
Marcelo Oliveira (Foto: Divulgação)
A estratégia empresarial, desde sempre, buscou reduzir incertezas. O executivo planeja cenários, calcula probabilidades, define metas e orquestra recursos para atingir um objetivo. A lógica é linear: projetar o futuro, escolher um caminho, alinhar a organização. Mas o mundo em que operamos já não é linear. É quântico.
Assim como na física quântica, em que partículas podem existir em múltiplos estados até que a observação colapse a realidade em uma única forma, as empresas hoje precisam operar em múltiplos futuros simultaneamente.
Mercados hiperconectados, cadeias globais fragmentadas, algoritmos autônomos e ciclos econômicos imprevisíveis criam não apenas incerteza, mas a coexistência de possibilidades divergentes. O desafio não é escolher um cenário, mas construir uma estratégia capaz de sobreviver a todos.
O modelo tradicional de planejamento estratégico pressupunha estabilidade relativa. Era possível projetar tendências de mercado, calcular riscos com base histórica e desenhar planos plurianuais. Hoje, qualquer variável pode se tornar disruptiva em questão de dias: uma mudança regulatória, uma falha de infraestrutura global, uma inovação algorítmica, um salto na taxa de juros.
Empresas lineares tentam reagir a cada choque, mas se desgastam no processo. Já as empresas quânticas aceitam a premissa da multiplicidade: não existe um futuro único a ser planejado, mas futuros concorrentes a serem suportados em paralelo.
No paradigma quântico, a estratégia deixa de ser uma rota e passa a ser uma arquitetura de redundâncias inteligentes. É a mesma lógica aplicada na aviação, em que sistemas duplicados ou triplicados existem para que falhas não resultem em catástrofes.
Para empresas, isso significa investir em portfólios diversificados de inovação, construir modelos de IA que testem hipóteses em paralelo, estruturar cadeias de valor resilientes e preparar a organização para absorver choques sem colapsar. Não se trata de gastar mais, mas de alocar recursos em redundâncias que ampliam adaptabilidade.
Em ambientes de juros altos e pressão por resultados, cresce a obsessão por eficiência absoluta. Cortar custos, reduzir redundâncias, enxugar operações. Mas a eficiência extrema é frágil.
A empresa que corta redundâncias pode apresentar resultados de curto prazo, mas está destruindo sua capacidade de sobreviver a futuros inesperados. É preciso substituir a mentalidade de “quanto menos, melhor” por outra: “quanto mais preparado para cenários paralelos, mais sustentável”.
A IA tem um papel central, não apenas apenas como ferramenta de automação, mas um motor de simulação contínua. Com modelos preditivos, é possível criar, em tempo real, múltiplos cenários de mercado, consumo, crédito e operação, e testar, em paralelo, as possíveis soluções .
Mas existe um ponto inevitável: em algum momento, o mercado “colapsa” para uma realidade, a inflação sobe (ou cai), uma nova regulação surge, o consumidor adere ou rejeita… O colapso é inevitável, e nesse sentido, o sucesso em como antecipar cenários.
Organizações lineares apostam tudo em uma previsão, se erram, o custo é fatal! Organizações quânticas, são anticíclicas, chegam ao colapso preparadas para qualquer desfecho, com redundâncias já estruturadas para capturar valor no cenário que se concretizar.
A empresa quântica não é apenas uma metáfora futurista, mas uma necessidade contemporânea. E a velocidade das decisões algorítmicas supera qualquer capacidade humana de análise: a estratégia precisa ser probabilística, assertiva (com baixo ruído), redundante e adaptativa.
Se o século XX foi marcado por empresas lineares, que buscavam previsibilidade e estabilidade, o século XXI será marcado por empresas quânticas, capazes de operar entre o caos e a ordem, transformando incerteza em ativo para prosperar de forma consistente.
*Por Marcelo Oliveira, diretor de estratégia da Verity.