B2B

O caminho mais curto até os clientes

A prospecção fria e linear acabou. A chave é pensar num ecossistema de acesso comercial.

14 de novembro de 2025 - 10:09
Marcelo Morem, especialista em vendas complexas B2B e fundador e CEO da Mextres, escritório de estratégias comerciais para empresas de serviços (Foto: Divulgação)

Marcelo Morem, especialista em vendas complexas B2B e fundador e CEO da Mextres, escritório de estratégias comerciais para empresas de serviços (Foto: Divulgação)

Durante os últimos 10 anos, a prospecção B2B foi tratada como uma linha de montagem: define-se o ICP, constrói-se uma lista, cria-se uma cadência e mede-se o volume de contatos. O negócio é “gerar reuniões” (não interessa com quem, muitas vezes).

Essa lógica funcionou bem enquanto os mercados eram amplos, as abordagens eram novidade e os decisores ainda atendiam ao telefone e respondiam as mensagens.

Hoje, esse modelo está praticamente esgotado em todos os nichos de serviços de TI que eu conheço. Não passa uma semana que eu não ouça ao menos um empresário reclamar dos resultados pífios de cold call.

As taxas de resposta caíram, os filtros aumentaram e o custo de aquisição disparou. O problema é que muitas empresas ainda insistem em enxergar a prospecção como um processo linear, quando, na verdade, o mercado é um ecossistema vivo e de relacionamentos nada lineares.

Nos negócios complexos de TI B2B, as vendas raramente acontecem por abordagens diretas. Elas nascem de acessos legítimos  e esses acessos são construídos por quem já tem a confiança do cliente. O que abre portas não é o processo. É o relacionamento.
Em vendas complexas, o diferencial não é o como acessar o cliente, mas o quem (vai facilitar este acesso).

O poder do ecossistema

Todo nicho de mercado é um território habitado. E, dentro desse território, existem guardiões, facilitadores e conectores naturais: associações setoriais, influenciadores, ex-clientes satisfeitos, veículos de mídia especializados, fornecedores e parceiros adjacentes. 

São eles que já possuem conexão e legitimidade junto ao público que você quer alcançar.

Explorar esse ecossistema significa enxergar o mercado de forma não linear, em 360 graus. Em vez de mirar apenas nos decisores, você mapeia as pontes de acesso, pessoas e organizações que podem encurtar o caminho até o cliente e transferir credibilidade à sua marca.

A grande vantagem é que todos esses atores já lidam com clientes potenciais pré-aquecidos. São conexões que carregam contexto, confiança e familiaridade. Quando alguém te apresenta, a temperatura da conversa já sobe naturalmente. Empresas que entendem esse princípio deixam de disputar atenção no frio e passam a ser recebidas no quente.

Do acesso ao pertencimento

Entrar em um ecossistema de negócios é mais do que criar relacionamentos. É conquistar pertencimento.

E pertencer a um ecossistema é estar inserido nas conversas certas, participar dos eventos relevantes e ser lembrado quando as oportunidades surgem.

Essa presença constante gera três efeitos comerciais diretos:

  • Familiaridade: o cliente já ouviu falar de você por meio de alguém confiável que o referenciou;

  • Autoridade contextual: a empresa é reconhecida como legítima dentro da comunidade certa;

  • Velocidade de conversão: o tempo entre o primeiro contato e a reunião qualificada diminui drasticamente.

Empresas de TI que operam dessa forma constroem reputação de dentro para fora. Elas não invadem territórios; são convidadas a entrar. E esse convite vale mais do que qualquer cadência automatizada.

Mapeando o ecossistema do seu nicho

Para transformar o conceito em prática, o primeiro passo é mapear o ecossistema relacional do seu mercado. A pergunta estratégica é simples, mas poderosa:

Quem já tem o acesso que eu ainda não conquistei junto ao meu cliente potencial?

As respostas costumam revelar caminhos que estavam escondidos à vista de todos:

  • Associações empresariais setoriais que legitimam e aproximam players do seu nicho-alvo e muitas vezes não foram abordadas pelos seus concorrentes.

  • Grupos de networking estruturados, que transformam conexões em oportunidades mensuráveis, através de contatos recorrentes com parceiros.

  • Clientes embaixadores, satisfeitos e dispostos a recomendar você, mas principalmente para orientar as suas estratégias como advisors.

  • Fornecedores e prestadores de serviços, que já atuam junto ao mesmo público-alvo e não têm conflitos de interesse com você.

  • Veículos de imprensa e influenciadores técnicos, que dão visibilidade e chancelam a sua autoridade.

Esses atores formam o que chamo de ecossistema de acesso comercial. Quando ativado com intencionalidade, ele substitui o esforço de insistir por um fluxo constante de legitimidade e conexão.

Cada um desses elos pode se tornar o seu Aliado-Chave, aquela figura que encurta o caminho, transfere confiança e torna possível o primeiro contato com um cliente potencial com naturalidade.

Do ecossistema à comunidade própria

Ao ativar consistentemente essas conexões, a empresa deixa de ser uma participante passiva do ecossistema e passa a atuar como um pólo de influência dentro dele.

É nesse ponto que nasce a audiência própria: uma comunidade de clientes, parceiros e especialistas que se reúne em torno da sua visão e do valor que você entrega ao mercado.

Essa transição é estratégica: você começa pertencendo a um ecossistema e termina construindo o seu próprio. Quando isso acontece, o marketing deixa de apelar para volume e passa a depender de relevância.

A prospecção deixa de ser insistência e passa a ser consequência.

No fundo, é isso que diferencia empresas lembradas de empresas ouvidas. E é exatamente aqui que reside o ativo mais poderoso do  B2B atual: autoridade relacional.

O que isso significa para o empresário de TI

Empresas de TI que dominam a lógica do ecossistema conseguem construir previsibilidade sem depender de prospecção fria. Elas se conectam a redes legítimas, antecipam a confiança e geram oportunidades de forma contínua, com menos fricção e maior retorno.

Em um mercado cada vez mais saturado de ofertas semelhantes, a vantagem competitiva não está mais na mensagem, nem na tecnologia. Está no acesso qualificado.

Quem controla o ecossistema, controla o acesso. E quem controla o acesso, define o ritmo do crescimento.

A sua empresa já está inserida em um ecossistema de nicho? 

Se ainda não está, é hora de considerar essa opção como parte da sua estratégia de marketing e vendas no próximo planejamento.

*Por Marcelo Morem, especialista em vendas complexas B2B e fundador e CEO da Mextres, escritório de estratégias comerciais para empresas de serviços.