
Digite sua senha para confirmar a operação. Foto: https://www.flickr.com/photos/catatronic
A SAP está passando suas soluções voltadas para bancos e seguradoras para a Dediq, um fundo de investimento sediado em Munique, na Alemanha, visando criar uma nova empresa independente focada no segmento.
A Dediq vai investir € 500 milhões no novo negócio, no qual a SAP terá uma participação de 20% em troca da propriedade intelectual das suas soluções para o segmento.
O negócio também vai licenciar a plataforma de cloud computing da SAP e o banco de dados em memória Hana. A nova empresa, que ainda não teve o nome divulgado, usará também a marca SAP.
A expectativa é que a operação comece para valer em janeiro de 2022, abrigando algumas centenas de funcionários da SAP, ou, como a multinacional alemã informou em coletiva de imprensa na semana passada, de um “número de três dígitos alto”, o que deve querer dizer algo entre 700 e 999 profissionais.
Seguindo a linha misteriosa, a SAP disse também que a joint venture deve uma receita de um “número de três dígitos alto na casa dos milhões de euros”.
A combinação da decisão de não atuar mais diretamente na vertical com os planos de investimento da Dediq permitem a esse repórter supor que atualmente a receita é um número baixo de três dígitos.
É importante frisar que os clientes da SAP em bancos e seguradoras que usem outras soluções não específicas da indústria financeira seguirão sendo clientes da SAP.
A Dediq (uma sigla para Dedicated Entrepreneurs with Digital IQ) tem oito anos de atuação, um portfólio de sete empresas e não é uma novata no mundo SAP. Uma das companhias é a Convista, uma consultoria SAP. Uma segunda, a Senacor, atua com serviços TI.
"Serviços financeiros são uma indústria chave para a SAP e nós estamos reforçando nosso comprometimento com esse mercado", disse o CEO da SAP, Christian Klein, no que poderia ser interpretado como uma tentativa de dourar um pouco a pílula.
A SAP está presente em 25 verticais diferentes e a verdade é que bancos nunca foi uma das mais expressivas, ainda que a multinacional alemã tenha feito seus esforços para mudar isso.
Pelo menos no Brasil, entre 2011 e 2016, a SAP se mexeu bastante para ganhar penetração no segmento financeiro, patrocinando por exemplo o CIAB, um dos maiores eventos do setor e convidando jornalistas com frequência para falar sobre o tema.
A empresa inclusive fechou alguns contratos, com organizações de menor porte como o banco cooperativado Unicred; o BRDE, banco regional da região Sul controlado pelos governos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e o Banco Intermedium S.A, instituição financeira mineira com atuação em ramos como crédito imobiliário.
Nos grandes bancos, a SAP comeu pelas beiradas, com contratos como um projeto de big data usando Hana no Itaú em 2016, e a implementação do Ariba para gestão de compras no mesmo Itaú em 2017.
A grande exceção à regra foi um contrato de implementação do sistema de gestão fechado pela Capgemini na Caixa Econômica Federal em 2013, no valor de R$ 518 milhões (vale lembrar que naquela época o dólar girava ao redor de R$ 2).
Mas esse projeto envolvia a compra por parte da Caixa de 22% da CPM Braxis, empresa brasileira adquirida pela Capgemini, o que gerou um grande rolo cujos desdobramentos ainda estavam rolando na semana passada.
No meio tempo, o setor bancário mudou muito, com o surgimento de toda a onda de fintechs que hoje dão a tônica no mercado. Novos fornecedores atendem essas novas empresas, que apostam em desenvolvimento ágil e computação em nuvem.
Cada vez mais, os grandes bancos estão adotando o novo paradigma, como mostra o contrato de 10 anos assinado pelo Itaú com a AWS, que provavelmente move sozinho valores com os quais a SAP nunca sonhou no segmento.
A joint venture com a Dediq é provavelmente uma adaptação a esse novo cenário.