TRABALHO

Por que punir as empresas que valorizam a produtividade?

O Brasil tem uma mentalidade atrasada que transforma empresários em vilões e funcionários improdutivos em vítimas.

22 de setembro de 2025 - 13:49
Paulo Castello (Foto: Divulgação)

Paulo Castello (Foto: Divulgação)

Vamos direto ao ponto: o ambiente de trabalho no Brasil está doente, e não apenas mentalmente, vou além: sofre de uma mentalidade atrasada que transforma empresários em vilões e funcionários improdutivos em vítimas. O caso recente do Itaú é o retrato típico dessa patologia nacional, ao demitir 1% dos seus 100 mil funcionários usando a tecnologia para identificar baixa performance.

Enquanto isso, o elefante na sala que ninguém quer encarar: o Brasil ocupa a vergonhosa 78ª posição entre 131 países em produtividade global. Estamos atrás de Argentina, Chile e Uruguai. Nossa produtividade está estagnada há três décadas, e quando uma empresa ousa fazer algo a respeito, é linchada publicamente. Deixe-me explicar algo que parece óbvio: empresas não são instituições de caridade. Elas existem para gerar valor, lucro e, como consequência, empregos e impostos. No Brasil, essa equação está quebrada. Façamos as contas do dissídio anual:

  • Inflação de 6% = reajuste automático de 6% na folha
  • Mais 3-4% de aumento real negociado pelos sindicatos
  • Total: 9-10% de aumento na folha de pagamento

Sem apelar para a desonestidade intelectual, mas essa pergunta precisa ser respondida com verdade: a produtividade aumentou 10%? As vendas cresceram 10%? O empresário brasileiro acorda todo ano com um custo 10% maior sem contrapartida alguma. É uma bomba-relógio que explode ano após ano. Se não buscar eficiência contínua, não cortar gorduras, não otimizar processos, a empresa sucumbe. E quando ela morre, não são só os 1% que perdem o emprego, são os 100%.

O uso de tecnologias como o task mining para mapear atividades e identificar ineficiências não é "Big Brother". É inteligência operacional básica. É o mínimo que uma empresa precisa fazer para entender a sua força de trabalho em um ambiente hostil como o brasileiro. O Itaú usou softwares de monitoria de computadores, que rastreiam atividade no PC durante seis meses antes das demissões. Inicialmente, planejava demitir o dobro, mas pararam em 1% do quadro. Isso não é espionagem - é gestão baseada em dados.

No Brasil, usar dados para tomar decisões é visto como heresia

E aqui chegamos ao ápice do absurdo: advogados trabalhistas aparecendo em matérias incentivando funcionários demitidos a processar por "danos morais". Como se a empresa tivesse cometido um crime ao identificar que alguém não estava cumprindo sua função. Imaginem o contrário: uma empresa processa um funcionário por pedir demissão. Mas quando é o funcionário improdutivo processando a empresa, vira normalidade. O custo dessa loucura judicializada:

  • Custos de contratação e treinamento
  • Salários e encargos pagos durante o período improdutivo
  • Custos de demissão (aviso prévio, FGTS, multas)
  • Custos com advogados para se defender
  • Custos de recontratação
  • E ainda o risco de condenação por "danos morais"

Empresários com medo de contratar, medo de demitir (medo de justificar o motivo). Medo de exigir produtividade. É a paralisia empresarial institucionalizada. No caso específico do setor financeiro, o monitoramento não é apenas sobre produtividade, é sobre combate à lavagem de dinheiro, prevenção de fraudes, identificação de infiltração do crime organizado. Mas não, preferimos fingir que monitorar é feio, é invasivo. Enquanto isso, o crime organizado agradece nossa ingenuidade.

E tem mais uma praga que ninguém quer admitir: o "quiet quitting" - a nova modinha importada onde o funcionário faz o mínimo possível, mas continua recebendo salário integral. É o "estou aqui, mas não estou" institucionalizado. São os primeiros a gritar "injustiça" quando são identificados pelo monitoramento e demitidos. Nos EUA, onde essa moda começou, pelo menos existe uma cultura de performance que equilibra. Aqui? Combinamos o quiet quitting com estabilidade CLT, proteção sindical e Justiça do Trabalho paternalista. É a tempestade perfeita da improdutividade. 

O lado B do Home Office

A panaceia moderna, o sonho dourado do trabalhador brasileiro. Todos falam das maravilhas: flexibilidade, conforto, economia de tempo. Ninguém fala da realidade brutal: é um desastre para a maioria das empresas e funcionários. O home office funciona para uma minoria: profissionais sêniores, autodisciplinados, com espaço adequado em casa e em funções que realmente permitem trabalho remoto. Para a massa? É uma receita para improdutividade institucionalizada.

Mas tentem falar isso publicamente. Serão crucificados como retrógrados, dinossauros corporativos. Enquanto isso, a produtividade despenca, a inovação estagna, e todos fingem que está tudo bem porque "work-life balance" virou religião. Até que a empresa quebra e tem que demitir 100%.E o pior: quando empresas como o Itaú usam tecnologia para monitorar quem realmente está trabalhando, são demonizadas. Oras, se o funcionário está trabalhando direito, qual o problema do monitoramento? O problema só existe para quem quer ganhar salário sem trabalhar. Para quem quer ficar “escondido”.

E como se não bastasse todos esses desafios, a IA generativa está chegando com força total. Ela vai automatizar funções, otimizar processos e, sim, eliminar postos de trabalho redundantes. Quem não se adaptar vai ser atropelado pela história. Mas no Brasil, em vez de nos prepararmos para essa revolução, estamos discutindo se é "justo" demitir 1% de funcionários improdutivos. É como discutir a cor do Titanic enquanto ele afunda.

O Brasil precisa urgentemente de uma mudança cultural profunda. Precisamos parar de demonizar empresários e começar a celebrá-los. Em vez disso, cultivamos uma mentalidade de funcionalismo público, onde a estabilidade é mais valorizada que produtividade, em que os direitos são mais importantes que deveres, onde o Estado é visto como pai e mãe de todos. O Brasil está numa encruzilhada. Podemos continuar com essa mentalidade retrógrada, demonizando a busca por eficiência, protegendo a improdutividade, transformando empresários em inimigos públicos. O resultado será previsível: continuaremos na rabeira do mundo, vendo outros países nos ultrapassarem enquanto discutimos o sexo dos anjos.

Ou podemos acordar. Reconhecer que eficiência não é crueldade, é necessidade. Que monitoramento não é opressão, é gestão inteligente. Que demissão por performance não é injustiça, é meritocracia. Enquanto continuarmos tratando empresas como vilãs por buscar produtividade, enquanto advogados continuam incentivando a judicialização de demissões legítimas, o Brasil continuará sendo exatamente o que é: um gigante adormecido, preso em seu próprio atraso, assistindo o mundo passar. E o relógio está correndo. Um país que honra seus cidadãos, precisa ensinar a sua população que só se cresce e vence na vida trabalhando muito duro.

*Por Paulo Castello, CEO e fundador da Fhinck.