VERDE

ONG usa Google Cloud para combater garimpos ilegais

Projetos visam preservar a floresta Amazônica com uso de nuvem e de análise geoespacial.

10 de abril de 2023 - 14:16
Surucucu, em Roraima (Foto:Leo Otero/MPI)

Surucucu, em Roraima (Foto:Leo Otero/MPI)

O MapBiomas, uma rede que produz mapas de cobertura e uso da terra, está utilizando a infraestrutura e as soluções do Google Cloud para monitorar atividades de desmatamento e garimpos ilegais na floresta Amazônica.

Em fevereiro deste ano, a organização também passou a utilizar o Google Earth Engine, uma plataforma de análise geoespacial, para monitorar pistas de pouso e práticas ilegais de mineração e garimpo. 

Em dois meses, a ferramenta já identificou mais de 2,8 mil pistas de pouso no estado do Amazonas e mais de 1,5 mil hectares em terras yanomamis com garimpo.

Conforme um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, nos últimos 35 anos, a mineração ilegal em terras indígenas na Amazônia aumentou 1.217%, passando de 7,45 km² para 102,16 km².

Ainda segundo o estudo, quase todo o garimpo ilegal fica em três terras indígenas:  Kayapó, Munduruku e Yanomami.

Nas últimas semanas, a presença de garimpeiros nas terras dos Yanomami virou um assunto nacional por conta da Operação Yanomami, desenvolvida pela Força Aérea Brasileira (FAB). 

Desde de seu início, a operação já destruiu mais de 200 acampamentos de garimpeiros, segundo informa o g1.

Na última quinta-feira, 6, foi desativado um corredor aéreo que havia sido aberto em fevereiro para a saída voluntária dos criminosos da reserva indígena. A estimativa é que mais de 20 mil garimpeiros atuavam na área.

No começo do ano, o Ministério dos Povos Indígenas havia divulgado que 99 crianças Yanomami morreram em decorrência do avanço do garimpo ilegal no ano passado. 

Além disso, ao menos 570 crianças foram mortas pela contaminação por mercúrio, desnutrição e fome. Cerca de 30 meninas estavam grávidas de garimpeiros, vítimas de estupro.

DADOS SOBRE O DESMATAMENTO

Além da nuvem e do Earth Engine, o MapBiomas também utiliza o Looker, plataforma de business intelligence do Google, para capturar e analisar dados relacionados a desmatamento gerados por órgãos públicos. 

Com as ferramentas, a rede criou o MapBiomas Alerta, que permite entender o desmatamento no Brasil. Até o momento, o programa já validou mais de 280 mil alertas de desmatamento, gerando relatórios automaticamente para cada área desmatada.

Deste total, cerca de 190 mil alertas foram feitos na Amazônia, o que representa mais de 3 milhões de hectares de desmatamento.

"Mais importante do que a gente produzir os próprios mapas é gerarmos a capacidade de produzir essas informações que sejam relevantes do ponto de vista local e que possam gerar impactos através das ações dos que usam os mapas", entende Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas.

O projeto foi apresentado para jornalistas em um evento realizado pelo Google na última terça-feira, 4, em Belém do Pará. Outras três iniciativas com as tecnologias da companhia também foram divulgadas.

A lista inclui o Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA), organização que torna informações sobre a biodiversidade brasileira acessíveis; o Onçafari, para conservação de onças-pintadas e lobos-guarás; e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

“Para nós, do Google Cloud, é motivo de grande satisfação perceber que organizações, como ONGs e institutos de pesquisas, se apoiam na nossa nuvem para realizar um importante trabalho de preservação e monitoramento do meio ambiente”, afirma Marco Bravo, head do Google Cloud Brasil.

CONHEÇA OS PROJETOS

O CRIA entrou em uma nova fase em sua parceria com o Google: agora, a organização passará a utilizar computação visual, baseada em Inteligência Artificial (IA), para pré-classificar imagens de espécimes em herbários (coleção de espécimes vegetais desidratados e catalogados) que será validada por uma rede de taxonomistas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (INCT-HVFF). 

O projeto começou no ano passado, quando a instituição migrou para a nuvem com o objetivo de manter seu banco de dados com mais de 16 milhões de registros de espécies on-line, garantindo o acesso a qualquer pesquisador em todo o mundo.

"Com esses novos modelos de IA, esperamos ajudar o CRIA identificar milhões de imagens, como de biodiversidade em áreas desmatadas. O trabalho ajudará pesquisadores com o aumento da quantidade e qualidade de dados disponíveis para suas análises científicas", declara Patrícia Florissi, diretora de tecnologia do Google Cloud.

O Onçafari, por sua vez, está implementando um processo automatizado de identificação de espécies detectadas em vídeos feitos por câmeras com sensores de movimento instaladas na floresta por meio da VertexIA, plataforma de machine learning do Google Cloud.

O próximo passo é implementar um sistema de gestão de ativos digitais para reduzir a triagem manual dos vídeos, realizando a organização, busca e revisão de vídeos por meio do software. 

O último projeto anunciado foi do Imazon, que desde o ano passado conta com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) para ajudar com o mapeamento da Amazônia, a monitoração de estradas oficiais e não oficiais e a atividade de extração de madeiras na região. 

Para isso, o Google Cloud irá doar R$ 750 mil para o desenvolvimento de algoritmos de IA, com o objetivo de automatizar o processo de análise dos alertas de desmatamento.

Além disso, também irá fornecer créditos do Google Cloud gratuitamente para que o IMPA rode os algoritmos de IA na sua infraestrutura de nuvem.

“Como planos para o futuro próximo, estamos trabalhando para aplicar Inteligência Artificial em todos os nossos monitoramentos, com o objetivo de trazer maior nível de precisão e ainda mais velocidade às nossas atividades”, finaliza Carlos Souza, pesquisador do Imazon.