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Deloitte afirma estar seguindo "diretrizes internas" ao evitar caso (Foto: Depositphotos)
A Punder Advogados, responsável pela busca e apreensão de provas para averiguar uma possível fraude na gestão da Americanas, anunciou que está deixando o caso nesta quarta-feira, 1.
O escritório de advocacia justificou a decisão pelos “riscos de integridade” que acredita estar sujeito como consequência da ação movida pelo Bradesco contra Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, os principais acionistas de varejista e alguns dos homens mais ricos do país.
Traduzindo do juridiquês, a Punder Advogados não quer se envolver numa disputa de pesos pesados do capitalismo brasileiro pode ter consequências imprevisíveis.
Nomeada pelo banco, maior credor da varejista em volume de créditos com uma dívida que chega a R$ 4,8 bilhões, a Punder Advogados tomou a decisão logo após a imprensa divulgar que a EY e a Deloitte, duas das maiores empresas de auditoria do mundo, recusaram um pedido da Justiça paulista para periciar os computadores dos executivos da Americanas.
Segundo a Folha de S. Paulo, enquanto a EY alegou conflito de interesses por já compor o comitê independente de investigações sobre a crise da varejista, a Deloitte disse apenas seguir diretrizes internas.
A Punder já preparava um time de dez pessoas, incluindo um ex-assessor de segurança do serviço secreto israelense, que ficaria abrigado em um bunker sem conexão à internet para evitar o vazamento de dados, conforme reporta o Neofeed.
Assim como proposto à EY e Deloitte, a equipe teria como missão investigar as trocas de mensagens entre diretores, conselheiros, comitês de auditoria e funcionários de contabilidade e finanças da varejista ao longo da última década.
Ao Neofeed, Patrícia Punder, fundadora do escritório, disse acreditar que o caso da Americanas será semelhante ao escândalo Madoff, nos Estados Unidos.
Punder se refere a Bernie Madoff, ex-presidente da Nasdaq e fundador da Bernard L. Madoff Investment Securities.
Em 2008, o empresário confessou que a gestão de patrimônio do seu negócio funcionava sob o maior esquema Ponzi da história, responsável por defraudar mais de US$ 50 bilhões de investidores.
Além disso, a advogada relata ter receio de abrir essa “Caixa de Pandora” e enfrentar possíveis desdobramentos envolvendo o trio controlador da varejista.
“Há desdobramentos imensos que podem acontecer. Mas eles são poderosos e influentes e repensei. Não valia a pena”, disse ao site.
Em comunicado à imprensa, Punder ainda citou que sua decisão também partiu de uma preocupação com uma “potencial tentativa de interferência em relação aos pilares de independência e imparcialidade nos serviços forenses”.
Anteriormente, a advogada especializada em governança corporativa e investigação privada participou do caso da Teva Pharmaceuticals, investigada nos Estados Unidos por ocorrências de overdose por opióides.
Ao longo de sua carreira, Punder também atuou como gerente senior de compliance e governança da ICTS Protiviti; oficial de compliance da Indra; e diretora de compliance do Grupo ABC Comunicação.
Em outros momentos, passou pela Biogen Idec como diretora de compliance corporativa para a América Latina e pela Baxter como conselheira regional de compliance para a América Latina e Canadá.
Com experiência em grandes empresas, Punder foi gerente legal da Whirpool, coordenadora legal da Unilever Brasil, e conselheira legal sênior de corporação da Itautec.
Até o momento, nenhum substituto à Punder foi nomeado.
BRADESCO X AMERICANAS
No último dia 26, a 2ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) acatou ao pedido do Bradesco por uma auditoria forense, a fim de chegar ao patrimônio pessoal do 3G para identificar uma possível fraude na Americanas e responsabilizar os sócios pelo escândalo contábil que agora soma uma dívida de R$47,9 bilhões com cerca de 8 mil credores.
O principal objetivo é investigar as trocas de mensagens entre diretores, conselheiros, comitês de auditoria e funcionários de contabilidade e finanças da varejista ao longo da última década.
Já nesta quinta-feira, 2, o TJ-SP aprovou o pedido da Americanas para colocar sob sigilo os e-mails dos executivos da companhia apreendidos na ação movida pelo Bradesco.
Quaisquer outros documentos e dados obtidos também serão mantidos sob sigilo.
Adicionalmente, as mensagens também poderão ser compartilhadas com a Comissão Valores Mobiliários (CVM), que hoje investiga o rombo fiscal de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas, divulgado nas primeiras semanas de janeiro.