
Ainda dá para o gasto. Foto: Depositphotos.
O sistema de gestão rodando na maior parte das empresas brasileiras já tem quase uma década de implementação. São muito customizados e rodam fora da nuvem, em um cenário bastante oposto aos planos dos grandes fornecedores de ERP.
É o que aponta uma pesquisa com 60 empresas brasileiras feita pela Kearney, uma das maiores consultorias globais de gestão, e a fornecedora de suporte terceirizado Rimini Street.
Segundo os dados do chamado Benchmark Nacional de ERPs, 72% dos sistemas de gestão em operação foram implementados antes de 2017, quase uma década atrás. Seguindo a linha do tempo, 12% foram implementados entre 2017 e 2019; 6% entre 2020 e 2022; 8% em 2023; e somente 2% em 2024.
Como consequência, a maioria das empresas pesquisadas (63%) ainda mantém seus sistemas fora da nuvem pública (AWS, Azure ou Google Cloud) e em infraestrutura on-premise ou dedicada/nuvem privada.
Um ponto importante é que apenas 10% utilizam a nuvem no modelo de software como serviço. Outros 27% rodam licenças de software na nuvem, o que se chama de “Bring Your Own License”.
Para fechar o quadro, o grau de customização dos sistemas varia entre 25% e 50% (aqui infelizmente as empresas não chegaram a abrir mais detalhes sobre o grau de customização dentro da amostra pesquisada).
De qualquer forma, a quantidade de customizações é vista como o principal problema dos sistemas de ERP pelos pesquisados, com 64% apontando a questão. Outros 43% falam no alto volume de sistemas satélite integrados aos ERPs (43%).
Todo o quadro descrito pela pesquisa da Kearney é mais ou menos o oposto do que os grandes fabricantes de ERP têm martelado como o futuro ao longo dos últimos anos: software como serviço, rodando na nuvem, com um grau baixo de customização, o que seria uma resposta aos problemas de excesso de customização e de sistemas integrados.
Parece uma dessas situações nas quais alguém vende lenços para quem está chorando, mas a pesquisa mostra que não é bem assim.
“Mesmo assim, 47% das empresas ouvidas consideram que seus sistemas de gestão são estratégicos e críticos para seus negócios”, afirma Guilherme Silberstein, diretor especialista da Kearney.
A maioria das empresas considera seus sistemas de gestão estáveis: 80% delas consideram o nível de estabilidade alto; 18%, médio; e apenas 2% o consideram baixo.
Provavelmente, a maioria também lembra do trabalho que deu implementar o ERP atualmente em operação, por mais que isso tenha acontecido há 10 anos: na média, estas implementações duram entre 18 e 24 meses, com custo médio de mais de R$ 25 milhões.
Neste ponto, vale lembrar que o negócio da Rimini é diametralmente oposto aos da fabricantes de ERP: o que a empresa oferece é a possibilidade de manter os sistemas onde eles estão, postergando mais ainda os custos de uma nova migração.
Para muitas empresas, a problemática de migrar ou não o ERP não é um exercício teórico: a SAP lançou em 2015 um novo sistema, o S/4 Hana, e vem trabalhando paulatinamente desde então para converter sua base de clientes para o novo produto.
Em 2027, aliás, acaba o suporte normal para a geração anterior do ERP da SAP, o ECC, o que deve elevar os custos de ficar na tecnologia, impulsionando as empresas para o S/4 (ou, como espera a Rimini, para provedores de suporte terceirizado).