NEGÓCIOS

Nubank e Magalu mostram o valor da cultura para escalar negócios

Em um ambiente colaborativo, aberto e orientado a resultados, ferramentas digitais viram aceleradores.

20 de agosto de 2025 - 11:30
Ana Paula Debiazi (Foto: Divulgação)

Ana Paula Debiazi (Foto: Divulgação)

No imaginário de muitos empreendedores, escalar um negócio é quase sinônimo de investir em recursos tecnológicos modernos, ou seja, sistemas mais ágeis, automação de processos, plataformas digitais e inteligência artificial (IA). E, de fato, tudo isso é indispensável para ganhar eficiência, ampliar alcance e reduzir custos.

Mas as empresas não são apenas processos e máquinas, são feitas de pessoas, valores e comportamentos que definem como as soluções serão usadas e como as estratégias serão executadas. Quando a tecnologia avança, mas a cultura não acompanha, o resultado é uma operação sofisticada na aparência, mas ineficaz na prática. É justamente a combinação equilibrada entre as duas abordagens que torna cases como Nubank e Magalu referências de crescimento.

O Nubank é um exemplo claro disso, com uma cultura centrada no cliente e tecnologia escalável. O banco digital cresceu com base em forte autonomia, experimentação e foco no usuário.

O uso de ferramentas tecnológicas de ponta com plataforma própria, análise de dados em tempo real, UX simplificado foi potencializado pelo mindset de resolver dores reais, gerando alta fidelização e crescimento exponencial.

O Magazine Luiza também ilustra bem a transformação digital guiada por propósito. O Magalu integrou e-commerce, lojas físicas e logística com tecnologia robusta, mas o diferencial foi a cultura aberta à inovação.

Equipes foram treinadas para operar no modelo omnichannel e a liderança manteve clareza de propósito: democratizar o acesso ao varejo digital. O resultado foi um salto de receita e participação de mercado.

A tecnologia fornece meios para escalar, com sistemas de gestão integrados, automação de marketing, plataformas de e-commerce, ERPs, CRMs e IA. Já a cultura fornece o código invisível que determina como as pessoas lidam com mudanças, abertura para aprender e testar novas ferramentas, postura em relação à colaboração, transparência/autonomia e alinhamento entre propósito/execução.

Em um ambiente colaborativo, aberto e orientado a resultados, ferramentas digitais viram aceleradores. Já em um local resistente, hierárquico e avesso à mudança, elas viram apenas custos.

Muitas empresas investem milhões em sistemas integrados, mas esbarram na baixa adoção porque não alinham processos antes da digitalização, deixam de treinar as equipes para o novo fluxo e não constroem um ambiente de confiança e comunicação para lidar com mudanças.

O sistema, por mais avançado, acaba subutilizado ou até abandonado. Além disso, negócios que atraem investimentos para acelerar com recursos digitais, mas ignoram problemas de liderança, comunicação e propósito, veem talentos-chave saírem rapidamente, e isso compromete a execução e gera instabilidade.

Outro ponto importante é que, mesmo hoje, com todos os avanços tecnológicos, muitas empresas ainda sofrem com excesso de trabalhos manuais, uso de planilhas desconectadas e retrabalho. Dados isolados e falta de integração entre áreas dificultam decisões rápidas, que, muitas vezes, são tomadas com base no feeling em vez de informações concretas.

Há também desperdício de tempo em atividades repetitivas que poderiam ser automatizadas. Todos esses desafios estão ligados à resistência cultural à mudança, com funcionários e gestores que enxergam as tecnologias como ameaças, e não como ferramentas.

Escalar um negócio não é apenas questão de instalar sistemas ou contratar softwares sofisticados. A verdadeira transformação acontece quando os recursos digitais são absorvidos em um ambiente que valoriza aprendizado, colaboração e foco no cliente.

No fim das contas, empresas que crescem de forma sustentável não escolhem entre um ou outro, elas investem, igualmente, nos dois. A tecnologia é o motor e a cultura é o combustível que garante que ele funcione a pleno potencial.

*Por Ana Paula Debiazi, CEO da Leonora Ventures.