação com os fundadores. Em SaaS, a alocação típica dos recursos é de 60% em marketing e vendas, 30% em produto e 10% em administração.
Networking e ecossistema completam o quadro. Mais de 30% dos negócios vêm de contatos de VCs e 20% de referências de outros investidores. CEOs precisam dedicar cerca de 25% do tempo à captação. Ecossistemas sólidos fortalecem scaleups e os círculos de influência conhecidos como “máfias”, como as do PayPal e do Rappi, que evidenciam a retroalimentação de talento e capital.
A seleção é dura: de cada 100 startups analisadas, apenas uma recebe aporte. Ainda assim, o impacto é desproporcional. Nos EUA, menos de 1% das novas empresas capta, representando apenas 0,2% do PIB, mas gerando 11% dos empregos privados e 21% da receita. Com a economia global de startups avaliada em US$ 3 trilhões, muito pode se perder quando elas não crescem. O BCF, ao orientar empreendedores e embasar políticas públicas, como na China, pode aumentar o fluxo de capital, reduzir mortalidade e criar negócios mais preparados para o futuro.
*Por Pedro Teberga, professor universitário e especialista em desenvolvimento de negócios digitais. Ele coordena e ministra cursos em instituições como Einstein, Inteli, ESPM, FGV, Centro Universitário Belas Artes e Faculdade Belavista. É professor visitante na NOVA SBE (Portugal).