GOVERNANÇA

Privacidade e soberania digital são os dilemas estratégicos

Tokenização pode ser uma resposta pragmática para o problema.

13 de outubro de 2025 - 10:32
Vagner Oliveira (Foto: Divulgação)

Vagner Oliveira (Foto: Divulgação)

Nos últimos anos, a discussão sobre privacidade e proteção de dados deixou de ser restrita a especialistas em tecnologia para ocupar espaço nas agendas de governos, conselhos de administração e fóruns internacionais. Mais do que uma tendência técnica, a proteção de dados tornou-se uma demanda da sociedade, refletindo preocupações crescentes com o uso, o controle e a circulação de informações pessoais e corporativas em escala global. 

Nesse contexto, o conceito de soberania digital ganha destaque, não como um ideal político, mas como parte do esforço para garantir que a privacidade e a segurança dos dados sejam preservadas de forma ética e coerente. A concentração de infraestruturas críticas e fluxos de dados sob o domínio de poucas nações ou corporações é uma realidade do cenário tecnológico atual — e lidar com ela exige mais pragmatismo do que oposição. O desafio, portanto, está em construir mecanismos de confiança e governança que assegurem a integridade e o uso responsável das informações, independentemente de onde estejam armazenadas. 

Entre as soluções disponíveis, a tokenização se destaca. Essa tecnologia substitui informações sensíveis por identificadores únicos, reduzindo vulnerabilidades e ampliando o controle sobre os fluxos de dados. Mais do que uma camada técnica, ela representa uma forma concreta de fortalecer a privacidade e minimizar riscos, sem comprometer a interoperabilidade global. 

Outro elemento essencial nesse debate é o blockchain, que introduz um modelo descentralizado de confiança. Em vez de depender de um único ator ou infraestrutura, empresas e governos podem operar em redes transparentes e auditáveis, o que reforça a segurança e a rastreabilidade das transações digitais. Essas tecnologias, quando aplicadas de maneira ética e bem regulada, ajudam a equilibrar eficiência e autonomia, evitando tanto o isolamento digital quanto a dependência excessiva de terceiros. 

Ao projetar a próxima década, analistas do Gartner CIO & IT Executive destacaram que blockchain e tokenização não devem ser entendidas apenas como tendências tecnológicas, mas como componentes estruturais de uma nova economia digital baseada em confiança e responsabilidade. O futuro da privacidade dependerá menos da localização física dos dados e mais da capacidade coletiva de garantir sua segurança, transparência e uso ético.

O debate sobre proteção de dados extrapolou os departamentos de tecnologia e tornou-se central nas estratégias corporativas e de governança. A verdadeira independência digital não está na geolocalização da infraestrutura, mas na maturidade com que organizações e sociedades tratam a privacidade como um princípio. Em um mundo cada vez mais conectado e interdependente, preservar a confiança nos dados será não apenas um requisito técnico, mas um compromisso ético essencial para o equilíbrio global. 

*Por Vagner Oliveira, COO da Outsera.