A Atos, uma das maiores empresas de tecnologia da França, pode estar em rumo de virar uma estatal.
Pelo menos, é o que querem dois deputados da Assembleia Nacional francesa, que protocolaram emendas ao orçamento do país para 2024 nesse sentido.
Os dois deputados são de partes diferentes do espectro político: um é do partido conservador do Les Republicans e outro do partido Socialista, que na França fica situado na centro-esquerda.
O plano é o mesmo: nacionalizar a empresa temporariamente por motivos de segurança nacional, uma vez que a Atos atravessa uma crise e os planos de reestruturação sendo discutidos poderiam levar ao controle estrangeiro do negócio.
Um dos deputados afirma que a Atos é responsável por atividades estratégicas como a manutenção dos supercomputadores que controlam o arsenal nuclear francês, além dos sistemas e cibersegurança do país.
A proposta pode fazer sentido para o governo francês, mas o mercado não achou muita graça, provavelmente avaliando que uma estatização temporária pode muito bem durar para sempre.
As ações caíram 12% quando a informação começou a circular na França, deixando o preço no menor valor em duas décadas.
Para ser justo, os planos de estatização não carregam toda a culpa: as ações da Atos acumulam queda de 90% nos últimos três anos, em meio à incerteza sobre o futuro da empresa e demissões de CEOs em série. O valor de mercado fica hoje na casa de € 1 bilhão.
Desde o ano passado, está em discussão um plano para dividir a empresa em duas operações independentes: a Eviden, focada nas operações de digital, segurança e big data, e a Atos Tech Foundations, dona do negócio mais tradicional de data center, hosting, comunicações unificadas e outsourcing de processos de negócios.
Das duas, a Eviden é tida como a parte com potencial de crescimento, enquanto a ATF é a parte de serviços de infraestrutura que vem apresentando problemas nos últimos anos (é a mesma novela da IBM em seu momento).
Não está claro se alguém vai comprar o plano. A Airbus chegou a discutir comprar 30% da nova Eviden, mas deu para trás.
Mais recentemente, surgiu o nome de Daniel Kretinsky, o bilionário tcheco que chamou atenção ao liderar a compra da gigante de varejo francesa Casino.
Talvez tenha sido esse o momento em que a França ficou com uma pulga atrás da orelha.
A Atos está no mercado desde 1988, estando quase todo esse tempo no Brasil, onde tem operações em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Londrina.