FALCATRUA

Detran-RS libera 40 mil certificados sem controle

Novo golpe mostra velha realidade de falta de controle de informações no governo.

10 de outubro de 2024 - 09:32
O CRLV? Paguei R$ 30 no Whats. Foto: Depositphotos.

O CRLV? Paguei R$ 30 no Whats. Foto: Depositphotos.

O Detran-RS emitiu 40 mil Certificados de Registros de Veículos Digital (CRLV) emitidos de forma ilegal, em um esquema operado por despachantes no WhatsApp.

A revelação surge de uma ação da Polícia Civil e da Corregedoria do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) que resultou em 14 mandados de busca e apreensão e na a quebra de sigilos bancários e fiscal de três empresas e oito pessoas em todo o Rio Grande do Sul.

Entre eles as pessoas alvo dos mandados, estão quatro ex-funcionários de Centros de Registros de Veículos Automotores (CRVAs) e dois despachantes

Um CRLV serve para documentar a propriedade de um veículo, sendo utilizado em processos de transferência de propriedade e em outras situações que exijam comprovação de quem é o dono legal do veículo. 

Nos casos da investigação, isso era feito pela porta dos fundos, o que possibilita por exemplo o tráfego de carros clonados ou envolvidos em dívidas e inventários.

O funcionamento do esquema era simples, bastava achar o despachante certo no WhatsApp, pagar uma taxa que ia de R$ 15 a R$ 50 e pedir um CRLV para a placa de carro que a pessoa quisesse, sem precisar comprovar a propriedade do veículo.

Usualmente, quem pode solicitar CRLV é o proprietário ou procurador do dono do veículo. Conforme regras do Detran, "todo serviço deve ser solicitado ao CRVA mediante preenchimento de requerimento e apresentação de documentos". 

Não está claro como os despachantes atuando no “varejo” conseguiam executar o serviço no “atacado” dentro do Detran.

O golpe pode ter sido executado com colaboração direta ou se aproveitado da fragilidade dos controles internos de muitos órgãos públicos sobre senhas, ou quem acessa o quê quando. 

Ainda em 2019, outra operação da Polícia Civil mostrou o quão frágil era a segurança no Detran-RS. 

Na época, foram descobertas quase 100 operações ilegítimas no sistema Gerenciamento de Informações do Detran-RS (GID), que reúne dados cadastrais de veículos, todas usando a senha de acesso de um funcionário.