PERFIL

5 competências-chave para CTOs em 2026

O CTO não pode apenas gerenciar: ele deve imaginar, antecipar e liderar.

19 de novembro de 2025 - 12:52
Tony Tascino (Foto: Divulgação)

Tony Tascino (Foto: Divulgação)

O papel do Chief Technology Officer nunca foi tão relevante e, ao mesmo tempo, tão difícil de definir. Durante anos, o CTO foi o “guardião” da tecnologia: aquele que garantia que os sistemas funcionassem, que as plataformas fossem seguras e que o código permanecesse sob controle. Hoje, esse mundo mudou para sempre.

Vivemos em uma era em que a tecnologia não é mais apenas um suporte, mas a própria matéria-prima da vantagem competitiva. A cada mês surge um novo modelo de inteligência artificial, novas tecnologias aparecem e cada empresa precisa compreender se essas inovações geram valor real ou apenas ruído. Nesse cenário, o CTO 2026 não pode apenas gerenciar: ele deve imaginar, antecipar e liderar.

Não se trata mais de saber “como uma tecnologia funciona”, mas de entender “para onde ela pode nos levar”. Para isso, são necessárias cinco competências que diferenciam os líderes que surfam a onda da mudança daqueles que são arrastados por ela. 

Cultivar uma visão exponencial 

O CTO 2026 enxerga a tecnologia como um multiplicador de valor, e não apenas como suporte operacional. Ele entende o impacto da IA, das APIs, dos dados abertos e das plataformas orientadas a ecossistemas, e reconhece que o futuro será construído por ecossistemas interconectados, não por estruturas isoladas.

Essa é a competência que distingue o bom CTO do líder visionário: a capacidade de enxergar além do horizonte. Diante da velocidade das transformações, o CTO do futuro precisa ser um explorador constante, curioso, conectado e atento aos pontos em que tecnologia, cultura e novos modelos de valor se encontram.

Cultivar uma visão exponencial significa ir além de seguir tendências; é antecipar o que ainda não tem nome, compreender como diferentes movimentos de inovação se cruzam e transformar essas conexões em oportunidades reais de crescimento.

Ser um líder exponencial é manter viva a curiosidade, aprender todos os dias e enxergar a tecnologia não como uma ferramenta, mas como uma força transformadora capaz de redefinir o futuro da organização. 

Unir pessoas e inteligências

A segunda competência diz respeito à forma de liderar equipes híbridas. Em 2026, muitos processos empresariais serão compartilhados entre pessoas e agentes digitais: assistentes, sistemas preditivos e plataformas que aprendem e agem de forma autônoma. Isso não significa substituir o trabalho humano, mas expandi-lo.

O CTO precisará construir uma nova cultura de colaboração, na qual a tecnologia não seja vista como ameaça, mas como aliada do crescimento. Deverá ajudar as equipes a usar a IA como instrumento de amplificação do potencial humano e não de alienação. 

Liderar pessoas em um contexto de constante evolução exigirá empatia, clareza de propósito, visão e uma grande capacidade de inspirar. Afinal, o verdadeiro progresso tecnológico é sempre aquele que eleva as pessoas. 

Pensar como uma plataforma 

O terceiro pilar do novo CTO é a mentalidade de plataforma. Significa pensar na empresa não como um conjunto de departamentos, mas como um organismo conectado, capaz de se adaptar, compartilhar informações e crescer de forma coordenada.

Nessa lógica, cada decisão, cada processo e cada dado se tornam parte de um ecossistema maior. O CTO deve aprender a enxergar as fronteiras da empresa como linhas móveis, onde clientes, parceiros e colaboradores externos criam valor. Ser uma ‘plataforma’ não significa apenas adotar novas tecnologias: significa mudar a mentalidade, aceitando que a verdadeira inovação nasce nas bordas, onde a empresa se abre para o mundo. Um ecossistema bem orquestrado se torna uma fonte inesgotável de novas ideias e colaborações. 

Criar um sistema que evolui sozinho 

A quarta competência está ligada à capacidade de manter a inovação viva ao longo do tempo. Não basta lançar novos projetos ou testar protótipos: é preciso construir um sistema capaz de melhorar continuamente, aprendendo a cada passo.

As organizações mais evoluídas estão passando de uma lógica de controle para uma lógica de adaptação. As regras deixam de ser impostas de cima para baixo e passam a se atualizar conforme a realidade muda. É uma forma de governança viva, na qual os princípios são claros, mas os mecanismos se ajustam em tempo real.

O CTO 2026 será o arquiteto dessa evolução: um líder que desenha organizações que aprendem sozinhas, capazes de corrigir erros, automatizar o que é repetitivo e liberar energia criativa para o que realmente importa. Em um mundo em constante movimento, a estabilidade não vem da rigidez, mas da capacidade de adaptação. 

Construir confiança na inteligência artificial 

A quinta competência do novo CTO é a capacidade de criar confiança em torno da inteligência artificial. Após a euforia inicial, as empresas perceberam que não basta integrar a IA aos processos: é preciso compreender se o que a máquina produz é justo, seguro e coerente com os valores da organização. 

O CTO do futuro será o guardião dessa confiança. Ele não apenas verificará a qualidade dos modelos, mas definirá os princípios que guiarão seu uso: transparência, ética, segurança e impacto. É um equilíbrio delicado de inovar sem perder o controle, avançar sem comprometer os próprios valores. 

Em um mundo cada vez mais guiado por decisões automatizadas, o líder tecnológico será avaliado não apenas pelo que cria, mas pelo quanto sua tecnologia é digna de confiança. 

Do técnico ao transformador 

O CTO 2026 deixará de ser apenas um especialista em tecnologia para se tornar um transformador de realidades. Um líder capaz de inspirar confiança, unir pessoas e inteligências, criar organizações conectadas e adaptáveis e olhar além do horizonte.

Sua força estará em ver primeiro e transformar essa visão em impacto real. A tecnologia é o idioma do futuro. Cabe ao CTO traduzi-la em valor antes que se torne invisível. 

*Por Tony Tascino, executivo C-Level nas áreas de tecnologia e inovação, com atuação em transformação digital, estratégia de negócios e liderança de times técnicos, comerciais, produtos e marketing. Ocupou cargos como CTO, CPO, CDO e VP, sendo responsável por operações de alto desempenho e crescimento acelerado. Foi um dos líderes da implantação da Engineering no Brasil e participou de projetos internacionais nas frentes de plataformas digitais, cloud, marketplace e data & AI-driven entre outros.