
Funcionários da Caixa fazendo flexões.
O Ministério Público do Trabalho notificou o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, pelo que considera um episódio de “constrangimento no trabalho” dentro do banco estatal.
O caso em questão se deu durante um evento de final da Caixa, no qual Guimarães instou cerca de 20 profissionais a fazerem flexões de braço em cima de um palco, com contagem regressiva.
A cena aconteceu durante o segundo dia do evento Nação Caixa, no Bourbon Atibaia Resort, em local de alto padrão em São Paulo, informa o site Poder360.
Como tudo hoje em dia, foram feitos vídeos do momento, que acabaram circulando em redes sociais.
De acordo com os procuradores do MPT, esse tipo de ordem pode configurar assédio moral, que “é uma violência psicológica, tendo o condão de produzir graves consequências à saúde mental dos trabalhadores”.
O MPT recomenda que o executivo não repita a prática, sob pena de responder a processo judicial.
Lido em voz alta, fica engraçado: “Recomenda ao senhor Pedro Duarte Guimarães, que na condição de presidente da Caixa Econômica Federal, abstenha-se de submeter os empregados do banco a flexões de braço e outras situações de constrangimento no trabalho ou dele recorrente sob pena de instauração de procedimento investigatório e adoção de medidas administrativa e judiciais cabíveis”, escreveu o procurador.
No vídeo, não fica muito claro em que contexto Guimarães decidiu que era uma boa hora para incentivar a prática de exercícios. Talvez a decisão tenha que ver com a presença do coronel da reserva e assessor Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, Adriano de Souza Azevedo, que palestrou sobre a experiência que teve no Haiti.
Para quem não lembra, fazer flexões em público era parte do simbolismo do começo do governo Jair Bolsonaro, antes da pandemia do coronavírus.
Bolsonaro fez flexões em público em diferentes ocasiões, em algumas delas acompanhado, como com o governador de São Paulo, João Doria, durante uma visita à escola de educação física da Polícia Militar, em junho de 2019.
O presidente fez flexões em formaturas de policiais rodoviários federais em Florianópolis, numa visita ao 14º Batalhão de Polícia Militar de Goiás e à tropa de elite do Distrito Federal.
O hábito provavelmente tem origem na carreira militar do presidente. No Exército, aparentemente “pagar flexões” é uma atividade recorrente.
No caso da Caixa, as flexões parecem combinar uma sinalização de alinhamento do governo com as práticas de formação de espírito de equipe e motivação dos eventos corporativos, que andam em alta.
Para o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, a flexões no palco no evento da Caixa representam a “cultura autoritária, baseada no assédio moral, no constrangimento e na humilhação” da gestão de Guimarães.
“Um empregado com alto cargo, submetido a este constrangimento, passa a entender que este é o método de gestão que a chefia espera que ele aplique aos seus subordinados. E, dessa forma, a gestão pelo medo vai se alastrando por todos os níveis hierárquicos”, disse o diretor do sindicato e funcionário da Caixa, Dionísio Reis.