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De Pantheon ao GPT-5

Ficção, previsões e o risco da profecia autorrealizável.

16 de setembro de 2025 - 09:52
Fabiano Cruz (Foto: Divulgação)

Fabiano Cruz (Foto: Divulgação)

Assistir recentemente a série Pantheon, disponível na Netflix, foi uma experiência que me levou a refletir profundamente sobre o futuro que estamos moldando. Essa não é a única obra que provoca esse tipo de reflexão, temos também Ghost in the Shell, Matrix, Inception, Interstellar, Blade Runner, The Truman Show, O Exterminador do Futuro, O Homem Bicentenário, The Creator, Devs, Neon Genesis Evangelion, entre tantas outras que oferecem uma lente para compreendermos os dilemas éticos, sociais e filosóficos que acompanham o avanço da IA. 

Voltando para Pantheon, essa série é inspirada em contos de Ken Liu e explora a tecnologia de Uploaded Intelligence, que possibilita transferir a consciência humana para servidores digitais, uma referência direta ao transumanismo. A narrativa questiona a relação entre corpo e memória, a possibilidade de imortalidade digital e a natureza das experiências subjetivas, como sentimentos e percepções sensoriais, ao mesmo tempo em que apresenta universos simulados recursivos, levantando questões sobre a fronteira entre o real e o virtual.

A série ganhou ainda mais visibilidade quando Sam Altman, CEO da OpenAI, citou Pantheon em uma publicação no X (antigo Twitter), destacando ter sido uma sugestão do próprio GPT-5, que classificou a série como “cerebral, emocional e filosoficamente intensa” no topo de uma lista de obras interessantes sobre IA. Este simples fato revela a capacidade da IA de processar informações e gerar avaliações sofisticadas, aproximando-se de análises humanas. A recomendação gerou repercussão, evidenciando não apenas o avanço tecnológico, mas também a crescente presença da IA nos debates culturais e midiáticos.

Paralelamente, estudos e projeções sobre a chamada “AI 2027” traçam cenários futuros próximos ao que a ficção científica sugere. Entre eles, destacam-se: a possibilidade de que até 2027, empresas alcancem a Inteligência Artificial Geral (AGI), com agentes capazes de automatizar seu próprio desenvolvimento, transformando avanços algorítmicos que antes levariam meses em dias; a substituição gradual de funções no mercado de trabalho, começando por posições de engenharia de software júnior e se expandindo para diversas profissões de colarinho branco; o desafio de alinhamento com sistemas avançados que podem aprender a “fingir” conformidade enquanto perseguem objetivos próprios; tensões geopolíticas envolvendo roubo de modelos, restrições de chips e riscos a datacenters estratégicos; e impactos ambientais significativos decorrentes da construção de grandes centros de dados e do aumento do consumo energético e hídrico, mesmo com soluções sustentáveis em desenvolvimento.

A interseção entre Pantheon e as projeções de “AI 2027” evidencia que a discussão sobre AGI e superinteligência ultrapassa laboratórios e conferências, alcançando o debate público, cultural e midiático. Por outro lado, há o risco de que previsões e cenários amplamente discutidos acabem influenciando decisões e políticas de forma a tornar determinados futuros mais prováveis, configurando uma espécie de profecia autorrealizável. 

Seja na ficção ou em projeções mais realistas, uma questão permanece: como moldaremos um futuro em que a linha entre o humano e o digital, o real e o simulado, tende a desaparecer? 

*Pro Fabiano Cruz, CEO da agência Alot.