CAPITAL

É hora de investir em startups

Não conheço “ex-investidores” de startups. A recompensa é muito grande para abrir mão. 

17 de setembro de 2025 - 11:20
Guilherme Enck (Foto: Divulgação)

Guilherme Enck (Foto: Divulgação)

Se você está lendo este artigo, provavelmente é alguém que respira inovação, que entende que o mundo está mudando em alta velocidade. No seu dia a dia profissional, na linha de frente da tecnologia, você sente essa transformação na pele. Essa revolução tecnológica não está apenas redefinindo a forma como as empresas operam, mas está, de forma mais abrangente, redesenhando o mapa da geração de riqueza.

Quando lá em 2018 mergulhei de cabeça na jornada como cofundador da Captable, que hoje é a maior plataforma de investimentos em startups do Brasil, minha vivência em venture capital não era a de um guru. Mas uma coisa eu tinha clareza cristalina: estava acontecendo uma realocação tectônica de capital e talento. Não apenas os empreendedores mais ousados e inovadores, mas também os maiores investidores e gestores de recursos do mundo estavam migrando para o que se conhece como Nova Economia.

É por tudo isso que tenho sido categórico: se você tem seu patrimônio distribuído entre a segurança da renda fixa, a solidez de imóveis e o dinamismo de ações, maravilha! Mas é quase um pecado não ter uma fatia, ainda que pequena, do seu patrimônio em startups, pois este será o seu bilhete para surfar a onda que está gerando os maiores retornos da nossa era.

Posso lhe dizer com a certeza de quem ajudou milhares de pessoas a entrarem nesse jogo: é um caminho sem volta. Como costumo brincar, não conheço “ex-investidores” de startups. A recompensa, tanto financeira quanto a porrada de aprendizado intelectual, é tão viciante e estimulante que você não verá sentido em abrir mão. No meu livro "Como Investir em Startups: Da Teoria à Prática - Um Manual Completo Para Começar Com Segurança" - recém lançado - detalho essa jornada. Independente da forma que você escolher para começar, há alguns princípios-chave que você precisa dominar para ter sucesso.

Estratégia: encaixando a Nova Economia no seu patrimônio

O primeiro passo é ter uma conversa franca com a sua carteira de investimentos. Não estamos aqui para fazer loucura, mas para agregar valor. Pense nas startups como aquele "tempero secreto" que, adicionado à receita, eleva o sabor de tudo. Um portfólio de startups, como parte de uma estratégia maior de gestão de patrimônio, tem o potencial de incrementar a relação risco retorno dos seus investimentos e potencializar os efeitos da diversificação por incrementar a sua carteira com ativos que variam de forma descorrelacionada. Em outras palavras, enquanto o mercado estiver em queda, não necessariamente o valor das suas startups estará em queda, ao mesmo tempo que uma alta de mercado não necessariamente significa um incremento no valor das suas startups.

Meu “número mágico”, aquele que funciona bem para quase todo mundo, é separar 5% do patrimônio total para startups. Pode parecer pouco? Talvez. Mas, acredite, o impacto pode ser gigantesco. Claro, a dose exata depende de você: da sua idade, do quanto você aguenta de risco (e aqui, o risco é alto, não se iluda), e o quão à vontade você se sente nesse ecossistema. E um aviso que sempre reforço no meu livro: estamos falando de longo prazo. Não espere colher frutos antes de 5 ou 10 anos. Construir algo de valor para a sociedade leva tempo. Precisamos respeitar o tempo dos empreendedores na sua árdua jornada para criar uma companhia de sucesso.

Com esse percentual definido, a próxima jogada é montar seu portfólio de startups. Aqui, a regra é diversificar. Não tente adivinhar qual será o próximo unicórnio, porque isso é loteria. A Lei de Potência – essa força que rege o venture capital – nos ensina uma coisa: a maior parte dos seus investimentos vai dar errado. Vai doer? Vai. Mas as poucas que você acertar - as "campeãs" que entregam retornos de 10x, 20x, 30x ou mais - cobrirão todas as perdas e deverão gerar ótimos retornos. Minha sugestão? Mire entre 10 a 20 startups. E não precisa ser de uma vez. O capital você aloca gradualmente, ao longo de 2 a 3 anos, encontrando as oportunidades que você realmente acredita.

Para te dar um exemplo bem prático: se seu patrimônio total é de R$ 1 milhão, e você separou 5%, temos R$ 50 mil para essa aventura. Dividido por 10 startups, você já sabe que seu cheque médio será de R$ 5 mil. É a clareza que precisamos para seguir em frente.

Os Meios: Onde Encontrar as melhores startups

Então, onde a gente encontra essas empresas? Onde colocar seu capital? Se você está começando com aqueles R$ 5 mil por startup, a resposta é simples: plataformas online de investimento. Eu sou suspeito para falar, afinal, a Captable – que tive o privilégio de fundar – é uma das referências nesse nicho do mercado. A beleza dessas plataformas é que elas fazem o trabalho pesado da curadoria inicial. Elas te entregam startups que passaram por um crivo rigoroso, diminuindo sua primeira dor de cabeça. E sim, dá para começar com pouco, com valores a partir de R$ 1 mil.

Outras portas de entrada para quem quer começar com valores menores são as aceleradoras de startups e os grupos de investimento-anjo. As aceleradoras são uma espécie de "intensivão" para as startups, dão o empurrão inicial com mentoria e um pequeno cheque. E os grupos de anjo são pessoas que se reúnem para analisar e investir em conjunto, o que permite cheques totais maiores e um processo de análise mais robusto.

Agora, se você já acumulou um patrimônio mais parrudo, e pode reservar R$ 500 mil ou mais para esse fim, o jogo muda um pouco. Você pode se tornar cotista de um fundo de venture capital (VC). Pense neles como gestores profissionais que montam um portfólio de 15 a 30 startups para você. É a forma mais "passiva" de diversificar e apostar na Nova Economia.

Ainda, com esses valores mais robustos, se o espírito aventureiro te chama e você possui tempo para se dedicar, pode se aventurar como investidor-anjo 'solo'. Aqui, a liberdade é total, mas a responsabilidade de encontrar e analisar as startups é sua. É uma jornada mais intensa, mas incrivelmente recompensadora, como detalho no meu livro ao falar de como construir dealflow, isto é, como fazer as melhores startups procurarem você.

O ponto é: qual o seu perfil? Qual a sua disposição? Independentemente da sua escolha, se você vai botar a mão na massa e analisar suas próprias startups, não basta só estratégia. Você vai precisar de uma tese de investimentos.

Tese de Investimentos: a sua bússola para navegar um mar de oportunidades

A tese de investimentos é a sua bússola. Pensa só: se você, viajante experiente, vai para Londres, não vai olhar 4 mil hotéis disponíveis nas plataformas de reservas, certo? Você filtra. Região, preço, avaliação, amenidades... a tese é o seu filtro para startups. Ela é um conjunto de convicções, de parâmetros que te dizem: "essa aqui vale a pena eu mergulhar a fundo". Como explico no meu livro, é o seu mapa para evitar a dispersão.

Essa tese pode nascer da sua expertise – se você é um mago do agronegócio, por que não focar em agrotechs? Ou da sua capacidade de enxergar potencial em estágios específicos, como faço no meu caso. Gosto de ajudar empresas a validarem seu produto e modelo de negócios, e por isso invisto apenas em empresas que estejam nesse estágio.

Há uma série de parâmetros que podem compor a sua tese. Pense em: estágio (Ideação, MVP, Tração, Escala), setor (eu sou agnóstico, mas muitos focam em fintechs, saúde, IA), modelo de negócio (SaaS, marketplace, B2B, B2C). E, claro, a geografia. Eu, gaúcho apreciador de churrasco e chimarrão, tenho a maioria das minhas investidas perto de casa, em Porto Alegre, pois gosto de me reunir presencialmente com os times das minhas investidas, porém não me restrinjo.

Ao final, o formato da sua tese de investimentos deve se assemelhar à minha: invisto em companhias em fase de MVP ou Tração, sem restrição de setor ou modelo de negócio, mas com a obrigação de terem empreendedores com experiência relevante no segmento e, especialmente, que estejam dedicados ao negócio tempo integral. Se uma startup não cumprir ao menos com esses requisitos mínimos, eu agradeço e desejo sucesso, e não invisto tempo para analisar mais a fundo.

Com essa tese em mãos, você dará tiros mais certeiros. Vai saber o que procura. E isso, meu amigo, é metade da batalha ganha.

A Plena Jornada: Impacto, Relevância e Recompensa

Se você decidir investir diretamente em startups, arrume um bom advogado societário. Ele será seu melhor amigo nas complexidades do jogo jurídico. E um ponto importantíssimo: nunca se esqueça de que você é o investidor, e não o empreendedor. Deixe a liberdade para a tomada de decisões sobre o negócio com quem está no dia a dia da operação. Sua função é apoiar, provocar, ser um advogado do diabo, um mentor, mas sempre respeitando o instinto de quem construiu o negócio.

Você logo descobrirá que, para além dos retornos financeiros (que podem, sim, transformar seu patrimônio), a jornada como investidor de startups é profundamente estimulante sob o ponto de vista intelectual. Ela te desafiará a se aprimorar em múltiplas frentes, proporcionando aprendizados contínuos sobre as mais recentes tecnologias, métodos de gestão inovadores, estratégias de crescimento, técnicas de vendas avançadas e sistemas. É muito mais completo e intenso do que um MBA - e você ainda tem a chance de ganhar dinheiro. Isso, para um líder de TI, por exemplo, significa estar à frente, não só entendendo a inovação dentro de sua empresa, mas também conectado às melhores práticas do novo mundo dos negócios, o que é um baita diferencial competitivo como profissional.

Claro, não há ganhos fáceis neste mercado. Várias das suas startups, infelizmente, não prosperarão. É doloroso, faz parte do jogo. Mas a mágica da Lei de Potência é que uma única 'campeã' pode compensar todas as outras. Não estamos aqui para prometer ganhos fáceis. Estamos aqui para construir riqueza, de forma sóbria, cuidadosa, consistente, e que te coloca no centro da nova economia.

Se você está nesse ponto, sentindo essa provocação, é porque já cruzou uma linha. Não há mais justificativas para ficar de fora. Lembre-se do que Jason Calacanis, um dos super-anjos do Vale do Silício, diz sobre o investimento-anjo: "Os dois primeiros dias de kitesurf ou snowboard são repletos de quedas que te derrubam e fazem seu corpo doer a noite toda. Você pode desistir, justo antes de finalmente conseguir, milagrosamente, ficar de pé na prancha e experimentar a mais mágica descarga de energia da sua vida."

Essa é a sensação de investir em startups. De estar na sala com as pessoas mais inteligentes e interessantes do mundo, aprendendo, rindo, se divertindo, e de quebra, colhendo frutos financeiros. É a sua chance de não apenas observar a transformação, mas de participar ativamente da construção do futuro. De se tornar um dos empreendedores inovadores que o mundo precisa. A escolha, agora, é sua.

*Por Guilherme Enck, cofundador da Captable.