
Alessandro Germano, diretor de parcerias globais do Google Brasil. Foto: Divulgação/Google Brasil
O Google investiu mais de R$ 10 milhões em projetos com foco na Amazônia que utilizam Inteligência Artificial (IA), Google Cloud e Google Earth Engine, plataforma de análise geoespacial para ajudar na preservação da floresta amazônica.
As iniciativas foram apresentadas em um evento para jornalistas realizado nesta terça-feira, 4, em Belém do Pará.
Cerca de metade do valor, R$ 5,4 milhões, serão investidos no projeto Digitais da Floresta, feito com a The Nature Conservancy (TNC) e com colaboração da Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Trase, uma plataforma on-line de transparência da cadeia de suprimentos para as principais commodities agrícolas.
O investimento será feito 50% em dinheiro e 50% em créditos para a divulgação em anúncios do Google.
Além disso, o Google também irá disponibilizar 13 especialistas em machine learning (ML), geolocalização, UX Design e gerenciamento de projetos para trabalharem por seis meses no desenvolvimento de tecnologias e modelos de AI para a plataforma do projeto.
O Digitais da Floresta será baseado em tecnologias de IA e bioquímica para ajudar a identificar e rastrear a origem da madeira comercializada a partir da Amazônia.
O objetivo é lançar uma plataforma que permita que tanto autoridades como o consumidor final identifiquem se um produto é feito com madeira de origem autorizada ou ilegal.
Para isso, a composição química e isotópica das árvores nativas, ou seja, sua "impressão digital química", será analisada. Este tipo de composição, baseada na distribuição de isótopos de carbono, oxigênio e nitrogênio, garante que a identificação seja imune à falsificação, já que cada localidade possui suas próprias características.
Até o momento, a TNC já iniciou o processo de análise de mais de 250 amostras de diferentes árvores nativas em vinte regiões da Amazônia, que estão sendo analisadas pelo Laboratório de Ecologia Isotópica no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (CENA/USP).
Segundo Luiz Antonio Martinelli, professor titular da USP que coordena a pesquisa no CENA, as amostras vêm em discos de madeira, que são polidos até que tenham seus anéis visíveis. Assim, a celulose é extraída e tem seus isótopos analisados.
"A gente produz mapas de distribuição de isótopos na paisagem. Então a gente vai ter três mapas, um para carbono, um para nitrogênio e um para oxigênio. Através de técnicas de estatísticas, você pode fundir esses três mapas para tentar determinar com a maior precisão possível a origem da madeira", explica Martinelli.
A Imaflora fará parte da segunda fase do projeto, que será focada na construção de uma Interface de Programação de Aplicação (API, na sigla em inglês) que permita que qualquer entidade rastreie a origem geográfica da madeira.
Ela contará com o apoio do Timberflow, uma base de dados da instituição com sistemas oficiais de controle de produtos florestais, que será ampliada com os novos dados analisados.
“A construção de um modelo de IA que seja capaz de estimar onde estava a árvore que deu origem a uma amostra de madeira exige a manipulação e a interpretação de extensas bases de dados”, diz Alessandro Germano, diretor de parcerias globais do Google Brasil.
Já a Trase irá realizar futuramente o projeto de rastreabilidade como um todo, trazendo a certificação de transparência para o processo.
Ainda não há uma estimativa de quando a plataforma final será disponibilizada, mas, de acordo com a TNC, o projeto poderia ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa do Brasil em 178 milhões de toneladas, o que representa 13% da meta brasileira de redução de emissões até 2030.
DESASTRES NATURAIS
Outro tema em foco durante o evento foi a detecção precoce e alertas de incêndios florestais e de inundações, que contam com a parceria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), respectivamente.
Os alertas de incêndios funcionam com IA e utilizam imagens de satélite para detectar estágios iniciais de incêndios florestais, o que ajuda a conter os incidentes mais rapidamente e a reduzir seu impacto, evitando a liberação de grandes quantidades de CO2 na atmosfera.
Já o de inundações, que emite alertas em tempo real no Google Maps e na Busca, passará a mostrar previsões para 27 cidades no Brasil.
Até o primeiro semestre deste ano, o Google irá expandi-lo para mais 20 cidades, além de desenvolver sua plataforma de alertas de inundações para notificações em celulares Android.
Em funcionamento no Brasil desde o ano passado, o Alerta de SOS é ativado para regiões em estado crítico e destaca links de autoridades locais e nacionais, aparecendo no topo dos resultados na Busca
Assim, ao pesquisar por enchentes em alguma região, alertas de inundação, principais notícias sobre o tema, informações sobre as áreas afetadas, contatos e links de autoridades locais são disponibilizados com foco principal.
Já no Maps, é possível visualizar ícones específicos nas regiões impactadas em tempo real pelo celular.
NUVEM EM PROJETOS
Quatro projetos que utilizam o Google Cloud e o Google Earth Engine também foram divulgados nesta terça-feira.
A lista inclui o MapBiomas, uma rede que produz mapas de cobertura e uso da terra; o Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA), organização que torna informações sobre a biodiversidade brasileira acessíveis; o Onçafari, projeto de conservação de onças-pintadas e lobos-guarás; e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).