Rodrigo Silva (Foto: Divulgação)
Segundo as projeções da United Nations (ONU), a população mundial alcançará aproximadamente 10,3 bilhões de pessoas em meados dos anos 2080.
Esse dado por si só impõe um enorme desafio para a segurança alimentar global, para o uso de recursos naturais e para o funcionamento eficiente do sistema de produção de alimentos. No cerne desse cenário está o papel da inteligência artificial, que desponta como o insumo estratégico transformador para o agronegócio.
Ao imaginar um mundo com mais de dez bilhões de habitantes, torna-se evidente que “fazer mais com os mesmos recursos” não será mais suficiente: será preciso fazer diferente. A produção agrícola e pecuária deverá atender a demandas maiores, com menor desperdício, menor impacto ambiental e maior resiliência. Nesse contexto, o agronegócio, no qual o Brasil ocupa posição de destaque encontra na inteligência artificial (IA) uma das principais alavancas de inovação.
A adoção de IA no campo já é realidade: estudos brasileiros identificaram que tecnologias de IA e aprendizado de máquina (ML) estão sendo aplicadas em monitoramento de lavouras, verificação da qualidade do solo, automação da irrigação, drones, sensores e análise de dados para apoiar decisões estratégicas. Em outras palavras, o insumo “inteligência”, isto é, algoritmos + dados + sensores passa a se comportar como novo capital de produção, ao lado de terra, trabalho e máquina.
Por que a IA será central para o agronegócio nas próximos décadas?
Crescimento populacional e necessidade de produtividade: Com 10,3 bilhões de pessoas projetadas, haverá pressão para produzir mais alimentos, fibras e bioprodutos. A produtividade unitária deve subir, e isso exige precisão, antecipação e otimização, tarefas em que IA tem vantagem.
Recursos finitos e sustentabilidade: Solo, água, biodiversidade e clima são restritos. Para que se produza mais sem degradar mais, é preciso usar insumos (fertilizantes, defensivos, água) de forma inteligente. IA permite análises em tempo real, previsão de riscos, aplicação localizada e redução de desperdício.
Variabilidade climática e risco: Em um mundo que já apresenta variabilidade maior de clima, tecnologias de IA ajudam no monitoramento contínuo, previsão de eventos extremos, adaptação de práticas agrícolas e mitigação de perdas.
Complexidade operacional crescente: Lavouras maiores, cadeias logísticas mais longas, novos mercados e exigências regulatórias requerem sistemas de suporte de decisão, a IA entra como “cérebro” que conecta sensores, máquinas, dados e pessoas.
Nova etapa de agronegócio – digitalização e automação: A chamada “Agricultura 4.0” ou “Agro inteligente” integra máquinas autônomas, robótica, drones, monitoramento em tempo real e algoritmos de IA. Um estudo recente destaca que, no Brasil, essas tecnologias permitem otimizar operações agrícolas, reduzir custos e aumentar a qualidade dos produtos.
Desafios que acompanham essa transformação
Contudo, não basta apenas adotar IA: é preciso superar barreiras significativas. Documentos apontam que no agronegócio brasileiro ainda se enfrenta dificuldades com infraestrutura digital (conectividade em áreas rurais), capacitação de pessoas, resistência à adoção de tecnologias e custos iniciais elevados. Além disso, a governança de dados, a interoperabilidade das máquinas e os modelos de negócio precisam se adaptar para tornar a IA verdadeiramente escalável e acessível ao produtor médio.
Também há foco ético e de sustentabilidade: IA aplicada de forma errada pode exacerbar desigualdades, gerar dependência tecnológica ou levar a uso excessivo de insumos se não for bem calibrada. Por isso, a adoção responsável dessas tecnologias é um elemento fundamental para que o agronegócio contribua de fato para um planeta mais próspero e sustentável.
Cenários para o Brasil e para o mundo
No Brasil, país de grande extensão, clima diverso e forte posição no comércio agrícola global, a combinação entre solo de qualidade, escala de produção e inovação tecnológica oferece vantagem competitiva. Se o país abraçar a IA como insumo estratégico, poderá não apenas atender à demanda interna crescente, mas também elevar sua participação no abastecimento mundial.
No âmbito global, os sistemas agrícolas que incorporarem IA terão capacidade de responder melhor às exigências híbridas de produtividade e sustentabilidade: rastreabilidade de alimentos, menor emissão de gases de efeito estufa, cumprimento de normas ambientais internacionais e adaptação a cenários de menor disponibilidade de terra ou água.
Em resumo: o mundo se encaminha para uma marca de 10,3 bilhões de pessoas e nesse contexto a inteligência artificial emerge como insumo-chave para o agronegócio. Não se trata apenas de mais máquinas ou mais insumos tradicionais, mas de tornar todo o processo mais inteligente: desde a semente ao consumidor. Plantar, irrigar, fertilizar, colher, transportar e comercializar tudo isso deverá contar com sensores, dados, algoritmos e decisões bem informadas. Quem hoje embarcar nessa transformação estará mais bem preparado para os desafios do amanhã e para transformar o campo de mera produção em plataforma de inovação, produtividade e sustentabilidade.
*Por Rodrigo Silva, executivo de tecnologia, apaixonado pelo desenvolvimento de pessoas e organizações. É autor de diversos livros sobre IA, governança e inovação, além de palestrante em eventos nacionais e internacionais. Acumula experiência em grandes programas de modernização tecnológica, construção de data lakes, low-code/AI builders, service desk inteligente e arquitetura corporativa. Também atua como conselheiro, mentor e líder em comunidades de tecnologia.